Uma TV para as mulheres

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Uma TV para as mulheres
Ana Paula Ladeira 4/06/2016


Uma TV para as mulheres

Na última terça-feira, 31 de maio, a TV Mulher voltou ao ar, no canal Viva, depois de um hiato de 30 anos. Se, na década de 1980, o programa matinal da Rede Globo era considerado moderno ou vanguardista, pois tratava de temas considerados proibidos ou delicados, coube a uma Marília Gabriela mais madura a função de atualizar os debates que cercam o universo feminino. Hoje, ela volta para falar com uma mulher diferente, que talvez até considere banais os temas discutidos naquela época, mas que ainda tem muito para conquistar.

Na mesma semana em que a jornalista falou, em sua reestreia, sobre o empoderamento e o protagonismo da mulher na sociedade, os brasileiros se aterrorizam com a notícia de um estupro coletivo e o governo interino de Michel Temer tenta responder à comoção popular, através de um plano de medidas de combate à violência contra a mulher, anunciado meio aos tropeços. Há, portanto, um longo caminho a ser percorrido e, daí, a urgência de se trazer à discussão tantos avanços vivenciados pela sociedade nas três últimas décadas, sem negligenciar os muitos problemas ainda existentes.

Quem sabe, possa o TV Mulher fazer uma reflexão sobre a forma como a própria mídia vem tratando e retratando a mulher, especialmente nos programas de humor, nas propagandas de cerveja ou – surpreendentemente- nos programas femininos!

Pois é difícil supor que tantos humoristas tenham perdido a piada e precisem recorrer sempre à bela e voluptuosa mulher, desprovida de inteligência; ou que os publicitários não tenham nada de bom para falar sobre o seu produto, precisando apelar para a sensualidade feminina; e pior- que os produtores dos programas vespertinos continuem acreditando que as mulheres se interessem apenas por temas como decoração e culinária ou pelas fofocas das estrelas.

Aqueles que já se acostumaram à imagem feminina sexualizada na mídia talvez não se escandalizem com frases como “com aquela roupa, fez por merecer”, “não se deu o respeito”, ou a pior: “estava pedindo por isso”. É preciso, portanto, retirar da mulher a função de objeto de apelo para o consumo, é preciso informá-la, e sobretudo, valorizá-la.

Para quem se interessa e quer refletir no assunto, vale a dica: o documentário “Mulheres na mídia” (2011), de Jennifer Siebel Newson. Que o novo TV Mulher consiga trazer de volta a reflexão e traga uma nova imagem da mulher, muito além do estereótipo de rainha do lar, ou da moça fútil e vaidosa.


Ana Paula Ladeira é Jornalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisa assuntos relacionados especialmente à TV.

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