Alexandre Herchcovitch leva prestígio à Casa de Criadores em desfile de poucas caveiras

Por JOÃO PERASSOLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Há um ano, Alexandre Herchcovitch fez o desfile que marcou o retorno de sua marca homônima depois de sete anos de hibernação. A volta do estilista, um dos nomes mais conhecidos da moda brasileira mesmo por quem nunca comprou uma peça sua, foi um olhar para os 30 anos de sua grife, materializado em camisetas, moletons, meias, tênis e bolsas estampados com uma caveira.

O símbolo, muito associado às suas criações, vai praticamente sair de cena na segunda coleção de retorno do estilista, o desfile do verão 2023 e 2024, que o paulistano apresenta nesta terça-feira (5), abrindo a Casa de Criadores, no Centro Cultural São Paulo.

"É todo o lifestyle de quando nós estamos numa praia, mas a gente não mora na praia. A gente viajou para a praia e levou essa roupa. É um desfile muito solar. Vão ter pouquíssimas peças com caveira", afirma Herchcovitch, acrescentando que a coleção, embora use materiais como o elastano, tradicionalmente empregado em maiôs em biquínis, não será de moda praia.

Seu desafio desta temporada, ele conta, era passar a amar peças que não ama, como as calças boca de sino que estarão na passarela. Na busca por inovação, Herchcovitch criou roupas de neoprene estampado que saem prontas de uma máquina usada para a produção de tênis esportivos. Serão mostrados também looks de festa em seda e uma linha em jeans.

Aos 52 anos, o estilista não se acomoda nos louros de uma carreira bem-sucedida e segue empreendendo. Até abril do ano que vem, haverá 700 produtos com o seu nome no mercado, lançados sob o licenciamento de sua marca para a Tok&Stok, de objetos para o lar, a Zelo, de cama e banho, e a CNS, de calçados. Ele também faz planos de abrir uma loja própria em São Paulo, mas para isso ainda não há data.

Herchcovitch começou a desfilar em 1993 e logo caiu no gosto dos fashionistas e do povo da noite paulistana, um universo que frequentava. Para a as suas criações em moda masculina e feminina, olhava tanto para o universo esfumaçado das pistas de dança underground quanto para ícones do imaginário brasileiro, como a pombagira e o mestre do terror Zé do Caixão.

Sua roupa, feita pelas mãos de costureiras e alfaiates, nunca foi barata, mas também não era tão cara a ponto de afastar quem queria participar de seu universo. No auge da marca, na virada da década de 1990 para os anos 2000, ele chegou a ter nove lojas próprias ?incluindo uma no Japão? e cem pontos de venda no Brasil.

Em paralelo, lançou uma popular linha de louças para a Tok&Stok e outra, igualmente conhecida, de jogos de cama para a Zelo, de modo que quem não estava atento em sua costura poderia entrar em contato com a caveirinha de outra forma.

Em 2013, Herchovitch vendeu sua marca para a InBrands, gigante do setor têxtil que comanda grifes como Ellus e Richards. Três anos mais tarde, a Alexandre Herchcovitch saiu de cena e o estilista abraçou outros projetos, como a marca de upcycling ALG, de peças de valor acessível feitas com a reutilização de tecidos, e a À La Garçonne, com vestuário de preços mais elevados. Os licenciamentos praticamente sumiram do mercado.

A dificuldade de se fazer moda agora em relação a décadas anteriores, diz o estilista, é seduzir os consumidores. "Hoje tem muito mais concorrência dos que nos anos 1990, começo dos 2000. Tem que fazer algo muito autoral para que a pessoa fale 'eu só encontro isso na sua marca'", ele afirma, lembrando que o número de designers de moda explodiu durante o seu tempo de carreira.

Autoral é a palavra-chave da Casa de Criadores, na qual Herchcovitch vai desfilar a nova coleção. A semana de moda paulistana, que chega agora à sua 53ª edição, sempre foi conhecida por mostrar designers que estão começando, de estética mais experimental, em contraposição à São Paulo Fashion Week, que em geral reúne marcas de estrutura e público maiores.

"Não deixa de ser um reconhecimento do Alê [Alexandre Herchcovitch] ao trabalho que a gente faz há 26 anos", afirma André Hidalgo, o fundador da Casa de Criadores.

Este será o primeiro desfile de Herchcovitch, que por muito tempo participou da São Paulo Fashion Week, na Casa de Criadores, o que traz bastante prestígio à segunda semana de moda mais importante do país num momento em que sua irmã maior acaba de realizar uma edição sem marcas muito conhecidas.

Hidalgo afirma que, embora a origem da Casa de Criadores tenha sido em torno de etiquetas menores, algumas delas começavam a desfilar e não queriam mais sair de suas passarelas, a exemplo de Rober Dognani. Com o tempo, o evento passou a ser guarda-chuva para a moda autoral, abrigando tanto quem está começando quanto nomes já firmados.

Sediada mais uma vez no Centro Cultural São Paulo, um espaço da Prefeitura da cidade, a Casa de Criadores terá 29 desfiles, sendo dez de marcas estreantes, além de shows, performances, uma exposição com trabalhos de estilistas e oficinas de costuras para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

O evento abarca expressões em diversos campos artísticos, e isto se dá porque um dos objetivos da Casa de Criadores é reforçar a ideia de que moda é arte, de acordo com Hidalgo.

Um dos destaques da Casa de Criadores é o desfile do projeto Moda Inclusiva, capitaneado por Daniela Auler. São roupas pensadas para pessoas com deficiência, mas que à primeira vista não parecem peças especiais, a exemplo de calças que não escorregam na cadeira de rodas ou de itens com a etiqueta escrita em braile.

Outro momento esperado é, justamente, a apresentação do habitué Rober Dognani, sua 41ª no evento. "Ele vai fazer um desfile babadeiro, as pessoas vão ficar surpresas", diz Hidalgo. "Terá um clima sexy, um clima quente."

53ª CASA DE CRIADORES

Quando a partir de 5 de dezembro

Onde Centro Cultural São Paulo - r. Vergueiro, 1000, São Paulo

Preço Desfiles só com convites; shows e exposição abertos ao público

Link: https://casadecriadores.com.br/