Problemas técnicos deixam As Mções de Chico Xavier atrás de outros do mesmo g?nero

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Paula Medeiros 8/4/2011


Problemas técnicos deixam As Mães de Chico Xavier atrás de outros do mesmo gênero

As Mães de Chico Xavier é mais um filme que entra para o hall do cinema espírita brasileiro. Mas ele não chega com a mesma força e nem cativa o público como seus sucessores. Isso se deve muito à perceptível inabilidade dos diretores na condução da trama. A quantidade de elementos gratuitos ou mesmo equivocados o fazem se arrastar durante as quase duas horas de duração, entediando o espectador e sobrepondo todo e qualquer charme que a trama poderia oferecer.

O longa narra o drama de três mulheres envolvidas em situações semelhantes, todas baseadas em dificuldades familiares. Ruth (Via Negromonte) tem um filho rendido ao vício das drogas. Lara (Tainá Muller) enfrenta uma gravidez não planejada e o total despreparo diante da situação. Elisa (Vanessa Gerbelli), mãe de Theo (Gabriel Pontes), compensa a ausência do marido, dedicando-se integralmente a seu filho. Cada história se desenrola à sua maneira, mas as três mantêm um elo, que se confirma quando todas resolvem buscar a ajuda do médium Chico Xavier (Nelson Xavier).

Ao tentar seguir um formato muito semelhante às obras de Iñárritu (Babel e 21 gramas), no que diz respeito às narrativas entrecortadas e, aparentemente, sem nenhuma relação, inúmeros takes são desperdiçados e, em alguns casos, equivocadamente usados.

A falta de continuidade do roteiro é outro problema recorrente e leva o espectador a acreditar numa atemporalidade inexistente. Ainda em relação à narrativa, é possível perceber diversas soluções clichês, como a utilização totalmente desnecessária de algumas fusões de imagem.

É fácil também notar, por meio da linguagem adotada, a aproximação do filme com produções feitas exclusivamente para televisão. Ele é facilmente desdobrável em diversos esquetes, que funcionariam, inclusive melhor, se constituíssem uma minissérie. Na verdade, é possível até que isso tenha sido pensado, uma vez que algumas produções brasileiras têm seguido esse caminho. Filmes como Divã e O Bem Amado e o seu próprio antecessor, Chico Xavier, já foram selecionados para tal formato.

Mas deixando de lado esse possível interesse comercial, o que realmente incomoda é a falta de conteúdo que preenche o filme. Diálogos desinteressantes e cenas totalmente sem propósito parecem rodear As Mães... em sua totalidade. A profundidade do tema parece não ter sido levada em consideração, com exceção apenas das cenas com fortíssimo apelo melodramático, intensificadas pelo uso massivo de câmeras lentas e de filmes em formato "caseiro".

Configurando mais um distúrbio no longa, aparece a má divisão das tramas, completamente injusta. As três hisórias-base do roteiro não têm o mesmo peso e não são divididas corretamente. As protagonistas da trama, Via Negromonte, Vanessa Gerbelli e Tainá Muller, também não sustentam a carga emocional de seus papéis. Vanessa é a que mais se aproxima do tom esperado, até porque seu papel parece ser o de maior destaque, mas a vantagem não chega a ser muita. Caio Blat volta em mais uma interpretação de si mesmo, do cara legal, correto e alto astral. O único destaque é Nelson Xavier, como não poderia deixar de ser, uma vez que o ator já havia sido aprovado pelo gosto popular na interpretação do mesmo papel, no ano passado, em Chico Xavier.

Intensificando o completo desencontro que traduz As Mães de Chico Xavier, surge a trilha sonora, de Flávio Venturini. Em total desalinho com as cenas, ela aparece, ora animada demais para o clima dramático, ora melancólica demais para a aura de superação.

A mensagem de esperança presente na temática do filme é o único aspecto que merece alguma compaixão ao final de tantos equívocos. Se isso fosse o suficiente para sustentá-lo, tudo bem. Mas não é. Acaba sendo como já dizia aquele velho ditado, "de boas intenções, o inferno está cheio".

As Mães de Chico Xavier

Brasil, 2011, 108 min
Drama
Direção: Glauber Filho, Halder Gomes
Elenco: Nelson Xavier, Vanessa Gerbelli, Via Negromonte, Tainá Muller.


Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos.