Estrangeirismos
Juiz de Fora n?o foge ? regra:
lojas, pr?dios... tamb?m adotam express?es estrangeiras
Deborah Moratori
26/09/03
Curiosidades ? parte, basta dar uma olhada ? nossa volta para constatar a presen?a de palavras e express?es estrangeiras na l?ngua portuguesa tupiniquim. Exemplo claro disso s?o os shopping centers, centros comericais, templos do consumo, apelidados por n?s, na base da intimidade ou da pregui?a, de shopping. On sale e off price s?o termos comuns estampados nas vitrines dessas lojas - que geralmente, por coincid?ncia ou n?o, tamb?m recebem nomes importados. No caso, s?o empregados como sin?nimo da nossa famosa e ador?vel e brasileir?ssima liq?ida??o. Muito provavelmente, eles devem pensar, "liq?ida??o ? coisa de pobre!".
O com?rcio, sem d?vida, ? o campe?o no quesito importa??o ling??stica. Lanchonetes nacionais que imitam o esquema do fast food americano recebem, igualmente, nomes importados. Se queremos fazer refer?ncia ao culto ? mesa dos italianos, chamamos nosso restaurante de Mezza que, em italiano, significa meia, metade. O exemplo mais intrigante ? o da loja Mr. Cat que tem como s?mbolo um pato, ao inv?s de um gato...
Mens legis O projeto ? fruto da id?ia de que o portugu?s falado no Brasil estaria
amea?ado de extin??o e seria uma iniciativa contra a desnacionaliza??o da
l?ngua portuguesa, como o pr?prio deputado esclarece. De acordo com o que o
seu criador faz quest?o de deixar claro na m?dia, o projeto ? uma forma de
den?ncia, resist?ncia e defesa da identidade e cultura do Brasil. A professora L?lian n?o considera vi?vel a conten??o da influ?ncia dos
estrangeirismos. "Essa influ?ncia ? uma quest?o cultural. O brasileiro est?
acostumado a absorver outras culturas, n?o s? no empr?stimo de express?es de
l?nguas estrangeiras, mas tamb?m em outros aspectos. Para voc? impedir que
isso aconte?a seria necess?rio modificar o pensamento do brasileiro.
Trata-se de um problema cultural. Por outro lado, o uso indiscriminado
desses termos demonstra a falta de prote??o sobre a nossa l?ngua. Os
franceses e os ingleses, por exemplo, t?m esse costume de adotar medidas
contra a invas?o de express?es importadas", analisa. "Todo o excesso ? ruim", afirma a professora do Centro de L?nguas da Universidade Federal de Juiz de
Fora, Angela Maria Gautard Cheik Kaled, referindo-se ? ado??o
exagerada de palavras e express?es estrangeiras. De acordo com ela, palavras
para as quais h? correspondentes em portugu?s como delivery e on sale, por
exemplo, n?o devem ser adotadas. "No entanto, a inform?tica trouxe novos
conceitos que, sejam utilizados na l?ngua original ou aportuguesados,
acabaram por ampliar nosso vocabul?rio. Na minha opini?o, nesse caso, o
empr?stimo ? permitido", explica. Sobre a proibi??o do uso e da entrada
desses termos a professora observa, "Com a globaliza??o, e muito dif?cil
impedir que esses conceitos circulem". Inculta e bela De qualquer forma, a tentativa de se eliminar anglicismos, galicismos e
outras palavras origin?rias de outras l?nguas n?o ? fato novo. No final do
s?culo XIX, por exemplo, o latinista Ant?nio de Castro Lopes publicou
o livro Neologismos Indispens?veis e Barbarismos Dispens?veis. Al?m
de denunciar os estrangeirismos incorporados pelo portugu?s, Castro Lopes
propunha alternativas a esses termos. Se suas id?ias tivessem sido adotadas,
hoje o Brasil seria considerado o "pa?s do ludop?dio"... Atualmente, a "?ltima flor do L?cio" ? constitu?da de, pelo menos, 20% de
termos emprestados de l?nguas estrangeiras. Essas palavras portuguesas
vindas de outros idiomas enriqueceram a l?ngua a longo prazo. Se fossem
bloqueadas na origem, o portugu?s seria sem d?vida mais pobre. Para os
especialistas, o projeto de lei do deputado Aldo Rebelo mostra total
ignor?ncia do fen?meno ling??stico. A professora Roberta Graziella Tavela que est? concluindo mestrado em
Ling??stica pela Universidade Federal de Juiz de Fora defende a id?ia de a
l?ngua ser um fen?meno vivo que por si s? encontra seus caminhos. "O
portugu?s que a gente tem hoje veio do latim que se transformou ao longo dos
tempos. As transforma?es fazem parte do curso natural da l?ngua". Para a
professora, a utiliza??o de termos estrangeiros s?o resultado de uma crise
de identidade cultural com reflexo na l?ngua. "O projeto pode at? proibir
que o com?rcio e a pr?pria m?dia adote essas express?es, mas as pessoas v?o
continuar usando e quem muda a l?ngua s?o os seus falantes", finaliza.
Al?m desse problema que se trata, com exce??o da licen?a po?tica, de um
desvio gramatical, mais conhecido como erro de ortografia, a professora de
ingl?s, L?lian Costa Magalh?es, aponta outra falha na ado??o de
termos estrangeiros. O tradicional shopping d? in?cio ? pol?mica. "A
importa??o deve ser usada com bom senso, preservando o sentido original do
termo estrangeiro. A gente tem o entendimento de que shopping e shopping
center s?o a mesma coisa, o que n?o ? verdade. Isso acaba gerando problema
na hora de aprender, neste caso, o ingl?s. A palavra outdoor ? outro exemplo
dessa confus?o. O correspondente correto em ingl?s para o que a gente chama
de outdoor aqui ? billboard", explica.
? comum que uma l?ngua se nutra de outras. Tamb?m ? normal - e fato antigo -
que os voc?bulos ao atravessarem as fronteiras venham, em geral, de uma
cultura dominante. At? o in?cio do s?culo XX, o franc?s exercia esta
influ?ncia sobre os demais idiomas. Agora, essa primazia pertence ao ingl?s.