Casal de 'Heartstopper', Kit Connor e Joe Locke falam de pressão para sair do armário

Por LEONARDO SANCHEZ

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Foi praticamente sem pausa para descanso que os protagonistas de "Heartstopper" emendaram o fim das gravações da segunda temporada da série com o voo que os trouxe a São Paulo no último fim de semana, onde participaram da CCXP, a Comic Con Experience, feira de cultura pop mais importante da América Latina.

De surpresa, a Netflix anunciou Joe Locke e Kit Connor para compor o painel robusto que montou quando o evento já estava acontecendo, mas nem assim inibiu os fãs que foram às pressas para a porta do hotel onde a dupla ficou, na zona sul da capital paulista.

É que "Heartstopper", por mais despretensiosa e juvenil que seja, mexeu com os corações de uma legião de espectadores que hoje se mostra fiel à história de amor narrada na série. No Brasil, foi assunto frequente nas redes sociais quando estreou, num frenesi que foi revivido com a CCXP ?não era raro ver seus personagens estampando artes vendidas na Artists' Valley, seção da feira dedicada a desenhistas e cartunistas.

Cercados por uma enorme equipe que filmava, captava áudio, tirava fotos, arrumava os modelitos e assessorava o entra e sai de jornalistas na parte do hotel transformada em quartel-general da plataforma, Locke e Connor pareciam os próprios personagens Charlie Spring e Nick Nelson na manhã seguinte à participação na feira.

Estavam tímidos, simpáticos, bem arrumados e, pode-se dizer, "fofos", como a internet decidiu resumir suas personalidades fora das telas e o namoro que engatam nelas.

"Há muitas séries no streaming que são idealizadas já sabendo que farão sucesso, mas ?Heartstopper? não pretendia alcançar milhões de espectadores, era algo centrado num público jovem e queer específico, mas é ótimo que tenha saído dessa bolha", diz Connor, o mais falante entre eles, ao comentar o sucesso da série.

Não é só percepção de fã que ele e Locke sejam quase cópias dos personagens adolescentes que interpretam, apesar da diferença de idade ?eles têm 18 e 19 anos, respectivamente. O segundo ator, afinal, resume seu trabalho na série como uma imitação de quem ele era aos 14, só que mais introvertido.

Os dramas enfrentados em cena, também, replicam alguns pelos quais ele, gay como seu personagem, passou. Locke, portanto, sabe bem o que é não se ver refletido nas telas, e comemora o fato de "Heartstopper" integrar uma leva de obras recentes que levam temas LGBTQIA+ para crianças e adolescentes.

"Qualquer representação queer que eu via enquanto crescia era tabu ou feita para gente adulta. ?Heartstopper?, por outro lado, lida com os mesmo temas que produções mais maduras, mas de uma forma leve, que te permite ver a luz no fim do túnel sempre. É algo importante para os tempos em que vivemos", afirma.

Tempos de gritaria dos dois lados, os protagonistas sabem bem. Connor, recentemente, se viu obrigado a sair do armário contra a sua vontade, depois de ser acusado de fazer "queerbaiting", de se promover em cima do público LGBTQIA+.

Isso porque ele não havia falado publicamente sobre sua sexualidade e havia quem o cobrasse por interpretar um personagem queer, na adaptação de uma série de quadrinhos que foi concebida justamente para tratar de uma série de temas caros especificamente a esses jovens.

"Eu sou bissexual. Parabéns por forçar um jovem de 18 anos a se assumir. Eu acho que alguns de vocês não entenderam a mensagem da série. Tchau", escreveu ele nas redes sociais no mês passado.

Questionado sobre a situação, ele tenta apaziguar os ânimos. Disz simplesmente que o impacto do sucesso de "Heartstopper" em sua vida foi enorme, para o bem e para o mal. Mas que, no final das contas, ele está feliz por realizar o sonho de ser ator numa trama com a qual várias pessoas podem se relacionar.

"Eu não sinto que preciso advogar pela causa LGBTQIA+, não é uma necessidade. Mas é algo que eu genuinamente quero fazer. É importante para mim e para o Joe", completou, então, antes de se despedir.