Cicloturista

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Pelo mundo em duas rodas R?mulo Magalh?es est? h? sete meses viajando pelas Am?ricas de bicicleta. Dos EUA at? Niter?i, ele conheceu JF dois dias antes de completar o percurso


Fernanda Leonel
Rep?rter
24/11/2006

Leia um trecho do di?rio de bordo do R?mulo Magalh?es. Leia hist?rias, curiosidades e um pouco do dia-a-dia do cicloturista, na sua passagem pelos pa?ses da Am?rica do Sul



Um dia ele acordou e resolveu colocar em pr?tica um plano recente de sua vida. Abandonou o emprego est?vel, o bom sal?rio, deixou para traz os amores, o colo da m?e e foi andar de bicicleta...por toda a Am?rica.

A hist?ria de R?mulo Magalh?es, carioca de 25 anos, nos faz lembrar do filme Di?rios de Motocicleta, que conta a vida do revolucion?rio Ernesto Che Guevara, quando ele ainda era um estudante de medicina. Che pegou sua moto e resolveu viver novas experi?ncias cortando as Am?ricas em uma viagem de meses.

As semelhan?as realmente existem, tanto que R?mulo j? assistiu ao filme protagonizado por Gael Garcia tr?s vezes. Os dois abandonaram o conforto da cama de casa pela incerteza dos locais de acampamento ao longo da estrada. Al?m do mais, o aventureiro tamb?m tem, assim como Che, um di?rio de bordo que ganhou uma pitada de tecnologia (leia as hist?rias de R?mulo no seu blog). Tudo para, como ele mesmo define, "sentir na pele tudo aquilo que aprendeu nos livros".

Na ?ltima quinta-feira, dia 23 de novembro foi a vez do aventureiro, j? com quase todo desafio cumprido - R?mulo pretende chegar a sua cidade, Niter?i na manh? do dia 26 de novembro - escolher Juiz de Fora como "cidade-pouso". O cicloturista veio pedalando da cidade de Ponte Nova, que fica a aproximadamente 200 quil?metros de JF para conhecer a cidade a dois dias da sensa??o de "miss?o cumprida".

A aventura era pessoal, sem fins lucrativos, sem busca de um patrocinador. R?mulo, que se formou em Ci?ncias Sociais e estava cursando hist?ria, queria conhecer um peda?o do mundo no seu tempo, refletindo e conhecendo as comunidades por onde passava. Fez as malas, que foram se perdendo pelo meio do caminho (ele conta que de vez em quando olhava para as cinco meias e falava: eu n?o preciso de cinco meias. Ent?o jogava fora) e resolveu se desprender de tudo para cair na aventura surreal.

"Queria conhecer essa rica cultura latina e por isso resolvi utilizar a bicicleta como meio de transporte, pois pretendia me aproximar das pessoas e trocar experi?ncias. Queria ver de perto as veias abertas da Am?rica Latina", resumiu.

O cicloturista planejou tudo: precisava de um ano para realizar o sonho da sua vida. Primeiro iria para os Estados Unidos para trabalhar. Dessa forma, estava escolhido seu ponto de partida pela aventura de volta para casa e ele poderia garantir o sustento dos pr?ximos sete meses de viagem.

E ele foi. Pediu um para a namorada de dois anos esperar por ele e partiu para San Diego, na Calif?rnia. Entre diversos trabalhos, ele deu um jeitinho de n?o deixar a paix?o de lado e continuar se exercitando para o desafio que estava por chegar. Trabalhou de pedicab na terra do Tio Sam - uma esp?cie de t?xi de bicicleta.

Dinheiro no bolso, p? na estrada. Ou no pedal no caso de R?mulo. No dia 07 de maio deste ano, o carioca saiu da Calif?rnia rumo a fronteira com o M?xico. Como ele mesmo brinca, parece que foi s? depois dessa primeira hora de pedalada que a "ficha caiu" e ele percebeu que estava realizando um feito muito diferente.

"Cheguei na fronteira depois de uma hora de pedalada. Fui at? o Posto de Imigra??o Americano entregar meu I-94 e a cara de espanto do oficial quando viu meu meio de transporte foi hil?ria. Pegou meu documento I-94 e mandou Deus me aben?oar. Na estrada fui parado, por um cara que queria tirar foto comigo. Foi ao mesmo tempo engra?ado e emocionante. Deu a sensa??o que estava fazendo algo que as pessoas admiram. Foi bom para o ego".

Algumas hist?rias

R?mulo passou por um pouquinho de tudo. Mas ? sempre muito positivo ao falar na viagem. Mais do que conhecer culturas e aprender a entender duas novas l?nguas com total nitidez, R?mulo destacou que se surpreendeu com as personalidades que conheceu no caminho. "Encontrei muita solidariedade, muitos lanches e portas abertas. H? muita gente boa no mundo".

R?mulo dormia em uma barraca, que acabava ficando em algum lugar do caminho. Ele comenta que s? sentiu dificuldades para dormir no deserto do M?xico, j? que tinha que encontrar em O?sis para ficar tranq?ilo. H? at? uma hist?ria curiosa nessa noites de sono: R?mulo diz que chegou a ser salvo de algo que ele imagina ser um assalto, por uma cachorra, que o protegeu e espantou o "inimigo".

Mas as noites de sono, incertas, com gostinho do acaso, s?o na verdade uma das maiores riquezas destacadas pelo cicloturista. "Descobri que n?o preciso de muito para ser feliz. A vida n?o tem que ser como uma propaganda de margarina", justifica.

Nesses sete meses de jornada, ora R?mulo encontrava um caminhoneiro no meio da estrada e, entre ajudas, ganhava a carroceria como cama, ora conhecia fam?lias de brasileiros que segundo ele sempre o abrigavam bem, ora jantava com americanos, franceses ou quem quer que fosse que tivesse uma boa hist?ria para contar. O brasileiro chegou a dormir em um templo Hare Krishma, numa clausura onde ficavam os monges, depois de aprender um pouco da filosofia da cren?a com um estudante.

Nessa mistura cultural, ele trocou informa?es com peregrinos do mundo todo, outros turistas, aventureiros, e foi recebido por pessoas em todos os pa?ses. "A minha vida foi virando um orkut, uma verdadeira rede de relacionamentos. A cada lugar que que eu ia passando, j? sa?a com indica??o de um outro amigo para conhecer, para me acolher", comentou R?mulo.

Dessa experi?ncia, ele tirou duas conclus?es. Primeiro que ? muito satisfat?rio viajar pelas Am?ricas, porque, nesses locais, as pessoas s?o reconhecidas como brasileiras. R?mulo comenta, que mochileiros na Europa, por exemplo, s?o s? mais um n?mero no meio de turistas. "Na Am?rica do Sul n?o. Somos brasileiros, e bem recebidos por isso".

Ali?s, essa hist?ria lhe rendeu uma "jornalada" nas costas. Depois que perdeu a bandeira do Brasil, chegou a ser confundido com americanos no meio do caminho. "O que n?o soava bem", afirma o apaixonado pelo Brasil. Tudo s? era esclarecido depois que R?mulo se apresentava como brasileiro. O respeito pelo Brasil foi destacada por R?mulo atrav?s da sua passagem pela na cidade de Guadalajara, no M?xico. A cidade possui at? uma pra?a em homenagem ao pa?s tropical e do futebol.

Esse carinho com os brasileiros e aten??o, foi outro destaque de R?mulo quando falou de turismo no Brasil. Para ele o turismo no Brasil ainda est? muito voltado para os turistas, j? que as cidades mais visitadas s?o tamb?m as que possuem custo de vida, noite, entre outras coisas, mais caras. "Fica f?cil conhecer outros pa?ses, porque as pessoas querem mostrar o que tem de cultura para a gente. N?o exploram os turistas".

De mapa na m?o, ele conheceu muitos lugares, incont?veis como ele mesmo brinca. Andou de barco, conheceu o povoado de San Pablo, no qual Che Guevara cuidou dos leprosos; conheceu o s?tio arqueol?gico de Monte Alb?n, onde viveram pessoas 500 anos antes de Cristo; respirou o ar libert?rio de Machu Pichu; subiu mais de tr?s mil metros de altitude at? o Puerto de Las Cruces, cruzou fronteiras a cada semana.

No resultado, quase 10 pa?ses conhecidos e saboreados com um pouco de cada cultura, at? pisar no Brasil, "aben?oado por Deus e bonito de natureza, como ele mesmo define". Se valeu a pena? Essa pergunta n?o poderia faltar, apesar da resposta estar em cada foto e "legenda" orgulhosa feita pelo cicloturista. Digamos que a pr?xima etapa de R?mulo ? a Europa, s? para ilustrar. Boa viagem!

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