SPFW vai do clima de balada sombria à praia erótica em seu primeiro dia de desfiles
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A São Paulo Fashion Week começou em clima de festa nesta quarta-feira, dia 16, ao som de Diana Ross e Gal Costa. A grife carioca Patricia Viera trouxe para a passarela um desfile de roupas cintilantes feitas em couro, o principal material de trabalho da estilista de mesmo nome.
Jaquetas prateadas, vestidos verdes e um conjunto formado por saia e casaco prateado com degradê de vermelho e dourado -certamente as duas peças mais fortes do desfile-- parecem prontos para serem vestidos em uma festa. Tudo brilha nesta celebração de gente rica, de clima cool e algo distante.
Esta vibe mudou completamente no segundo desfile do dia, o da etiqueta baiana Meninos Rei, no qual os modelos -quase todos negros-- eram recebidos com gritos histéricos pela plateia, como se público e casting fossem de uma mesma comunidade.
Os modelos também se divertiram, é claro. Deborah Secco, uma das estrelas da apresentação, dançou enquanto desfilava um conjunto de calça, top e mangas com influência da estamparia africana, bem colorido.
A Meninos Rei, note-se, não trabalha com sobriedade: óculos de armação laranja neon e camisas masculinas amplas na cor amarela mostram só parte da paleta solar dos irmãos Júnior e Céu Rocha, coqueluches da moda nacional. Eles também investiram em muitas peças com rosa, roxo e branco.
Desfilando numa sala menor, a Soul Basico fez em seguida uma apresentação em preto e branco, numa vibe monocromática de peças "clean". A marca masculina trabalha bastante com neoprene, material que dá um ar futurista às capas, camisetas, moletons e casacos. Mas nada lembra o oceano, o tema da coleção -é tudo um pouco sisudo, exceto os colares com cristais gigantes como pingentes.
O quarto desfile do dia foi da estreante Greg Joey, marca que trouxe vestidos longos e com plissados, do tipo que uma personagem da "Família Addams" usaria -peças contidas, castas, que guardam o corpo das tentações.
A referência a filmes clássicos de terror é o mote da coleção desenhada por Lucas Danuello, chamada "Slasher Tour", e aparece também em estampas gráficas nas camisetas de gola redonda avantajada e alongadas. Lembra as peças de Alexandre Herhchcovitch do início dos anos 2000.
Os góticos seguiram na passarela. Com a maestria adquirida em seus mais de 30 anos de carreira, Walério Araújo levou ao máximo o clima soturno que a Greg Joey havia apenas começado. O estilista querido do underground paulistano espalhou cruzes e caveiras em peças extremamente bem acabadas, com silhuetas que valorizam o corpo ao invés de escondê-lo. Sai a castidade e entra a luxúria.
Embora o preto tenha sido a cor dominante, como nas peças em renda e na calça jeans puída com argolas douradas, a paleta de Araújo inclui também o rosa, usado em blazers masculinos e em vestidos. Mas é um rosa do desejo, longe do movimento "Barbiecore" que tomou a moda este ano.
Araújo trouxe para a passarela nomes conhecidos da cena noturna paulistana, como a modelo Marina Dias e o DJ Johnny Luxo, para desfilarem ao som de pós-punk, a trilha gótica por excelência.
Já Renata Buzzo, com sua moda autoral e feita sob demanda, quebrou o clima sombrio de balada. O universo da estilista é onírico, habitado por mulheres consideradas loucas, como ela explica no material do desfile. Suas modelos usam vestidos brancos, azuis e off-white cheios de detalhes, que combinam com chinelos de pelúcia.
Com a plateia impaciente, a Bold Strap começou o último desfile da quarta com uma hora e meia de atraso. O que se viu foi uma moda praia com referências do universo sadomasoquista, se é que isso faz sentido. Sunga rosa que deixa às nádegas à mostra, transparências também rosas com alta carga erótica, faixas que se entrelaçam pelo corpo como enfeites.
Com exceção de um maiô jeans, nada parece fácil de vestir, embora funcionasse como figurino do cenário do desfile -uma praia de areia rosa frequentada por personagens meio humanos, meio extraterrestres.