Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, vai virar uma unidade do Sesc
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Teatro Brasileiro de Comédia, conhecido como TBC, vai ser transformado numa nova unidade do Sesc, a ser inaugurada. O edifício, que é tombado como patrimônio histórico, fica localizado no bairro do Bexiga, no centro de São Paulo.
A assinatura de cessão de uso do imóvel acontecerá nesta quarta-feira (21), com a presença da cúpula do Sesc e da Funarte, a Fundação Nacional das Artes, órgão do governo federal responsável pela gestão do TBC desde 2008.
Um novo capítulo relevante de uma novela que se arrasta há pelo menos duas décadas, a mudança sinaliza o fim do declínio de um prédio que abrigou um dos grandes marcos culturais de São Paulo e do Brasil. Localizado na rua Major Diogo, o edifício estava fechado e, apesar de intervenções feitas pela Funarte, enfrentava desgastes crescentes na sua estrutura.
Serão necessários cerca de dois anos para a elaboração de um projeto arquitetônico que definirá as intervenções para adaptar o antigo prédio a uma unidade do Sesc, de acordo com Danilo Santos de Miranda, diretor-geral do Sesc-SP. As obras, por sua vez, devem se estender por seis anos.
Não está definido o escritório de arquitetura que vai assumir o trabalho.
O contrato fechado com a Funarte prevê a ocupação do TBC pelo Sesc durante 35 anos, sujeitos à renovação pelo mesmo período. Entre as contrapartidas previstas no acordo, estão a manutenção do nome, que será chamado de Sesc TBC, e da vocação do espaço para o teatro.
O programa de reformas, que custará cerca de R$ 30 milhões, inclui novos espaços no imóvel, como é praxe nessas unidades. Haverá espaço para crianças e prática de ginástica, por exemplo, mas as artes cênicas manterão papel protagonista.
Com cerca de 250 lugares, a principal sala da Funarte será reaberta como espaço teatral, como era antes, e representará a grande atração do local. Não está definida, por ora, a finalidade da segunda sala.
Neste prédio, em 1948, o empresário italiano radicado no Brasil Franco Zampari fundou a companhia Teatro Brasileiro de Comédia, trazendo da Europa encenadores de ponta, como Adolfo Celi, além de técnicos experientes. Juntaram-se a eles alguns dos melhores atores jovens brasileiros da época, como Cacilda Becker, Cleide Yáconis, Paulo Autran e Nydia Licia.
Há três anos, a atriz Denise Fraga à Folha de S.Paulo que o "TBC foi realmente a raiz de uma árvore muito frondosa". Está ligado à origem de companhias fundamentais para a história das artes cênicas no Brasil, como o Teatro de Arena, grupo de José Renato e Gianfrancesco Guarnieri, que surgiu como uma espécie de reação ao TBC. O Teatro dos Sete, formado por Fernanda Montenegro, Sergio Britto, Gianni Ratto e Ítalo Rossi, também está vinculado aos primórdios da criação de Zampari.
INÍCIO DAS NEGOCIAÇÕES EM 2016
"A proposta original foi feita da Funarte para o Sesc", lembra Miranda, que aponta como determinantes as conversas iniciais em 2016 com Marcelo Calero, à frente do Ministério da Cultura do governo Michel Temer.
Foi Calero quem apresentou a iniciativa, que foi bem recebida pela direção do Sesc. Humberto Braga, presidente da Funarte, e seu sucessor, Stepan Nercessian, levaram adiante as negociações.
Iniciado o governo Jair Bolsonaro, em 2019, as relações entre Funarte e Sesc esfriaram, segundo Miranda. "Nunca nos disseram que não queriam avançar com o projeto, mas não havia uma resposta clara a esse respeito."
A parceria só foi retomada efetivamente com a chegada de Tamoio Marcondes no primeiro semestre de 2021 ao comando da Funarte, tornando-se o sexto presidente da fundação ao longo dos anos Bolsonaro.
"É um caminho vastíssimo de respeito à cultura, em especial ao teatro", afirma Miranda sobre a relevância da retomada do espaço. Ele lembra, entre outros momentos, a passagem de Antunes Filho pelo TBC nos anos 1950. Décadas depois, o diretor se consagraria como coordenador do Centro de Pesquisa Teatral (CPT), na unidade Consolação do Sesc.
Miranda também ressalta a importância da intervenção naquela área do Bexiga. "Precisamos ajudar na recuperação daquela região da cidade, que está um tanto deteriorada."