Seus Direitos
Outra coisa ? mudar a mentalidade dos
professores. Para aprender, n?o ? necess?rio que se leiam dezenas de peda?os
de textos. Antes se usavam manuais, que n?o fazem qualquer sentido hoje em
dia e sempre foram uma p?ssima op??o. ? perfeitamente poss?vel organizar um
excelente curso baseado na leitura obrigat?ria de 2 ou 3 livros, um curso
que se apoiei nesses livros e no conhecimento mais abrangente do professor.
Mas isso requer professores dispostos a trabalhar mais, a usar mais a
imagina??o, a ter maior seguran?a argumentativa, etc., coisa que n?o ? f?cil
de encontrar numa escola como a de hoje, que est? em crise.
? verdade que os livros nem sempre possuem um pre?o acess?vel. Mas muitas
vezes encontramos edi?es a bons pre?os. ? uma quest?o de h?bito e de
atribui??o de valor. Por que ? que se compraria um livro de 25 reais para um
curso em que haja pouca din?mica intelectual, ou pouco empenho pedag?gico,
se com essa quantia eu posso comprar v?rias outras coisas? No caso de
car?ncias extremas (em que a op??o fica entre comprar um livro ou comprar
comida, por exemplo), d? pr? entender.
Mas em outros casos, a ?nica
conclus?o ? que se trata de maus h?bitos intelectuais. Estudar a s?rio,
adquirir uma boa e s?lida forma??o, n?o ? algo poss?vel sem investimentos
efetivos e sistem?ticos -- e despesas financeiras com livros precisam ser
inclu?das nesses investimentos. Fora da?, mergulhamos num mundo
excessivamente rom?ntico ou paternalista.
ACESSA.com -
Como isso acontece h? anos, e as pr?prias universidades possuem
diversos pontos de xerox em seus campus, voc? pensa ser poss?vel acabar
ou, pelo menos, diminuir este tipo de crime, que, algumas vezes, os
alunos nem sabem que est?o cometendo?
Marco Aur?lio Nogueira - Primeiro, acho que se deveria "descriminalizar" isso, pelos motivos a que me
referi acima. Vai-se fazer o qu?? Prender o aluno, o professor ou o dono da
xerox? Exigir repara?es por perdas e danos? A quest?o ? de crit?rios. A
reprodu??o de textos ? uma ferramenta de trabalho e deveria ser encarada
assim. Livros podem ser fetiches, mas c?pias xerox n?o. As universidade e os
professores deveriam incentivar pr?ticas intelectuais alternativas, nas
quais os livros (inteiros) tivessem lugar de destaque. A din?mica atual,
por?m, ? quantitativista: vale mais aquele que controla mais informa?es,
que l? mais migalhas de livros, que se refere a maior n?mero de autores,
etc. De repente, o professor acha que, para ser bem avaliado por seus pares
e por seus estudantes, ele precisa organizar cursos com dezenas de p?ginas
picadas de leitura.
Os pr?prios estudantes deveriam fazer algo nessa
dire??o. Por exemplo: se o livro ? caro (coisa que nem sempre ?), que se
comprem livros em grupo, de modo a compartilhar o custo. Usado o livro, ele
pode ser emprestado ou revendido para o colega que far? o curso no ano
seguinte. Os "sebos" existem tamb?m para isso, n?o apenas para p?r rel?quias
? venda.
ACESSA.com - A reclama??o dos estudantes ? que nem sempre
conseguem encontrar uma
bibliografia dispon?vel na Biblioteca. Ou, se existe, a quantidade de
livros n?o ? suficiente para atender a demanda. O que voc? pensa sobre isso?
Marco Aur?lio Nogueira - As bibliotecas deveriam ser o cora??o das escolas e particularmente das
universidades. Deveriam ter a bibliografia dos cursos, com certeza, e com um
n?mero de exemplares compat?vel com o n?mero de alunos. Para isso, por?m,
teriam de dispor de uma verba gigantesca, e hoje, al?m de livros, as escolas
demandam computadores, espa?os, equipamentos, bons sal?rios para
professores e funcion?rios, subs?dios para moradia e alimenta??o, e mil
outras coisas.
Como compatibilizar? Algo sempre pode ser feito, e ? a? que
entra a criatividade dos bibliotec?rios, dos diretores e reitores, dos
professores e dos estudantes, das editoras e dos livreiros. N?o h? f?rmula
m?gica. No fundo, as pessoas deveriam parar de pedir tudo, e de querer tudo
ao mesmo tempo, e partir para um planejamento mais criterioso das solu?es.
Confundir indigna??o, cr?tica e agita??o com paralisia propositiva ?
p?ssimo, pois nos empurra para tr?s.
ACESSA.com - O que voc? pensa sobre a "pasta do professor" (pasta
com livros e
textos que o professor disponibiliza na ?rea de xerox da faculdade)? Sua
exist?ncia deveria ser proibida ou ? um "mal necess?rio"?
Marco Aur?lio Nogueira - A id?ia das "pastas" ? muito pouco eficiente. D? a ilus?o de que se est?
resolvendo um problema, mas na verdade s? acaba por prolong?-lo.
Instrumentaliza a leitura, e dificulta a rela??o de prazer entre leitor e
texto. O xerox ? feio, suja as m?os, ? dif?cil de ser guardado e ? mais
perec?vel que um livro. Didaticamente, pode at? ter um sentido, mas ? algo
imediatista. Se vier a ser inevit?vel (podem existir cursos que necessitem
de dezenas de textos), que a pasta seja implementada com algum crit?rio. Por
exemplo: ponham-se na pasta apenas artigos de revistas, jamais peda?os de
livros. Um livro est? esgotado, ? raro e imposs?vel de ser comprado? Ent?o,
que se fa?am logo dez c?pias dele e se ponha tudo na biblioteca.
Paralelamente, que se incentivem os alunos a comprar livros.
Um estudante
universit?rio que n?o se preocupe em formar a sua biblioteca pessoal est?
num caminho equivocado. Um professor que d? cursos em cima de "textos" e n?o
de livros, que privilegia o fragmento ilustrativo em vez das grandes id?ias
ilustradas, ? algu?m que precisa receber uma forma??o adicional.
O mundo eletr?nico tamb?m nos oferece algumas op?es. Muitos autores
disponibilizam seus artigos ou mesmo cap?tulos de seus livros na Internet.
Muitas revistas acad?micas t?m tamb?m uma vers?o digitalizada, f?cil de ser
acessada. Podem ser organizados grupos de discuss?o entre alunos e
professores, nos quais alguns artigos s?o franqueados aos participantes.
Alguns textos podem ser lidos na tela do computador, nem precisam ser
xerocados. S?o poucos os que t?m acesso a computadores e redes, ? verdade,
mas a tend?ncia ? de expans?o -- de maior "inclus?o digital", como se fala
-- e dever?amos desde j? come?ar a nos preparar para isso.
Marco Aur?lio Nogueira - Numa era de reprodutibilidade t?cnica turbinada (isto ?, em que tudo pode
ser facilmente reproduzido), parece-me perda de tempo brigar com as c?pias
de livro. ? mais sensato tentar encontrar um ponto de equil?brio. Os autores
poderiam abrir m?o de direitos autorais e os editores diminu?rem seus
lucros, por exemplo. Nada a ver com "propriedade intelectual", que deve
continuar a ser respeitada plenamente. Mas o "dono" de uma id?ia n?o precisa
necessariamente ganhar dinheiro com ela, e mesmo que queira fazer isso n?o
precisa faz?-lo mediante livros.