Som da Liberdade - 2023
Um agente federal atuante contra criminosos de pedofilia, ao se envolver em uma história de tráfico de crianças, resolve se arriscar para salvar uma dupla de irmãos que foram raptados.
O filme independente, estrelado por Jim Caviezel (que interpretou Jesus, no filme polêmico de Mel Gibson) conta uma história real sobre um ex agente que se arriscou para salvar a vida de centenas de crianças raptadas pelo tráfico sexual de menores e, com essa premissa, é evidente que a trama não será nada leve.
E para além disso, o filme que começou a ser produzido em 2015, somente agora conseguiu chegar às telas de cinema. E essa demora, se deve ao fato do baixo patrocínio, além de grandes polêmicas envolvendo toda a produção do longa, dentre elas, as incitações da extrema direita sobre acusações de que a pedofilia é financiada pelos partidos políticos de esquerda.
As infundadas afirmações acabaram por prejudicar essa obra, que inicialmente é preciso fomentar que, independentemente de quem a financiou, é importante dada as estatísticas sobre a escravidão sexual infantil existente na América Central. E o filme narra esse quadro, mesmo com poucos dados científicos, deixando claro que é preciso estar atento e disposto a debater sobre o assunto tão pesado e delicado.
Deixando as especulações externas de lado, vale ressaltar que o filme possui uma boa direção, e atuações convincentes, principalmente quando se trata das personagens infantis, que com apenas alguns minutos em cena, conseguem despertar toda angústia, compaixão e empatia no espectador. O filme comove ao tentar simular a realidade dessas crianças sendo abusadas física e psicologicamente em seus respectivos cativeiros.
E, ao contrário do que se pode imaginar, não há chamada apelativa quando a trama aborda a história sobre essa perspectiva do olhar assustado e traumatizado das vítimas. O equívoco narrativo se constrói no personagem protagonista da trama, que passa a ser retratado como redentor. E é necessário enfatizar que a culpa não é do ator, que vale ressaltar, está ótimo em seu papel, visto o carisma que Jim possui diante das câmeras.
Aqui, o problema está na construção do personagem, que se mostra indiferente à situação das vítimas e, num estalo provocado por um colega de trabalho, se torna um salvador disposto a dar sua vida por todas as crianças que vivem aquela realidade cruel, mesmo que isso resulte em deixar sua família órfã. E tudo se torna ainda mais inverossímil, quando em poucos minutos, ele obtém o apoio de toda sua família, corroborando para uma vertente martírica pautada num discurso religioso.
Por se tratar de uma história real, fica evidente que a indiferença inicial configura uma tentativa de criar um ato heroico do personagem, sendo que isso seria perceptível diante da sua sequência narrativa. Ainda, o roteiro peca ao deixar de transmitir o seu recado na sua construção narrativa, para abordar o tema em um discurso preparado e que é jogado ao espectador somente durante os créditos
Mas tais deslizes não diminuem a qualidade e importância dessa obra, que ultrapassa os limites da biografia, trazendo uma mensagem importante sobre um assunto delicado, mas que é necessário para refletir e debater.
O Som da Liberdade é um filme emocionante de uma história de resgate, e uma obra que traz a importância de pautar como debate político e de segurança pública, o combate à pedofilia.
Nota: 7.2