Namorados pela internet precisam ter o coração na ponta dos dedos

Por

Juliano Nery 8/7/2011

Coração na ponta dos dedos

Desdobrando o assunto iniciado na última semana, quando tratei dos avanços tecnológicos dos últimos anos e a reconfiguração das relações sociais, a partir da web, recebi um simpático e-mail do amigo Valter França, solicitando que tratasse dos namoros à distância. Ele quer saber minha opinião sobre os relacionamentos iniciados ou mantidos nas redes sociais. Refletindo, durante a semana, sobre a temática, o que posso dizer ao nobre companheiro é que, para encarar esse tipo de namoro, há que se colocar o coração na ponta dos dedos, enquanto digita o teclado... Articular a vida de duas pessoas em prol de objetivos comuns já é difícil. Imagine, então, quando as barreiras físicas não colaboram... Enfim, pode virar um verdadeiro drama!

É legal saber que ela andou pela Ponte do Brooklyn, embora você não estivesse lá. Assim como ela ficou feliz em saber que você anda se hospedando em hotéis que tem sousplat para descansar os pratos do café da manhã. Mas, ela também não pode ir... Fazer o quê?! Foi a mesma coisa, quando você só pode chegar no baile de formatura, mas não conseguiu chegar para a colação de grau. Também, ela não foi no seu aniversário de 27 anos. Estavam todos os seus amigos, exceto ela. Epa! — No aniversário de 27 anos, ela não podia ter faltado. Era fim de semana. Ela podia ter vindo... Agora, ela vai ver se eu vou aparecer no próximo feriado. E vou ser bem frio lá na webcam...

Pra começar, já foi complicado. Pode ter sido naquele show do Rolling Stones, lá na praia de Copacabana, em que foi o país inteiro prestigiar. Ela era de Manaus, você de Pindamonhangaba. Culpa do coração que faz estas coisas. Daí, depois da empatia e de umas beijocas, você chegou triunfante aos amigos, beijando um guardanapo com o MSN, o número do celular e do skype. Adicionou no Orkut, no Facebook, seguiu no Twitter. Claro que deu umas cutucadas. O coração na ponta dos dedos, digitando freneticamente, um sentimento que movia o coração. Mas, a recompensa física ficou difícil, já que a quilometragem e os compromissos diários foram taxativos... E ela faltou no aniversário de 27 anos. E olha que tinha até promoção da companhia aérea. Como pode?

E se quiser terminar, não será lá muito fácil, também. Pensa que é legal terminar com os outros por telefone, e-mail, chat ou coisa parecida? Como esperar até a pessoa aparecer para passar o recado? Se ela vier visitar, fica complicado, já que ela vai se abalar do longínquo ponto onde mora, até aqui, só para tomar um passa fora. Ir até lá, somente pra isso, torna-se um martírio, uma vez que o encontro não faz mais sentido. Uma sinuca e tanto, essa de amar e "desamar" pelo mundo virtual...

Mas, tem a parte boa. Esse lance de ver todo dia, também, enjoa. E você quase não corre o risco de ver o amor da sua vida, usando uma camiseta promocional, abadá fora de época. Tem a vantagem de que, pelo fato de ser tão raro se estar um com o outro, é bem difícil brigar. To achando mesmo que essa história nem é uma boa. Quem sabe, eu coloco o meu perfil disponível para arrumar alguém disponível para passar uma horas teclando e vendo, somente e tão somente, oportunamente. De resto, é colocar o coração na ponta dos dedos.

Juliano Nery não acredita nos amores virtuais. Mas não duvida, também.

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Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.