Para um mesmo amor, duas respostas diferentes

Por

Dom Gil 24/10/2014

Para um mesmo amor, duas respostas diferentes

Neste mês de outubro, a Arquidiocese de Juiz de Fora recebeu um dos mais belos símbolos da fé católica: a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal. Tal visita teve como fim preparar o coração dos fiéis para as celebrações do centenário das aparições portuguesas, ocorridas em 1917. Entrando pela cidade de Santa Rita de Jacutinga dia 2, passou pelas comunas de Liberdade, Lima Duarte, Santos Dumont, São João Nepomuceno, Matias Barbosa para culminar de forma apoteótica na Catedral de Santo Antônio em Juiz de Fora, dia 9. À ocasião, quis-se celebrar também os aniversários natalício e episcopal do Pastor arquidiocesano, autor deste artigo. Tudo se resumiu em muita oração, na vibração dos cânticos, nas profundas meditações sobre a vida de Jesus à récita do Rosário, mas, sobretudo na Eucaristia, fonte e cume de toda a vida cristã. Houve, desde a linda procissão luminosa da madrugada até a celebração da noite, presença de milhares de pessoas.

Duas palavras bíblicas se uniram para iluminar as celebrações: a oração de Santa Izabel, mãe do Precursor São João Batista, que exclamou ao ver se aproximar Maria pela primeira vez depois de ter sido fecundada pelo Espírito Santo: "Como posso merecer que a mãe de meu Senhor me venha visitar!" (Lc. 1,43) e o diálogo de Jesus com Pedro no último encontro do Mestre com seu principal discípulo, após a ressurreição, quando o Senhor lhe questiona três vezes: Simão, tu me amas? Ao que responde Pedro: Sim, Senhor, Tu sabes que te amo (Jo.21, 17).

Estes colóquios de amor se encontram. O amor supremo de Deus está francamente presente no momento da encarnação do Verbo, quando Maria é saudada pelo Arcanjo Gabriel com o solene "Ave, Cheira de Graça"! A graça é fruto do amor, é doação de quem é amado e é recepção daquele que oferece sua genuína resposta de amor. Aquela predestinada desde o jardim do Éden para ser a mãe do Salvador oferece sua adesão amorosa ao plano de misericórdia do Pai. Ela sabe bem que o Pai a ama com amor de perfeição. Não cabe em seu coração qualquer possibilidade de dar-lhe resposta negativa. Pelo contrário, se maravilha diante de Deus e canta seu Magnificat: O Senhor fez em mim maravilhas, porque santo é o seu nome (Lc. 1, 49). Aquela foi predestinada a ser mãe do Salvador, não se precisa fazer perguntas sobre o amor.

Também Pedro, mesmo sendo humanamente frágil, se torna um gigante da fé, quando afirma com sinceridade, coragem e disposição, que seu amor a Cristo é incondicional.
Diante de Pedro e de Maria está a realidade da Igreja a quem ambos são chamados a servir, cada um a seu modo.

A alevantar ações de graças pelo dom da vida e pelo décimo quinto aniversário episcopal, mais uma vez constatei coram Deo: toda vocação deve ser um ato sublime de amor, um lançar-se confiadamente nas mãos do Senhor e não se perguntar como solucionaremos as coisas quando vierem a acontecer, pois para o amor não há necessidade de previsões. Basta a total entrega, a confiança incondicional. Eis o que se percebe em Maria e em Pedro, duas respostas diferentes ao mesmo amor divino.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora