Feiras ArPa e Made querem um ritmo menos frenético para seus visitantes

Por JOÃO PERASSOLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Menos é mais. Este parece ser o lema que norteia a ArPa, nova feira de arte que chega nesta semana à sua segunda edição, no estádio do Pacaembu, em São Paulo, a partir de quinta-feira (1°), quando abre para os visitantes.

Isto porque os cerca de 50 expositores da feira foram aconselhados a mostrar em seus estandes apenas um ou poucos artistas. "A ArPa nasceu com este propósito, é uma feira com outro ritmo, menos frenético", afirma a organizadora do evento, Camilla Barella, ao caracterizar o ambiente da feira como um local de silêncio visual.

Ao se estabelecer no mercado como uma feira de porte médio, o número de galerias da ArPa é cerca de metade do da SP-Arte, o maior evento do setor. Mas isto não significa ausência de nomes de peso -casas importantes como Almeida e Dale, Gomide & Co, Mendes Wood DM e Raquel Arnaud estarão presentes no Pacaembu, ao lado de jovens como Mitre e Galatea e de galerias do México, do Uruguai e da Argentina.

Deste país vem um dos destaques do evento -a galeria Isla Flotante, sediada em Buenos Aires, apresenta o artista argentino Valentín Demarco, que usa sua formação em ourivesaria para tratar do universo gay. Ele criou, por exemplo, um plug anal masculino que serve também como cuia para tomar mate, trabalho que faz um comentário à tradição dos pampas.

Outros estandes a se prestar atenção são os da galeria Gustavo Rebello, com mostra em comemoração aos cem anos de nascimento e 50 de morte do pintor e gravador Ivan Serpa, Fortes D'Aloia & Gabriel, com solo de Cristiano Lenhardt, e Luciana Brito, galeria que apresenta trabalhos inéditos de Fernando Zarif, figura emblemática da cena artística paulistana das décadas de 1980 e 1990 -serão expostos objetos, pinturas e fotografias Polaroid.

Assim como no ano passado, junto à ArPa acontece a Made, ou Mercado Arte e Design, feira que chega à sua 11ª edição com 50 expositores de mobiliário e objetos. Enquanto no evento de arte a ideia é apresentar menos artistas, a Made também está mais enxuta -são menos participantes em relação ao ano passado, com o intuito de deixar a experiência mais fluida para o público, diz Waldick Jatobá, um dos organizadores.

Além disso, não há divisão de estandes, ou seja, as peças ficam expostas umas ao lado das outras, diminuindo a cara de feira do evento.

Um dos destaques da Made será a apresentação de cinco cadeiras Paulistano, um clássico de Paulo Mendes da Rocha, feitas em colaboração com a aldeia Kamayura, localizada no Xingu, no Mato Grosso. Os indígenas teceram manualmente capas de tecido em fibra natural para a cadeira, num projeto capitaneado por Naná Mendes da Rocha, filha do arquiteto, que teve início em 2019, quando ele ainda era vivo, e que chega agora à sua conclusão.

Jatobá conta que uma questão central para os designers hoje é a sustentabilidade. "O design que não tem preocupação com o meio ambiente, com o processo sustentável, que não tem uma preocupação com o entorno do seu ofício não se sustenta", afirma. "Para a gente é até redundante ficar falando dessas coisas."

Na feira, isto aparece, por exemplo, nos vasos de Carol Gay, que trabalha com vidro reciclado, e nas criações de Pedro Leal. O designer de Niterói usa madeira Pinho de Riga que encontra em assoalhos de casas do Rio de Janeiro para produzir bancos, banquetas, tábuas e centros de mesa. Guilherme Saas, também de Niterói, é outro talento que se vale de vigas e forros de demolições para produzir, por exemplo, casinhas de passarinho em peroba do campo que servem também como porta-chaves.

Por fim, Jatobá destaca o fato de muitos expositores produzirem eles próprios as peças que expõem e comercializam, sem depender de uma fábrica, o que torna a Made uma vitrine para o design autoral brasileiro.

FEIRAS ARPA E MADE

Quando De qui. (1°) a dom. (4); qui. a sáb., das 13h às 20h30, dom., das 11h às 18h

Onde Pavilhão Pacaembu - pça. Charles Miller, s/nº, São Paulo

Preço R$ 60; ingresso único para as duas feiras