Restaurante Popular representa cidadania e possibilidade de inclusão

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Restaurante Popular representa cidadania e possibilidade de inclus?o
 Juliano Nery 7/8/2012

Encontro marcado

Desde que deixei São Lourenço e a maravilhosa cozinha de dona Laura, minha mãe, para trás, comer na rua sempre foi mais do que um hábito, uma aventura. Primeiramente, por conta dos caraminguás que carregava no bolso e que, durante muito tempo, impediam-me de escolher os mais seletos locais para a refeição e, segundo, porque mesmo com todo o dinheiro e consequente possibilidade de escolha, adentrar em um restaurante ou lanchonete para matar a fome pode reservar as surpresas mais nefastas. Este colunista que ora vos escreve pode, por experiência própria, relatar pelo menos duas ou três infecções intestinais, sendo uma, inclusive, na semana passada, e, até mesmo, uma giardíase, no longínquo 2003, mas que ainda deixa más lembranças. Deixando as experiências desastrosas de lado, mas utilizando do know-how adquirido desde o início do milênio é que me regozijo com a incrível notícia de que o Restaurante Popular de Juiz de Fora, finalmente, teve suas portas abertas.

Fez-me lembrar da época do Restaurante Universitário que, por cinco anos, foi uma verdadeira mãe aqui em Juiz de Fora, na época de vacas magras dos tempos de estudante. Com um real e quarenta centavos, garantia o almoço e ainda dava para salvar uma cervejinha vez por outra no fim do dia. Talvez, por isso, este tema mexa tanto comigo. Alvo de crônicas anteriores, a comida a preços populares, aquela que pesa com sustância no estômago e não pesa no bolso do consumidor, é uma grande conquista para a cidade. Atende desde os desempregados, que costumam ter limitações financeiras até fanfarrões como eu, solteiro e sem qualquer compromisso com o lar, que em vez de cuidar da própria comida, prefere o conforto de sentar em qualquer canto, encher a barriga e não ter que cozinhar e nem lavar pratos. Por dois reais, todo mundo sorri. A dona de casa, o executivo, a madame, o estudante... Ainda mais se tiver um filezinho de frango grelhado, macarrão, arroz, feijão e uma salada, como no primeiro dia de funcionamento. Para que mais?

Talvez, você, leitor adepto desta coluna esteja se perguntando, "mas por que cargas d'água esse Juliano ainda não deu o ar da graça lá no Restaurante Popular?", ao que respondo que só tenho ficado na Manchester Mineira aos fins de semana, dias em que, infelizmente, o templo do sabor não abre suas portas. E, então, enfastiado da pesada comida das pequenas cidades da Zona da Mata, Campos das Vertentes e, mais recentemente, do Quadrilátero Ferrífero Mineiro, onde a carne de porco é usada à revelia e guardada em latas de banha e acompanhada de arroz brilhando no óleo, fico a pensar em quão bom seria mandar um prato equilibrado de comida. E é assim que espero encontrar o restaurante nesta quinta-feira. Pois é, estarei de folga...

Mal posso esperar pelo cardápio do dia. E quem tiver a fim, devo me aboletar em uma das mesas por volta das 13 horas, que é para o fluxo já ter diminuído e poder almoçar com tranquilidade. Vou levar dois reais adicionais para fazer a gentileza, caso tenha companhia. Se não chega a ser a comida da dona Laura, que pretendo me deliciar na sexta-feira, quando já estiver na querida São Lourenço, em data comemorativa pelo dia do padroeiro, no 10 de agosto, dá bem para o gasto. Para além dos sabores, vale pela vitória da cidadania em Juiz de Fora e pela possibilidade de inclusão. Toda revolução tem que partir de algum ponto e que comecemos de barriga cheia.

Juliano Nery é entusiasta de comidas boas, bonitas e baratas.



Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.