Latino diz ser vítima de censura e defende Bolsonaro

Por ANA CORA LIMA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Um dos mais ativos e engajados defensores de Jair Bolsonaro nas redes sociais antes da eleições, o cantor Latino não esconde a decepção com o resultado das urnas mas diz que não há sentimento de derrota. Ao F5, o intérprete de "Festa no Apê" afirma que seu candidato é um vencedor: "Basta colocá-lo na rua e ver como o povo o recebe, o admira", justifica.

Latino se queixa de ter sido vítima de censura ao ter suas redes bloqueadas por ordem judicial antes do segundo turno, quando insinuou que, se Lula fosse eleito, banheiros do país passariam a ser unissex.

O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entendeu que a publicação buscava "desinformar a população acerca de temas sensíveis". Ou seja: fake news. O cantor ainda não se conformou com a decisão. "Os censores da atualidade confundiram o cidadão Roberto Souza Rocha com o artista Latino", afirma.

Ela conta que, apesar de manter uma relação de certa proximidade com Bolsonaro (os dois almoçaram juntos durante a campanha e costumavam trocar elogios recíprocos), não o procurou após as eleições. "Não me senti no direito de incomodá-lo. Mas sei que, caso o procurasse, ele seria receptivo como sempre foi com todos". Ele nega as informações publicadas na internet de que estaria planejando sair do Brasil para não viver no país sob o governo de Lula.

PERGUNTA - Como você recebeu a derrota do seu candidato?

LATINO - Não houve derrota. O presidente Bolsonaro é um vencedor, independente do resultado nas urnas. Basta colocá-lo na rua e ver como o povo o recebe, o admira. Quanto ao resultado das eleições, fiquei triste, mas vida que segue.

P. - Já esteve em alguma vigília, como a atriz Cássia Kis? Pretende participar de algum protesto?

LATINO - O meu posicionamento político foi exposto em minhas redes. Não tenho medo de me apresentar nem de mostrar o que penso. Faço por convicção e amor ao Brasil. Infelizmente e, de maneira equivocada, fui tratado como uma espécie de radical. Mas, o que mais lamento é ter sido vítima de censura. [Latino teve as contas no Twitter e no Instagram bloqueadas por ordem judicial].

P. - Como viu a presença do filho de Jair Bolsonaro no Qatar no início da Copa enquanto seus apoiadores estavam acampados na porta de quartéis?

LATINO - Na condição de amante do futebol e patriota, vale a presença no evento. Como parlamentar, se trata de um evento de confraternização global com várias personalidades importantes do cenário mundial. Em qualquer uma dessas hipóteses, acho que nenhum de nós tem informações suficientes para fazer juízo de valor sobre a viagem do Eduardo Bolsonaro. Quanto às vigílias, trata-se de um movimento popular orgânico e espontâneo.

P. - Bolsonaro está incomunicável desde a derrota. Você tentou falar com ele?

LATINO - Não acho que esteja incomunicável. Eu não tentei falar com ele. Bolsonaro é o presidente do Brasil, não dá para ficar tomando o tempo dele à toa, e não me senti no direito de incomodá-lo. Mas sei que, caso o procurasse, ele seria receptivo.

P. - É verdade que você pensa em sair do país?

LATINO - Por quê?! Sou brasileiro com muita honra e a minha camisa sempre será verde e amarela. Jamais abandonaria o barco por causa de uma maré mais intensa. O Brasil é minha base e meu lugar.

P. - O que achou da lista de cantores que vão cantar na posse de Lula?

LATINO - Confesso que não acompanhei a lista. Acredito que devem ser nomes consagrados da música nacional. Só espero que quem for cantar o faça como brasileiro, e não visando o dinheiro. Espero que não seja uma participação visando abrir portas para arrecadar recursos públicos como os que são oferecidos pela Lei Rouanet, por exemplo. Se a participação for por convicção política, que ela seja como doação.

P. - Acredita que os artistas que apoiaram Bolsonaro publicamente possam sofrer algum tipo de retaliação no próximo governo?

LATINO - Querer reduzir a questão a "artista apoiador do Bolsonaro" x "artista não-apoiador do Bolsonaro" é minimizar demais o que estamos vivendo.

P. - Mas há algum temor em relação a isso?

LATINO - Não dependo nem quero depender de dinheiro público. Quero o "meu público" e a maior retaliação que eu poderia sofrer, já sofri. O público é o que me sustenta e as minhas redes são os canais de acesso para a contratação dos shows. Os censores da atualidade confundiram o cidadão Roberto Souza Rocha com o artista Latino. Isso precisa parar. O Brasil precisa ser livre.

P. - São 31 anos de uma carreira de altos e baixos, com sucessos e críticas também. O que ainda te move?

LATINO - Trabalho com um ramo que puxa nossa idade para baixo (risos) e que me faz ter vontade de de continuar cada vez mais forte. A música é minha alma e por isso me vejo sempre como um novato.

P. - O que espera para 2023?

LATINO - Lá atrás, eu vislumbrei o desejo de retomada em 2022. Política à parte, olho para 2023 como um ano que possa ser muito bom. Sempre procuro pensar de forma positiva.