JF Hoje
Ivanir Yazbeck
30/03/2006
"? no Century Vinte-e-Um" - foi feito o esclarecimento para melhor
me orientar na localiza??o na primeira vez em que l? compareci. Aos ouvidos,
a jun??o da palavra inglesa com a numera??o em bom portugu?s me soou de
forma estranha, meio sem sentido. L? chegando, diante da entrada principal, conferi o letreiro e l?
estava: Century XXI. Imediatamente, ? estranheza auditiva se juntou a
visual. As c?lulas cinzentas entraram em parafuso e acionaram o dispositivo
da mem?ria que, ironicamente, me remeteu ao cl?ssico "Samba do Crioulo
Doido" do sempre lembrado Stanislaw Ponte Preta e o seu Febeap? -
Festival de Besteiras que Assolam o Pa?s, l? pelos anos 60 do s?culo 20. Desde criancinha, aprendi que, na gram?tica inglesa, a refer?ncia ?
data dos s?culos ? que inicia a express?o. Como? De tanto ir ao cinema e ver
a introdu??o dos filmes da poderosa Twentieth Century Fox - a Raposa do
S?culo Vinte. N?o bastasse isso, nas aulas de Ingl?s da Academia de
Com?rcio, sob o comando do rigoroso Padre Guis, fazia parte das primeiras
li?es o cap?tulo em que t?nhamos de aprender a numera??o de 1 ao infinito -
one, two, three, four... five hundred million, forteen thousand... - e o seu
emprego em datas e coisas e tais. Ah, se um de n?s, alunos da segunda s?rie,
ousasse escrever ou pronunciar Century Twenty-One, era um coque com o n? do
dedo m?dio no cocoruto, na certa, e a obriga??o de trazer escrita na pr?xima
aula a express?o correta, escrita 200 vezes em papel alma?o: Twenty-One
Century, Twenty-One Century, Twenty-One Century... Bem, ainda parado ? porta do belo edif?cio, detive-me a admirar a
agress?o ao idioma de Shakespeare e me perguntava: como deixaram que se
batizasse com um nome canhestro um empreendimento t?o grandioso? Estrutura moderna Enfim, trata-se de um edif?cio moderno, localiza??o privilegiada, de
arquitetura bem resolvida, mas... pobrezinho, tascaram-lhe um nome
estranho,
meio ingl?s, meio portugu?s, de envergonh?-lo, a cada vez em que tem de se
apresentar. Apesar de obedecer o padr?o cl?ssico dos n?meros romanos para a
identifica??o dos s?culos na Hist?ria, a leitura que se imp?e ao Century XXI
? o vinte-e-um, e n?o o twenty-one, como a palavra inicial
sugere, ainda que erradamente, pois o correto, a prevalecer a gram?tica
inglesa, seria XXI Century. Imagino que a inten??o do autor da id?ia era dar ? obra uma
personalidade "refinada, sofisticada", com um nome estrangeiro, mais
precisamente, ingl?s/americano. Tudo bem que o fa?a. Free country,
dizem os americanos, l? entre eles, quando pretendem defender a livre
express?o de id?ias. Vale tamb?m para a nossa democracia. Cada um faz o que
quer com as suas coisas e seus pensamentos. Pena que o resultado desse princ?pio esteja estampado em grande parte das
placas comerciais exibindo estrangeirismos a pretexto de "sofisticar" a
marca. ? quando se verificam os restaurantes "self-services" no lugar de um
"sirva-se", t?o mais claro ao entendimento dos fregueses, e o an?ncio dos
"deliverys" para dizer que "entrega-se a domic?lio". Sal?es de beleza, de
cabeleireiros, est?tica e coisas do g?nero se exibem como
"esthetic-center", "hair-style", "beauty hair", e seus donos ou donas acham
que assim se imp?em mais altaneiros diante da concorr?ncia. Se fosse reproduzir aqui os nomes de lojas comerciais ou de
prestadoras de servi?os de Juiz de Fora (sei que o "fen?meno" ocorre em todo
o Brasil, mas fiquemos aqui pelo Centro de nossa JF) que usam e abusam do
estrangeirismo bobo, desnecess?rio, a rela??o seria intermin?vel, al?m de
rid?cula.
Os executivos e a burrice Volto ao Century XXI para indagar: ser? que ningu?m entre os que
participaram das reuni?es, nas quais se decidiu o nome, teria freq?entado um
desses tantos cursinhos de Ingl?s, para alertar para a burrice? Ok, senhor
juiz, retiro a palavra "burrice" e refa?o a pergunta: ser? que ningu?m,
entre o investidor, os arquitetos, engenheiros, universit?rios estagi?rios e
a equipe do marketing que programou o seu lan?amento em folhetos ou filmes
para a televis?o, n?o percebeu que o nome era um erro que induziria as
pessoas tamb?m a errar, ao obrig?-las a pronunciar a express?o de maneira
equivocada? ? essa altura, apontar o respons?vel n?o levar? a nada e muito menos
se despertar? nele a inten??o de consertar o erro. Dessa forma o Century XXI
permanecer? como uma bela obra de engenharia do in?cio do s?culo 21 e, ao
mesmo tempo, avan?ar? nos tempos como um s?mbolo do desprezo ? nossa t?o
rica L?ngua Portuguesa, em fun??o de uma mentalidade forjada por um
fukin? complexo de inferioridade, subalterno ? L?ngua Inglesa.
Para uma notinha social: o cada dia... Ou melhor: o cada noite
mais deslumbrante Privil?ge apresentou na sua reabertura o maior D.J. do
mundo. (Se o leitor leu d?-jota est? certo. Mas se n?o quiser
parecer burro, deve pronunciar di-dj?i em seu grupo de amizades. E
estamos falados com mais este exemplo de... deixa pra l?. Por hoje, stop).
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