Emmy 2023 mostra que, exausto, todo mundo viu as mesmas séries

Por LUCIANA COELHO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Poderia ser uma premiação interna da HBO, mas é o Emmy, honraria mais popular da indústria da TV.

Praticamente todo ator com mais de cinco falas em "Succession" concorre neste ano, se não como protagonista ou coadjuvante, como convidado (são 15 nomeações de atuação, entre as 27 que a produção teve). Coisa similar ocorreu com "White Lotus" (23 indicações). E "The Last of Us" (24).

Todas são HBO, encabeçam a lista de finalistas de 2023, e somadas às 11 de "Barry" e 8 de "A Casa do Dragão", amealharam para a marca 93 menções.

A plataforma só não dominou as categorias de minissérie e antologia, sua seara tradicional, na qual apenas Jesse Plemons, arrasador como de costume em "Amor e Morte", concorre como ator. A genial "Treta", da Netflix, sobressai nessa leva da premiação, na qual também brilham "A Nova Vida de Toby" (FX/ Star+) e "Dahmer" (Netflix de novo) -as três, em graus distintos, tratam de lados humanos sombrios reprimidos sem sucesso.

Tudo, na lista do Emmy deste ano, é superlativo. São mais de 20 mil votantes, um recorde de participação segundo a organização, e 21 séries indicadas como "melhor".

O número supera o de outras premiações e reflete, desde 2015, a chamada "peak TV", a era do excesso de produções.

Desta vez, ao menos, a multiplicação de indicações para os mesmos títulos e a falta de novidades maiores converge com o que apontou a crítica e o público consagrou.

Em 2022/2023, parece, estávamos todos assistindo às mesmas coisas, porque há tanta oferta no ar e se tornou tão complexo navegar por todas as plataformas que, paradoxalmente, é cada vez mais difícil "descobrir" algo novo.

Com exceção de "The Last of Us", que adapta um game popular, nenhuma das campeãs é estreante. Obras como "Ted Lasso", "Abbott Elementary" e "A Maravilhosa Sra. Maisel" também se mantêm nas listas como nos últimos anos.

O mesmo ocorre nas categorias de atuação, nas quais Elisabeth Moss recebe sua 15ª nomeação e Bob Odenkirk, a 19ª. Sim, ambos são sempre um espetáculo, e June Osborn e Saul Goodman/Jimmy McGill são papéis incríveis. Podemos dar isso como fato consumado e deixar os dois como hors concours.

Dos 22 concorrentes nas categorias principais de atuação de drama e comédia, só 4 estreiam na lista do Emmy: Bella Ramsey, que pode levar pela Ellie de "The Last of Us"; Jenna Ortega, cuja Wandinha se entranhou no imaginário pop, Jeremy White Allen, que brilha em "O Urso", a melhor e mais original série do ano (não é "Succession"), e Jason Segel, com o papel de sua vida "Falando a Real" (Apple+), ao lado de Harrison Ford.

Eis que a novidade não está em nomes nem títulos, mas no movimento em si: a superpopularização da HBO frente à Netflix, à Amazon Prime e a todo resto mostra que o antigo canal a cabo fez a transição para o streaming com sucesso.

Sempre lembrada por produções esmeradas e preços acima da concorrência, a TV produzida pela HBO costumava mirar nichos, não massas.

Quando o aumento exponencial do acesso à internet (e o streaming) teve nas produtoras o efeito que a água tem sobre Gremlins, fazendo pipocar uma horda de criações mal-ajambradas, a HBO penou e manteve seu norte.

Houve pequenas concessões de formato para um público mais amplo ("Succession" é quase novela; "The Last of Us" mantém a estrutura de game; e "A Casa do Dragão" retém a primazia do gênero fantasia para o canal). O preço também se tornou mais palatável.

Pelo que nos diz o Emmy, deu certo. Bastante certo.