Aos 69 anos, ex-Frenéticas vive matriarca em 'Encantado's' e quer retomar carreira musical
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sempre lembrada como uma das vocalistas do grupo As Frenéticas, Dhu Moraes, 69, tem investido mais no lado atriz nos últimos anos. Além de ter atuado em diferentes novelas, como "Êta Mundo Bom!" e "Novo Mundo", e interpretado a Tia Nastácia do "Sítio do Picapau Amarelo" entre 2001 e 2006, ela agora poderá ser acompanhada semanalmente na tela da Globo em "Encantado's".
A série de comédia, lançada pelo Globoplay em novembro do ano passado, terá exibição todas as terças-feiras, após a novela das 21h na TV aberta. Na trama, ela vive dona Ponza, mãe dos protagonistas Eraldo (Luis Miranda) e Olímpia (Vilma Melo). Os dois filhos se veem em pé de guerra ao terem que administrar um supermercado e uma escola de samba da série D do Rio de Janeiro, herdadas do falecido pai e funcionando em um mesmo espaço no subúrbio da cidade.
Viúva, dona Ponza demonstra mais carinho por Eraldo, situação que já lhe rendeu comentários inesperados. Certa vez, Dhu conta que estava no cabeleireiro e foi cobrada por uma anônima sobre por que ficava sempre do lado do filho. "Não adianta, mãe sempre tem preferência (risos)", afirma ela à reportagem. "A minha mãe, na vida real, gerou 10 filhos, então eu sei do que estou falando."
Além de administrar a família, a personagem vive andando por Encantado (o bairro da zona norte do Rio que deu origem ao nome da série) com sua motinha elétrica. Ela também é cortejada por Madurão (Tony Ramos), um bicheiro do bairro, com quem viverá um inesperado "affair". "Juro que não é clichê, mas foi um presente dos deuses poder atuar com um dos atores mais sensíveis, inteligentes, íntegros da TV", diz sobre o colega.
Para além da conquista pessoal, Dhu comemora o espaço que os negros têm conquistado na televisão. Ela recorda de uma viagem, cerca de dez anos atrás, em que esteve no Moçambique e ligou a TV: só havia pretos. Agora, ela começa a ver uma movimentação semelhante no Brasil, com mais artistas afrodescendentes. Em sua análise, lembra-se de uma frase da minissérie "Tenda dos Milagres", de 1985.
"O Pedro Arcanjo [interpretado por Nelson Xavier] dizia: 'Que luta mais comprida'. É algo que vem de muitos anos, demos saltos grandes, mas a luta ainda não acabou. Os atores pretos estão mostrando do que são capazes, sendo chamados por talento mesmo. Já vemos uma luz no fim do túnel", afirma.
SEMPRE FRENÉTICA
Dhu garante que sente saudades dos tempos em que se apresentava no sexteto de disco music, assim como vive sendo cobrada pelos fãs por um retorno aos palcos. Sobre isso, ela antecipa que deve se lançar em carreira solo "muito em breve". "Eu estou sempre cantando, tem os musicais por aí, mas eu vou fazer um trabalho musical mais para o fim do ano. E não, não vai ter nada a ver com As Frenéticas", afirma.
A girlband, que fez muito sucesso do final da década de 1970, se tornou um símbolo de luta feminina e é, até hoje, recordada por sua ousadia. Em suas composições, as vocalistas diziam que eram "bonitas e gostosas". "Nós éramos ousadas, mas não faltávamos com o respeito", pontua a atriz e cantora.
"Tenho total consciência da minha importância, mas isso não me faz ser esnobe, sempre vou amar atender fã", comenta. "Tínhamos uma com um timbre gostoso, outra era a gordinha sensual, uma magra de belas pernas... As Frenéticas era uma união de mulheres diferentes, que podiam fazer tudo."
A artista conta que a saudade da família sempre foi algo que a deixava muito sensível no período em que estava viajando para fazer apresentações com o grupo pelo Brasil e pelo mundo. "O que mais sinto falta é voltar para casa e ter a família me esperando. E da comida da minha mãe", detalha.
Quanto à passagem dos anos, Dhu garante que não tem problemas com envelhecer. Quando perdeu sua avó, em 1994, lembra que se questionava sobre ficar velha. "Minha mãe dizia: 'É a lei natural da vida, Dhu'. Mesmo assim, ficava um pouco 'preocupada'."
"A verdade é que gosto de mim, sigo fazendo tudo o que quero, mas vou ficando mais seletiva com tudo ao meu redor", afirma. "Acho maravilhoso, por exemplo, poder me apaixonar e inventar paixões platônicas... Aí a gente não sofre (risos)."