Bilhetagem eletrínica

Por

Implanta??o da bilhetagem eletr?nica Motoristas e trocadores t?m medo de perder o emprego e quem vende e compra reclama do servi?o antes da implanta??o

Guilherme Oliveira
Colabora??o*
16/11/2006

Clique no ?cone "texto" para ler o decreto executivo 09001/2006 assinado pelo prefeito Alberto Bejani em 27 de setembro de 2006 e participe da enquete e d? a sua opini?o

A implanta??o do sistema de bilhetagem eletr?nica no servi?o de transporte coletivo urbano, por ?nibus, em Juiz de Fora, j? est? em andamento. Mas, segundo informou a assessoria da Gettran, a popula??o s? vai utilizar do servi?o, a partir do in?cio de 2007. As empresas t?m at? 90 dias para instalarem os equipamentos, mas ainda n?o divulgaram uma data definitiva para colocarem em vigor o decreto do executivo 09001/2006 assinado pelo prefeito Alberto Bejani em 27 de setembro de 2006 (leia o decreto).

Inicialmente, devem ser fabricados 200 mil cart?es. Os estudantes ter?o um valor fixo mensalmente. A recarga do cart?o poder? ser feita no pr?prio ?nibus, pelo trocador. Al?m disso, o uso do cart?o passa a ser obrigat?rio.

? por isso que, antes mesmo de come?ar a funcionar, o novo sistema de bilhetagem eletr?nica j? tem causado pol?mica, principalmente entre aqueles que trabalham com a compra e venda de vale-transporte e os principais envolvidos, motoristas e trocadores, que temem a perda do emprego. A implanta??o do sistema vai gerar o fim do tradicional passe, o que decreta tamb?m o t?rmino do uso do vale-transporte como "dinheiro paralelo". Por outro lado, vai informatizar o servi?o, tornando-o mais ?gil e seguro.

Para o prefeito Alberto Bejani, a iniciativa pretende reduzir os assaltos - j? que o volume de dinheiro vivo nos ?nibus diminui - e acabar com o "c?mbio negro" dos vales-transportes que existe atualmente. "Esta m?quina vai trazer uma seguran?a enorme, al?m de sabermos o n?mero exato de passageiros", ressaltou o prefeito, em entrevista coletiva realizada em outubro para apresenta??o do aparelho de bilhetagem eletr?nica.
Mas, o que pensa a popula??o?
O aposentado, Pedro Paulo (foto ao lado), 56 anos, acredita que "quem ganha vale-transporte n?o tem um bom sal?rio" e s? o vende para salvar uma refei??o, comprar um p?o. Por isso, as pessoas acabam indo a p? para o trabalho", diz. A bilhetagem, segundo ele, vai tirar uma moeda significativa da popula??o. "Para quem ganha muito, o percentual de vale transporte ? pouco, mas para quem ganha R$ 400, representa 25% a mais na renda", diz.

O pintor, Ant?nio Carlos, 45 anos, discorda e diz que com a nova tecnologia popula??o s? tem a ganhar. "A maioria das pessoas querem vender o vale transporte, mas atr?s disso tem muita coisa. Eu acho melhor o cart?o. A pessoa vende o vale por um valor mais barato e depois fica andando a p?. Tem gente bancando isso (apontando para compradores de vale transporte). Com cart?o isso vai acabar" , ressalta.

A pr?tica ? bastante comum. Na hora do aperto, o vale transporte se transforma em "moeda", o que garante a necessidade mais urgente de quem o utiliza, mesmo sabendo que o real valor n?o ? o aceito por grande parte do com?rcio. Geralmente os vales s?o vendidos a R$ 1,30, R$ 1,45, uma diferen?a de cerca de de R$ 0,10 a menos do valor real. A auxiliar de escrit?rio, Val?ria Tolentino, 43, n?o se intimida em afirmar que faz uso do vale para outras fun?es. "?s vezes, por necessidade, para comprar p?o, leite, sempre que preciso. Conhe?o muita gente que utiliza os vale transportes assim", comenta.

E quem vende e compra?

Na ruas do centro e, principalmente, no Cal?ad?o da Rua Halfeld, a pr?tica da venda ? comum. N?o ? dif?cil encontrar por l? quem compra e vende vale transporte. Apesar da maioria trabalhar por conta pr?pria, h? muitos que exercem a atividade para outras pessoas e t?m na fun??o o emprego e o dinheiro para sobreviver.

Gabriel Andrade, 45 anos, ? um exemplo. Segundo ele, com o fim do vale transporte vai proporcionar o seu desemprego, j? que esta ? a sua ?nica fonte de renda. "Vai prejudicar a mim e toda a popula??o que se desfaz desses vales para complementar a renda. Primeiro tem que ver se ? de interesse da popula??o essa troca", , reclama Gabriel que vende os vale pelo valor de R$ 1,45.

Eliane Cristina tamb?m trabalha vendendo e comprando vales h? seis meses. "Sinceramente, vai atrapalhar muito a gente e as pessoas que usam o vale. Eu n?o tenho estudo e dependo disso para viver", diz. Ao lado de Cristina, trabalha L?via Loures, 20 anos, que concorda com a opini?o da amiga e se diz preocupada. "Vai prejudicar a gente, tirar o nosso emprego", conta a juizforana, m?e de duas crian?as.

Se algumas pessoas compram e vendem para tirar o lucro e o sal?rio no final do m?s, outras at? aceitam os passes em seus estabelecimentos, por valores menores. O ambulante Nilton Quit?rio vende frutas e legumes em troca do valo transporte. "Ningu?m tem dinheiro. N?o existe esse neg?cio de cart?o, o vale tamb?m ? dinheiro, gira no mercado. Hoje, todos querem sobreviver", opina.

Pr?ximo ao ambulante, uma pastelaria que aceita vales por R $1,30. Mas mesmo assim, o comerciante, Jo?o Aluizio, 40 anos aprova o sistema de bilhetagem. "Vai ser ?timo, vai acabar com esse com?rcio paralelo. ?s vezes voc? est? tirando dinheiro das pessoas mais humildes, voc? tira delas um meio de transporte. Voc? acaba aceitando, porque ?s vezes a pessoa quer fazer um lanche e est? sem dinheiro", revela.

E os motoristas e cobradores?

A preocupa??o da popula??o n?o ? somente com o surgimento dos cart?es e o fim do tradicional passe. Ela se preocupa com o desemprego que algumas pessoas que trabalham com vales estar?o sujeitas.

"As empresas ainda n?o mostraram um ponto estrat?gico com rela??o ao cart?o. Como ficam as pessoas que compram e vendem vale transporte, como vai ficar as pessoas que trabalham com isso. Essas pessoas desempregadas, as empresas t?m que pensar nisso", diz Lucimar Soares , 45, especialista em gest?o organizacional.

Mas, segundo a assessoria da Astransp, o desemprego n?o ? motivo de preocupa??o, e garante que n?o haver? demiss?o de ningu?m. "Os trocadores v?o ter importante fun??o na fiscaliza??o dos cart?es e tamb?m ser?o necess?rios porque muita gente que vem de outra cidade e n?o possui o cart?o pagar? em dinheiro. Al?m de auxiliar passageiros e vender cart?es", ressalta.

Mesmo com essa garantia, os motoristas, trocadores e fiscais dizem quem ainda n?o foram informados sobre as mudan?as. O trocador, Elds Cassiano da Silva, de 29 anos, teme, com isso, que mudan?a possa gerar desemprego. "Eu n?o estou sabendo, n?o falaram nada com a gente ainda. N?o sei como vai funcionar isso. Mas acredito que se for eletr?nico o desemprego ser? grande", diz.

O motorista, Jaime Martins, 55 anos, completa: "Estou ouvindo falar, se vai funcionar ou n?o, eu n?o sei. Para mim n?o faz diferen?a. Eu nunca trabalhei com esse esquema", revela o motorista sem saber sobre a nova legisla??o.

A implanta??o da bilhetagem est? sob a responsabilidade da Astransp e, segundo a assessoria da Associa??o, n?o vai haver necessidade de reunir os funcion?rios, pois todos est?o garantidos em suas fun?es.

O auxiliar de trafego de ?nibus, fiscal, Rui Pereira , 52 anos est? mais por dentro da ?ltimas not?cias e v? quest?es positivas e negativas nessa mudan?a. "Vai ser muito bom para evitar assaltos. Vai ser melhor andar com menos dinheiro", diz Rui que se preocupa com outras fun?es da profiss?o. "O cobrador n?o vai perder o emprego, at? mesmo porque tem que ter algu?m para auxiliar o motorista. Em caso de uma pessoa passar mal dentro do ?nibus, temos que auxili?-la", revela.

Apesar de Rui n?o demonstrar preocupa??o com a quest?o de desemprego do trocador, ele lembra de uma outra fun??o que para ele pode perder o emprego. "Deve ter desemprego na tesouraria. Aqui tem uns cinco que trabalham contando e colando vales", alerta. Segundo a assessoria da Astransp, neste caso "haver? uma reestrutura??o das fun?es, mas certamente v?o precisar de todos para as demais fun?es , conclui.

Enquete
O que voc? acha da implanta??o do sistema de bilheteria eletr?nica?
      ?timo
      bom
      ruim
      p?ssimo
   

ATENÇÃO: o resultado desta enquete nã o tem valor de amostragem
científica e se refere apenas a um grupo de visitantes do Portal ACESSA.com

*Guilherme Oliveira ? estudante de jornalismo da UFJF"