Filhos tendem a transformar "lembrancinhas" em "presentes" no Dia dos Pais

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Juliano Nery 29/7/2011

Subimos um degrau

O kit de beleza pra mãe custou uma baba, pra lá dos três dígitos. E o combo presente-jantar-motel pra namorada? Saíram pelos olhos da cara. E a criançada? Torram uma grana com os brinquedos de última geração e com as "n" datas em que são presenteados: é Natal, é Dia das Crianças, aniversário... E agora tem o Dia dos Avós! E o Dia Internacional da Mulher, cada vez mais bombante! Haja dinheiro para tanto presente e carinho, insuflados por campanhas irresistíveis no comércio. Mas e o Dia dos Pais? Será que entra também nessa jogada? Ou será que é "jogado" para escanteio, com apenas uma lembrancinha pela data?

Espremido no calendário comercial e em uma época em que os consumidores já pensam no fim do ano e, por consequência, no décimo terceiro, o Dia dos Pais não é uma data em que o comércio ri de orelha-a-orelha. Mas, eu, na condição de pai, ou seja, parte interessada, fiquei bastante feliz em saber que o Sindicomércio, em pesquisa realizada em Juiz de Fora, apurou que a filharada deve abrir um pouco mais a mão e destinar entre 50 e 100 pratas para o pai. Parece que os pais andam ficando melhor na fita com os pimpolhos.

Talvez, a nova geração de pais tenha se tornado mais sensível e mais próxima dos rebentos. A emancipação da mulher, que precisa trabalhar e dividir as tarefas domésticas, forneceu novos papéis para o homem que, além de desempenhar as atividades profissionais, passou a buscar as crianças na escola, dar banho e entoar as canções de ninar. E não se esqueça de contar aquela história dos três porquinhos e tomar a taboada na véspera de prova.

A aquisição de novas condições, certamente, contribuiu para a queda do paradigma de que o pai é aquela figura sisuda e distante, que fica sentado ali na cabeceira da mesa, realizando imposições ao restante dos convivas familiares. O perfil do novo pai possui uma interface mais amigável e divide os dilemas dos seus hereditários. E isso não se refere apenas aos pais com família estruturada. Até os pais solteiros e/ou que constituíram outras famílias responsabilizam-se mais com a criação dos filhos. Sem dúvida, uma grata surpresa da contemporaneidade.

Portanto, nada mais natural do que as embalagens de três lenços, cuecas ou meias sejam substituídas por itens mais generosos e que tirem a cascavel do bolso da esposa e das crianças. Mudar o nome do mimo de "lembrancinha" para "presente" é fundamental. Alguém com importância tão grande no processo de formação de um caráter e na educação de um sujeito não pode ficar relegado, meramente, a uma simples "lembrancinha". Isso é coisa pra gente que não tem tanta importância, o que não é o caso.

Na condição de pai, fico feliz em saber que estamos subindo um degrau, neste início de milênio. Tanto no que tange ao compromisso geracional, entre pais e filhos, como também na questão do "Dia dos Pais", já que pelos valores expressos pela pesquisa do Sindicomércio, vai dar pra sair um presente bacana.

Juliano Nery possui a honra de ser pai do pequeno Gabriel. Sem dúvida, o maior presente que a vida lhe deu.

Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.