Uma Prova de Coragem (2024)
Confira a coluna de Clayton Inácio.
Três anos após fracassar em uma competição, o atleta de corridas Michael Light ainda segue frustrado por ter como último desafio, uma marca negativa. Com o apoio de sua esposa, e um desejo de auto reparação, ele se lança em um novo campeonato de corrida para tentar encerrar de forma magistral sua carreira.
O novo filme escrito pelo mesmo roteirista de ‘Os Indomáveis’ e ‘O vencedor’, conta a história real desse atleta que, após competir em uma corrida na República Dominicana, tem um encontro com um cãozinho muito astuto, que vai fazer essa trajetória tomar rumos bastante inesperados.
Inicialmente é preciso dizer que o roteirista Michael Brandt sabe como narrar acontecimentos de forma convidativa, ao traduzir de forma sensível e realista as suas adaptações. E aqui nesse novo filme, ele não faz diferente. No papel do protagonista, Mark Wahlberg que possui um carisma natural, se encaixa perfeitamente no papel de um homem que é amável, mas muito marcado por esse fantasma que o persegue desde o seu fracasso pessoal e profissional.
E ao se atrever a encarar um desafio de larga escala, o seu entusiasmo e sua gana o colocam diante de situações em que precisa encarar realidades que não se dá conta pela cegueira do ego, ao valorizar conquistas materiais em detrimento de grandes realizações que obteve ao longo da vida.
E é nesse aspecto aqui, que o filme, embora dotado de muitas cenas de aventura, tensão e emoção, deixa bastante a desejar, principalmente quando se trata deste último artifício. Isso porque a direção, embora operante, não sabe dosar esses momentos com equilíbrio, resultando em uma quase empolgação, quase sensação de calafrio e quase choro.
E a montagem do longa enfatiza essa disparidade, ao enquadrar essas sensações nos atos, tornando tudo muito mecânico, deixando a construção narrativa nada orgânica, onde o espectador precisa ligar uma espécie de botão para imergir na história que está sendo apresentada. Essa dissonância acaba por evocar um estado meio apático do público, uma vez que sempre que a trama caminha para o ápice, nos vemos obrigados a desacelerar as emoções porque há um corte abrupto na sequência narrativa.
E esse jogo inconsistente resulta em um terceiro ato apelativo, que embora cause certa comoção, não consegue convencer a quem assiste o drama do personagem, causando certa combinação entre a empatia e a indiferença, quando a proposta narrativa seria promover o êxtase combinado com a satisfação.
Ainda assim, o filme é cativante, principalmente quando nos deparamos com o cãozinho que fala com os olhos, demonstra toda sua trajetória sofrida e por quem o público torce desde a primeira aparição. Apelidado de Arthur, o “doguinho” é o coração da trama, que consegue nos envolver de forma tão genuína, que acabamos por deixar de lado toda dramaticidade humana que são expostas mas nunca sentidas por aqueles personagens, ressaltando essa apatia sentimental da construção narrativa.
Em síntese, é um filme biográfico de tom mediano, que carrega bastante falhas na sua execução, resultando numa obra de possibilidades desperdiçadas, mas que traz em sua construção, bons momentos de aventura e emoção, com uma camada ainda mais cativante por seu personagem não humano, que renderia uma boa história para aquele filme de uma tarde em casa, ou um domingo em família. Uma obra que diverte, mas que não se compara com tantas outras já contadas no cinema, e não sob a ótica realista da biografia, mas na sua maneira de ser contada nas telonas, tornando-se um filme esquecível, se comparado com outros filmes semelhantes.
Uma Prova de Coragem é um filme que tem seu encanto para um dia de chuva, ou aquele almoço da família, mas que se perde no seu contexto construtivo, deixando o espectador exatamente na expectativa de sua proposta, mas que nunca alcança esse resultado esperado, mas que se encarado como um momento de descontração em família, consegue divertir e aquecer o coração.
Nota: 6,2 (em exibição nos cinemas)