Série sobre violência policial pode definir voto dos indecisos, diz atriz

Por FILIPE PAVÃO

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - 30 anos após chegar às livrarias, o livro "Rota 66 - A Polícia Que Mata", do jornalista Caco Barcellos, vai virar uma série dramatúrgica para o Globoplay. A produção narra a investigação do repórter sobre o assassinato de três jovens da periferia de São Paulo. No processo, ele descobre mais mortes provocadas por grupo de matadores que opera com o aparente aval da justiça militar.

A atriz Naruna Costa dá vida a Anabela, uma mulher que tem a vida "destruída" após o marido inocente ser assassinado pelos policiais da Rota. Na história, a personagem se converte em uma ativista contra a violência policial nas periferias. A 13 dias das eleições, ela acredita que abordar o assunto pode ajudar a definir o voto dos eleitores indecisos.

Mas a atriz conta que lançar o projeto durante o período eleitoral, marcado pela polarização política entre Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro, também gera preocupação sobre o tema não ser absorvido pelos telespectadores como deveria ser. Os dois primeiros episódios serão divulgados na próxima quinta-feira.

"É uma série que pode prestar um serviço muito forte a respeito do debate do tema, que é o genocídio negro no Brasil, mas como a gente está num Brasil muito polarizado, onde as discussões vão ficando cada vez mais sem escuta, meu medo é o da série não ser absorvida de uma forma mais porosa por todas as pessoas", diz.

Por isso, ela argumenta que gostaria que a série chegasse ao streaming em um momento mais calmo, com menos polarização, mas que, ainda assim, é um trabalho que serve para fazer refletir quem está disponível para tal.

"Em um momento mais calmo, na minha opinião, poderia ser mais interessante. No entanto, acredito que ela também vai prestar aos que estão dispostos a tal escuta. Os que já decidiram e estão na defesa de seus pontos de vista terríveis, os mais reacionários, eles não estão dispostos a esse momento, eles estão com os ouvidos fechados. Mas tem alguns que conseguem ter os olhos e ouvido abertos e atentos, que ainda não tenham entendido muito que se trata essa polarização, talvez a série sirva muito bem", pensa.

Isso porque a série trata de um assunto que permeia a história do nosso país: a violência policial contra os mais pobres, em especial, a população negra. Para ela, não é difícil identificar quais candidaturas estão alinhadas ao combate e quais fomentam essa violência.

"A série trata de um livro lançado há 30 anos, mas ela também percorre anos de um Brasil que está muito próximo do que a gente está vivendo, não é difícil fazer esse paralelo e pensar que vale a pena se debruçar de uma forma carinhosa sobre esse tema e, aí dimensionando aos nossos candidatos e candidatas, não fica difícil fazer uma boa escolha", diz.

"Vai prestar serviço, sim, aos que estão disponíveis e quem sabe futuramente, quando a poeira (da polarização) abaixar um pouco, vai prestar um serviço importante aos que estão com os ouvidos e olhos fechados hoje para essas questões", finaliza.