A voz nas ruas e a reinvenção da pol?tica

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A voz nas ruas e a reinven??o da pol?tica

A voz nas ruas e a reinvenção da política

Marcus Pestana
Deputado Federal - PSDB
Especial para o Portal ACESSA.com
25/06/2013

Da grande onda de manifestações que varreu o país, nas últimas semanas, surge a necessidade de agir para promover mudanças substantivas. Felizmente a voz das ruas calou fundo: governos, partidos, instituições foram surpreendidos e estão perplexos. E não poderia ser de outra forma. O que estamos assistindo é instigante, é uma difusa manifestação de uma insatisfação acumulada. E não há bandeiras claras nem comando único. Vai errar feio quem procurar um sentido unilateral, teleológico, excessivamente coerente.

No passado, assistimos a diversos movimentos nas ruas brasileiras, muitos dos quais participei intensamente, como a luta pela Anistia, as Diretas Já, o impeachment de Collor. Mas, tínhamos uma direção, uma reivindicação clara, um objetivo. Não é o caso do movimento presente, que tampouco se assemelha aos protestos no Egito, Síria, Tunísia. Nessas nações, as redes sociais mobilizaram a população a fim de derrubar o governo. Aqui não se trata de colocar em xeque as instituições democráticas e a própria democracia. É diferente também do “Ocupe Wall Street” e dos atos dos indignados na Espanha, claramente posicionados em torno da crise que se abateu em todo o mundo a partir de 2008.

Essa explosão popular nos revela que existem várias tribos em ação, e com motivações variadas. Aos poucos, decantam-se alguns problemas: mobilidade urbana, insegurança econômica, corrupção e falsa faxina, prioridades orçamentárias. A profusão de temas e a mobilização a partir das redes sociais são uma nítida demonstração de que essas mídias vieram para ficar. Também marca presença nas ruas a forte crítica ao Governo Federal e à presidente Dilma. Gostemos ou não, temos um Presidencialismo forte e uma Federação centralizada. Apesar do discurso difuso, o recado é para todos. Há uma crise universal da democracia representativa e claros indícios de falta de vínculo entre o cidadão e o sistema político.

É preciso ter sensibilidade e responsabilidade. Vamos, com cautela, esperar conclusões corretas. Decifrar a realidade à medida que se separa o joio do trigo, repelindo atos de vandalismo e violência. A voz das ruas, mesmo que dissonante, mostra que governos precisam dialogar com a sociedade e que é preciso reinventar a política. Importante que a nova energia cidadã, que ninguém deve tentar se apropriar, seja canalizada para a democracia e não para radicalização e a demagogia. Por fim, em meio a tantas dúvidas e inquietações, parte do samba de Paulinho da Viola traz uma boa dica: “Faça como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar”.

* O artigo acima faz parte de uma sessão especial do Portal ACESSA.COM,
sobre as manifestações que acontecem em todo o Brasil