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Terrorismo no Iraque
Segundo especialistas, os seq?estros tornaram-se uma fonte de renda, indo al?m das quest?es pol?ticas e religiosas


S?lvia Zoche
Rep?rter
03/02/05

Escute o que os pesquisadores de Assuntos Militares da UFJF falam sobre o seq?estro do engenheiro Jo?o Jos? Vasconcellos J?nior, por um grupo terrorista do Iraque

Os seq?estros de estrangeiros no Iraque tornaram-se uma fonte de renda, na opini?o de dois pesquisadores de Assuntos Militares da UFJF, Expedito Carlos Stephani Bastos (foto ? esquerda) e Ricardo V?lez Rodr?guez (foto ? direita), indo al?m das quest?es pol?ticas e religiosas.

"As guerras do s?culo XXI mudaram. Agora existe uma banditiza??o do conflito. ? um grupo fundamentalista, mas passaram a se organizar em grupos de a??o terroristas para ganhar dinheiro", diz Rodrigu?z. Bastos lembra que se este grupo terrorista seguir os padr?es de outros seq?estros, provalvelmente ser? pedido um resgate. "Existem grupos menores que s?o terceirizados para seq?estrar para fac?es maiores e pedem dinheiro pela liberta??o das v?timas. Virou uma fonte de renda", comenta Bastos. J? para o professor Francisco de Assis Penteado Mazetto, tamb?m pesquisador de Assuntos Militares da UFJF, o dinheiro pedido em resgates ? "para viabilizar as a?es de grupos rebeldes".

O professor Rodr?guez acredita, com rela??o ao seq?estro do engenheiro juizforano Jo?o Jos? Vasconcellos J?nior, que o grupo seja formado pelos sunitas que faziam a guarda de Sadam Hussein. "Como perderam o status e o poder, passaram a seq?estrar estrangeiros. ? uma possibilidade, mas n?o sabemos ao certo que grupo realmente seq?estrou o engenheiro, porque n?o fizeram contato. Este ? o primeiro problema. O segundo ? o radicalismo isl?mico que se fecha a qualquer tipo de negocia??o".

Rodrigu?z lembra que os grupos radicais s?o extremistas com os ocidentais, mas tamb?m com os orientais que s?o a favor de ocidentais. "? uma situa??o question?vel e perigosa".

Mas, em um ponto todos concordam: a inten??o n?o era seq?estrar um brasileiro e sim atacar um comboio de um pa?s favor?vel ? invas?o do Iraque. "O objetivo era atacar um comboio ingl?s e americano", afimra Bastos.

Interfer?ncia do Estado
O pesquisador Bastos possui uma vis?o diferente do seq?estro de Jo?o Vasconcellos. Para ele, esta ? uma quest?o trabalhista e n?o de diplomacia. "Para mim, ? um problema de contrato de trabalho e n?o de Estado. O risco ? de quem aceita ir para o Iraque e da empresa que leva seu funcion?rio. ? claro que n?o ? certo seq?estrar ningu?m. Mas quem vai para l?, sabe que vai correr perigo", opina Bastos.

V?lez acredita que o problema ? diplom?tico sim. "Tanto ?, que os diplomatas est?o mobilizados. Al?m disso, a m?dia est? em cima e as informa?es chegam aos quatro cantos do mundo. A internet mobiliza muito a opini?o p?blica". Neste ponto, Mazetto concorda com V?lez. "A prote??o do cidad?o brasileiro no exterior ? uma obriga??o do Estado. O atual governo tem intensificado essa pol?tica, adotada por pa?ses mais avan?ados", explica.

Para V?lez, a decis?o de enviar representante da comunidade mu?ulmana no Brasil ao Iraque, para negociar a liberdade de Vasconcellos, foi uma decis?o acertada. "? importante que v? algu?m que conhe?a bem a regi?o. E o brasileiro tem 'jogo de cintura', tem um car?ter de negociador. Isso j? ? um ponto a favor", conclui.

Al?m da evolu??o das For?as Armadas, a ?rea de negocia??o ? um tipo de trabalho que vem crescendo no mundo. "N?o se deve baixar a guarda no momento de preparar os diplomatas. ? preciso trabalhar com novas armas: a da intelig?ncia. O que adianta o n?mero de armas de alta tecnologia dos Estados Unidos, se eles n?o conseguem negociar com os iraquianos?", afirma. Ele ainda lembra que os franceses e ingleses s?o especialistas no servi?o de negocia??o. "Existe um filme, Prova de Vida, que retrata bem isso", indica.

A manifesta??o
A manifesta??o realizada pela fam?lia do engenheiro seq?estrado repercutiu em v?rios pa?ses. Mas a d?vida ?: os pedidos de liberta??o chegaram at? o grupo seq?estrador? Para o pesquisador Bastos, n?o d? para saber como as not?cias chegam at? o mundo ?rabe. "Existe censura nos meios de comunica??o. No Iraque, o uso de internet, por exemplo, ? restrito. Na TV, s? transmitem o que eles deixam. A passeata foi bonita. Juiz de Fora se projetou internacionalmente, mas n?o sei se a manifesta??o pode mudar algo", conclui.

J? para Mazetto, as manifesta?es s?o positivas e a divulga??o pela m?dia pode chegar at? os seq?estradores. "As manifesta?es mostram o envolvimento da na??o na prote??o de um de seus filhos".

Para V?lez, ? poss?vel que a manifesta??o ajude na liberta??o de Vasconcellos. "O problema ? que n?o se conhece direito a face dos terroristas. Mas tudo deve ser feito para salvar um patr?cio nosso".

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