Primeiro-ministro britânico e Salman Rusdhie reprovam censura a Roald Dahl

Por MARCELLA FRANCO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Autor de clássicos como "Matilda" e "A Fantástica Fábrica de Chocolate", o autor inglês Roald Dahl, morto em 1990, virou alvo de debate a respeito do politicamente correto na literatura infantojuvenil nesta semana. Uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Telegraph na sexta (17) mostra que centenas de trechos de livros do autor foram modificados em novas edições.

De acordo com o selo Puffin, da Penguin, editora que publica Dahl na Inglaterra, a decisão tem como objetivo tornar os trechos "mais adequados ao leitor moderno".

O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak criticou a decisão. Seu porta-voz reportou que Sunak acredita que "trabalhos de ficção devem ser preservados e não apagados".

"Quando se trata de nossa rica e variada herança literária, o primeiro-ministro concorda com o BFG [Grande Gigante Amigo, na tradução em português], que diz que não se deve 'gobblefunk' com as palavras", seguiu o porta-voz.

"Gobblefunk", nos termos de Dahl, significa algo como "estragar", "brincar sem responsabilidade".

No Twitter, o autor Salman Rushdie publicou sua opinião. "Roald Dahl não era nenhum anjo, mas é absurda essa censura", disse o autor de "Versos Satânicos". "[A editora] Puffin Books e o agente de Dahl deveriam se envergonhar".

Para a Roald Dahl Story Company, as edições, que vêm sendo feitas desde 2020, foram "pequenas e cuidadosamente observadas".

Entre as modificações estão a forma como o personagem Augustus Gloop é descrito em "A Fantástica Fábrica de Chocolates" -de "gordo" ele passou a ser chamado de "enorme", enquanto Mrs. Twit, do "Os Pestes", deixou de ser "feia e bestial" para ser apenas "bestial".

No Brasil, há discussão semelhante em relação à obra do escritor Monteiro Lobato, acusado de racismo em seus livros infantojuvenis.