O Irlandês (2019)
Irishman é um verdadeiro estudo de personagem, que ultrapassa as histórias convencionais de gângsteres, trazendo os efeitos direitos e realistas na vida de uma pessoa que envereda nas veias do crime organizado.
Sem levar nenhuma estatueta na cerimônia do Oscar 2024, um dos mestres da direção cinematográfica Martin Scorsese saiu injustiçado, mesmo com um trabalho memorável, importante e arrebatador, que ele nos concedeu com seu filme ‘Assassinos da Lua das Flores’.
E uma das obras mais importantes de sua carreira, que também foi injustiçada na premiação Hollywoodiana, está em catálogo na Netflix, e que merece muito a atenção de quem é fã desse gênio da sétima arte.
Quando Martin Scorsese criticou a Marvel por não considerar os filmes da indústria dos heróis cinema, pareceu arrogante, presunçoso e até recalcado. Ainda que possivelmente seu discurso tenha sido relativamente ofensivo, ele sabia exatamente o que estava falando.
Isso porque o cinema é muito mais que entretenimento. E embora uma obra ou outra das indústrias de produção populares conseguem imprimir temas e reflexões sociais importantes (vide Pantera Negra, Mulher Maravilha e Capitã Marvel), a maioria quase absoluta é apenas distração e não arte, como o cinema deve de fato ser considerado.
Mas deixando a crítica ao puro entretenimento de lado, ao observarmos o novo filme de Scorsese, é inegável o fato de que cinema está além de efeitos especiais e estúdio verde. Muito além da pirotecnia, o cinema é uma arte que provoca, transgride, causa desconforto (com propósito de causar movimento) e reflexão.
E O Irlandês é uma obra-prima em todos os aspectos: o filme é primoroso desde a iluminação a edição; do roteiro bem construído à direção magnifica (sem presunção); Fotografia marcante e direção de arte impecável. Trilha sonora e atuações brilhantes, a trama é muito mais que uma sequência narrativa de um homem que deixa de ser caminhoneiro para se tornar um assassino integrante da máfia italiana.
Irishman é um verdadeiro estudo de personagem, que ultrapassa as histórias convencionais de gângsteres, trazendo os efeitos direitos e realistas na vida de uma pessoa que envereda nas veias do crime organizado.
E apesar da sinopse resumida, ao assistir essa obra que vale frisar, tem exatas três horas e meia de duração, a narrativa minuciosa e provocativa, nos captura para acompanhar a trajetória desse protagonista nada convencional, embora se enquadre em um enredo possivelmente justificativo, entregando para o espectador, uma construção perfeita e humana da torpeza como uma extensão da personalidade.
E embora o filme não seja para todos os públicos, é indiscutível que ele é sim, cinema de verdade, que sabe exatamente o que provocar quem provocar e porque provocar. Um dos melhores filmes da carreira de Scorsese.
Nota: 10 (Disponível na Netflix)