Oppenheimer: a trágica história do 'pai' da bomba atômica
“Agora, tornei-me a morte, a destruidora de mundos” (Bhagavad-Gita).
Contar um relato sobre guerra, presume muita ação, tensão, corpos espalhados, explosões entre outros elementos palpáveis que denotam o horror que esse evento trágico compõe. O realismo desse acontecimento histórico é sempre observado de diversas formas, muitas vezes visceral, para trazer à razão de quem as observa, que, como certa vez uma frase dita por pessoa pública e ilustre, e aqui ressignificada, uma guerra sempre será uma batalha em que nenhum lado ganha ou perde. Todos perdem.
Ironias à parte, é imprescindível reafirmar que a guerra, seja ela em qual contexto se forma, é um horror que marca para sempre a história da humanidade. E como se sabe, a Segunda Guerra Mundial, constante e repetidamente explorada no cinema, é o acontecimento mais catastrófico bélico já registrado.
Mas em seu décimo segundo filme, Nolan, que já retratou a guerra em seu filme Dunkirk, nos presenteia com uma história que, apesar de se pautar em uma produção mais documental e política, é tão aterrorizante e catastrófica quanto àquelas já experienciada em obras mais realistas do gênero.
Isso porque, ao contar a história de J. Robert Oppenheimer, conhecido como o pai da bomba atômica, o famoso diretor utiliza o seu dom e obsessão pela não linearidade temporal, criando um estudo de personagem tão minucioso, que exige total atenção do espectador, para compreender não só o momento temporal em que se constrói a narrativa, mas para que se observe a façanha a qual o seu enredo pretende apresentar.
E para isso, além da atenção redobrada, o público necessita se valer do raciocínio ágil para acompanhar as informações precisas, importantes e relevantes, literalmente atiradas em cada diálogo de forma embaralhada, mas não confusas, criando um quebra cabeça a ser montado.
Com atuações excepcionais capazes de exprimirem e imprimirem a veracidade que a narrativa propõe, a idealização de um cenário devastador se torna palpável à medida que fatos que se apresentam tanto nos planos sequências, apenas com as nuances detalhadas na tensão dos discursos, quanto na expressão e composição de cada personagem.
E a genialidade da metalinguagem narrativa é tão absurda, que o público não necessita testemunhar o cenário de uma explosão, para tomar dimensão do resultado catastrófico que se resulta daquela ação.
É justamente por se distanciar de outras obras sobre a guerra, que Oppenheimer se destaca, uma vez que, embora se componha de várias excelentes e espetaculares cenas de tensão, ação e suspense, em uma atmosfera que só Nolan é capaz de criar com elementos visuais impressionantes e arrebatadores, o seu horror está nas entrelinhas do pensamento crítico, que leva o espectador a uma conclusão não apenas ameaçadora, mas traumatizante e aterrorizante que certamente perdurará na sua mente por alguns dias, talvez por muito tempo.
Oppenheimer é de longe, a obra mais excêntrica de Nolan, porém não menos importante, talvez, seu melhor desempenho como diretor e roteirista, podendo se consolidar como emblemática na história do cinema, que não só merece ser vista, como testemunhada por sua importância e relevância no contexto histórico e social atual.
Nota: 10