Depoimentos de atrizes contra Melhem detalham assédio sexual e beijos forçados
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depoimentos das atrizes Ellen Roche, Karina Dohme e Suzana Pires, dados em setembro de 2021 ao Ministério Público do Trabalho (MPT), integram o processo criminal contra o ator e ex-diretor de humor da TV Globo Marcius Melhem, que virou réu em agosto deste ano sob acusação de assédio sexual.
Dentre os gestos abusivos descritos nos depoimentos, estão os de que Melhem apertava a cintura e cheirava o pescoço das colegas, fazia comentários de cunho sexual, além de insistir que queria fazer sexo com elas. Os trechos foram divulgados neste domingo pela colunista do UOL Juliana Dal Piva.
Nesse processo, a Justiça aceitou denúncia do MP-RJ, e ele se tornou réu contra três mulheres, as atrizes Carol Portes e Georgiana Coutinho Goes, e uma editora da TV Globo. Outros oito casos prescreveram, segundo a promotoria.
Após prestarem esclarecimentos no compliance da Globo, Roche, Dohme e Pires foram intimadas pelo MPT. Os depoimentos colhidos nesta instância foram então enviados para o MP-RJ e passaram a constar dos autos da ação.
Em maio, o MPT ajuizou uma ação civil pública contra a TV Globo pelas denúncias de assédio sexual que envolveram o ex-diretor do departamento de humor da emissora Marcius Melhem. A empresa tem de responder por suposta omissão em relação aos fatos narrados pelas vítimas. O caso aguarda sentença na Justiça do Trabalho.
Em nota enviada à reportagem por meio da assessoria de comunicação de Melhem, os advogados Ana Carolina Piovesana, José Luis Oliveira Lima, Letícia Lins e Silva e Técio Lins e Silva escrevem que os depoimentos já foram "exaustivamente esclarecidos desde 2021", ainda que constem da denúncia (veja a íntegra da nota abaixo).
Nas redes sociais, Melhem nega as acusações do UOL e anuncia a live para segunda (18), às 19h.
Como o caso de Karina Dohme já prescreveu, a atriz é apontada pela promotoria como testemunha. Em seu depoimento, Dohme diz que Melhem "apertava a cintura e cheirava o pescoço das colegas", fazia "gemidos lascivos" e chamava as mulheres de "gostosas" e "delícia".
Dohme alega também que, pouco antes de ser afastada da Globo em 2015, ela teria subido ao apartamento de Melhem numa noite, pois ele disse que iria entregar algo a ela. No local, teria a empurrado com brutalidade, a beijado, levantado seu vestido e abrindo o zíper da calça.
A atriz diz ter ficado "muito assustada com a situação e, nos dez primeiros segundos", cedido ao beijo, até que o empurrou após "se dar conta da situação". Em uma reunião poucos dias depois, ela afirma ter sido demitida e informada de que seu contrato não seria renovado.
Ellen Roche foi intimada a prestar depoimento ao MPT, o que aconteceu em 29 de setembro de 2021, após prestar declarações ao compliance da TV Globo. Ela relata que Melhem fazia brincadeiras de forma reiterada, tais como falar "mulherão, ah, se ela me desse bola", mas que ela não teria sabido diferenciar se eram cantadas ou brincadeiras.
Em 2015, Melhem teria oferecido carona a Roche, que recusou e pediu à atriz Maria Clara Gueiros que a acompanhasse. Em depoimento de 18 de agosto de 2021 à Polícia Civil do Rio de Janeiro, no processo de assédio sexual contra o diretor, Gueiros afirmou que Roche "desesperada bateu no vidro do carro e pediu desesperadamente que a levasse para qualquer lugar, pois queria evitar ficar sozinha com Melhem".
A atriz Suzana Pires prestou depoimento na Ouvidoria das Mulheres no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), e depois falou duas vezes no âmbito do MPT, em setembro de 2021 e em julho de 2023. Ela afirma que era a única mulher da equipe de roteiristas, junto de oito homens.
Um dia, conforme o depoimento, Melhem teria saído de um banheiro no ambiente de trabalho apenas de cueca, dizendo: "Suzana, vamos resolver nossa história". Ela diz ter sentido muita raiva, que começou a reagir e que, a partir de então, seu trabalho começou a ser desvalorizado.
Em julho passado, Pires retificou sua posição, e sua advogada peticionou nos autos do processo que ela passaria de vítima a testemunha. Segundo o documento, ela teria deposto no processo do MPT a pedido de outras vítimas, para contribuir para "eventual contextualização do caso, se fosse necessário". Os fatos relatados, no entanto, não foram objeto de retificação.
Íntegra da nota da defesa de Marcius Melhem:
"É importante registrar, desde logo, que Marcius Melhem não teve acesso à íntegra dos depoimentos no Ministério Público do Trabalho, não é investigado no processo trabalhista e, portanto, não teve oportunidade de contestar as mentiras contidas nos depoimentos ali prestados. Exatamente por isso, esses depoimentos são agora trazidos a público, sem que Melhem tenha tido a oportunidade de desmascarar tais mentiras. Além disso, o que o UOL chama de 'depoimentos inéditos', na verdade, já foram exaustivamente esclarecidos desde 2021. Nesse sentido, pelo bem da verdade, cabe informar que:
- Suzana Pires, após o mencionado depoimento ao MPT, destituiu a advogada Mayra Cotta e pediu ao Ministério Público do Rio de Janeiro que fosse retirada da lista de supostas vítimas;
- Karina Dohme jamais apareceu como suposta vítima no MP, onde Melhem poderia mostrar muitas comunicações que desmentem narrativas como as mencionadas pela jornalista. Talvez por essa razão, também tenha desistido de aparecer como testemunha na investigação policial;
- Quanto a Ellen Roche, a própria imprensa já divulgou mais de uma vez partes de seu depoimento no MP em que nega acusações de assédio e afirma que trabalharia novamente com Melhem, já que não tem nada contra ele.
Registre-se, mais uma vez, que Melhem não é alvo de investigação no MPT e que, por isso, não pode lá se defender. E na instância onde foi investigado, nenhuma das três se apresentou como suposta vítima.
Trazer à opinião pública três casos já esclarecidos de não-vítimas é mais uma tentativa de manter acesa uma acusação que não se sustenta.
Ao requentar notícias já expostas, deveria a imprensa também lembrar aos seus leitores que o MPT traz uma carta da TV Globo afirmando, após intensa investigação, que não se comprovou assédio de Marcius Melhem."