Fiorese

Por

Fernando F?bio Fiorese Furtado
Poeta lan?a o livro "Dicion?rio M?nimo"

23/03/04

O doutor em Semiologia, poeta, escritor e professor, Fernando F?bio Fiorese Furtado, presenteia Juiz de Fora com mais uma importante publica??o para a Literatura Brasileira. O livro Dicion?rio M?nimo ser? lan?ado, nesta ter?a-feira, dia 23 de mar?o, ?s 20h, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. A equipe do Portal ACESSA.com entrevistou o autor e conta mais detalhes sobre a obra.

Leia a entrevista exclusiva:

ACESSA.com - O que representa "Dicion?rio M?nimo" para sua vida liter?ria? Fiorese ? um poeta prestes a "demudar"?
"Dicion?rio m?nimo" representa um esfor?o no sentido de trabalhar na fronteira entre a poesia e a prosa. De Charles Baudelaire a Murilo Mendes n?o poucos se aventuraram neste dom?nio indecid?vel. Embora muito distante destes mestres do poema em prosa, trata-se do trabalho mais simples e sofisticado que consegui produzir. Todo poeta est? sempre no empenho de conjugar o verbo "demudar". Ou melhor, ? a linguagem que conjuga tal verbo e imp?e ao poeta escrever com outras m?os cada nova obra. Mesmo porque, a vida demuda, os horizontes se arrastam para outras janelas, as palavras conosco s?o diversas e atravessam outros rios.

ACESSA.com - Iacyr Anderson Freitas, no pref?cio de "Dicion?rio M?nimo", lembra que o livro funciona como um "registro menor na escolha das palavras e maior na potencia??o dos horizontes l?dicos e afetivos dessas mesmas palavras". Ainda no mesmo pref?cio, desvela uma s?ntese: "pequeno por fora, infinito por dentro". Trabalho ?rduo para o escritor encontrar densidade po?tica em um n?mero reduzido de versos e palavras?
Trabalho t?o ?rduo que acabou por gastar o poeta, at? o completo desaparecimento deste. Ent?o, digo eu que da morte do autor restaram ao menos os verbetes deste "Dicion?rio m?nimo". E s?o eles uma alegria que se oferece ao leitor... Alegria porque cada poema ? uma vit?ria da vida, dos desejos, dos afetos. Pouco importa a extens?o ou o peso das palavras, mas a vida que nelas se afirma.

ACESSA.com - Dif?cil n?o pensar em Borges ao ler as notas de rodap? "farsescas e divertidas" de "Dicion?rio M?nimo". As notas foram constru?das com tal apuro liter?rio que s?o capazes de instigar e confundir na mesma propor??o. O que dizer delas?
N?o sei porque o prefaciador e poeta Iacyr Anderson Freitas atribui ?s notas de rodap? o adjetivo de "farsescas". Posso afian?ar que todas s?o absolutamente verdadeiras. E tamb?m absolutamente falsas. J? n?o disponho dos manuscritos e obras de onde os verbetes foram extra?dos, pois os mesmos desapareceram no inc?ndio que consumiu parte da minha biblioteca. Por conta disso, reconstitui os verbetes de mem?ria, o que pode ter gerado algumas trai?es, embaralhamentos ou acr?scimos. Mas os signos de todos os autores referenciados est?o presentes nos textos. Assim, que fique reservado ao leitor o ?nus de decidir acerca da farsa ou da veracidade dos textos e das notas...

ACESSA.com - Desde a capa - com ilustra??o de Eliardo Fran?a - at? os pr?prios poemas em prosa, nos remetemos a uma esp?cie de "mosaico po?tico" de palavras, cujos fragmentos est?o imersos em alitera?es, asson?ncias, embates entre significante e significado. Para o poeta Fiorese, a palavra ? um desafio arrebatador?
H? alguns meses, comecei a escrever alguns textos que pretendo reunir sobre o t?tulo de "Juiz de Fora, cena da escrita: notas para uma mem?ria da literatura local em fins do s?culo XX". E neles h? um fragmento que pretendo responda ? sua pergunta: "Homem sem profiss?o, sem ferramentas, sen?o aquelas que ao acaso aconteceram ou as que acolhi enamorado da palavra, do discurso - as digress?es calculadas do professor por vezes disputando com o devenir fou da escrita po?tica -, desde menino me assombram e fascinam, por absurdos, paradoxais ou improv?veis, os muitos modos como o sil?ncio muda em linguagem." Sei da mis?ria e da barb?rie que se pode engendrar com a palavra, mas me custa acreditar que tenhamos esquecido o quanto ela pode construir.

ACESSA.com - O autor tem predile??o por algumas das palavras de seu dicion?rio?
Os textos "linha" e "umbigo" me parecem aqueles em que o autor (que n?o sou) encontrou a melhor realiza??o.

ACESSA.com - Comp?em o livro objetos que o leitor facilmente identifica em seu espa?o exterior, como cadeira ou espelho, por exemplo. Seria poss?vel construir um dicion?rio m?nimo de interioridades, sem trope?ar no abismo da introspec??o, no qual o maior pecado cometido ? o excesso de linguagem?
A poesia trata das rela?es que estabelecemos com o real, com as coisas, com a mat?ria, com os acontecimentos do mundo. N?o acredito em inspira??o, nem em interioridade, nem em qualquer "dentro". N?o escrevo para estar comigo, enclausurado. N?o escrevo para revelar o que teria no ?ntimo. Escrevo para estar no mundo e dizer ao outro a alegria e a dor de habitar o presente.

ACESSA.com - O que os leitores podem esperar do pr?ximo "inc?ndio na biblioteca do autor"?
Espero que n?o ocorra, pois perdi muitas obras e manuscritos preciosos. De qualquer forma, sempre resta a mem?ria, seja do papel seja da pele.

Colabora??o: Jornalista Odirlei dos Santos