Morre Juca Chaves, o menestrel maldito que desafiou a ditadura, aos 84
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Morreu na noite deste sábado (25) Juca Chaves, o menestrel maldito, aos 84 anos. Ele estava internado há 15 dias no hospital São Rafael, em Salvador, com problemas cardiorrespiratórios. A informação foi confirmada pela administração do cemitério Bosque da Paz.
Unindo humor à música, Chaves se notabilizou por incomodar, nos anos 1960, a ditadura com suas modinhas e trovas. Entre suas composições mais conhecidas, estão "Caixinha, Obrigado!", "Take Me Back To Piauí" e "A Cúmplice". Exilado do Brasil na década de 1970, o artista foi morar em Portugal, onde também desagradou o regime político da época.
Num show no Teatro Tivoli, irritou as autoridades portuguesas, fazendo uma piada com o ditador António de Oliveira Salazar. Os órgãos de repressão não concordaram com sua arte liberal, e Chaves rumou para um novo exílio, agora na Itália.
Nascido no Rio de Janeiro numa família judaica, Jurandyr Czaczkes Chaves teve formação em música erudita, compondo aos 12 anos, sua primeira modinha. Ainda na infância, se mudou para São Paulo e passou a frequentar o Clube Pinheiros. Ali conheceu Ana Maria, sua musa, para quem dedicou várias canções.
Sempre acompanhado de seu alaúde, ganhou do poeta Vinicius de Moraes o apelido de menestrel maldito. No início da carreira, novamente no Rio de Janeiro, montou um circo, nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas. No local, recebia empresários, políticos e moradores de uma favela vizinha.
Vinte anos depois, fez sucesso, apresentando sua obra em programas de rádio e televisão. Na mesma época, fundou sua gravadora própria. Ficou conhecido pelos bordões, entre eles o mais famoso era "vá ao meu show e ajude o Juquinha a comprar o seu caviar". Segundo Jorge Amado, Chaves tinha "a voz mais livre do Brasil".
Em 2006, Chaves tentou se aventurar na política. Foi candidato ao Senado pelo PSDC e fez poemas para tentar angariar votos. "Desta vez baiana gente, baiano de toda cor, o seu voto inteligente com justiça com amor, não será voto comprado, se tivermos no Senado, Juca Chaves senador". Acabou terminando as eleições em quarto lugar.
Nove anos depois, voltou aos holofotes, satirizando a política brasileira e defendendo a Operação Lava-Jato. Há duas décadas, morava em Itapuã, em Salvador. Durante a carreira, sempre ironizou a mídia, tendo com a imprensa uma relação tensa. Em dado momento, chegou a ser boicotado por jornais e revistas.
Desde 1975, era casado com Yara Chaves. Ele deixa duas filhas, Marina Morena e Maria Clara. O corpo de Juca Chaves será cremado neste domingo no Cemitério Bosque da Paz, na capital baiana.