O Festival Varilux de cinema franc?s e seu ?Lulu?!
O Festival Varilux de cinema francês e seu "Lulu"!
Passada a observação, me sinto na obrigação de elogiar o evento. Em especial sua realização no Cinearte Palace. Isto porque, apesar da qualidade técnica inferior do lugar, o preço da sessão é consideravelmente mais atraente. E também porque está cada dia mais difícil termos a oportunidade de assistir nas telonas, aqui em Juiz de Fora, filmes com pouco apelo comercial. O que é uma enorme pena, porque, para a quantidade de pessoas que estavam nas sessões do festival, não ficou dúvidas de menos comerciais. que existe um público que aprecia filmes mais artísticos, menos "grandiosos".
"Lulu, nua e crua" trata da vida de Lulu, uma mulher de "meia idade" que decide se ausentar do lar e da família por uns dias. Uma decisão tomada por sua conta somente, a qual se dá após tentar arranjar um emprego fora de sua cidade e não conseguir. Para trás fica o marido, uma filha adolescente e dois meninos gêmeos. Apesar da pressão que sofre da irmã para voltar, Lulu mantém-se firme no propósito do afastamento temporário. Nesse ínterim, ela conhece algumas pessoas que terão grande significado e repercutirão de forma decisiva na vida que ela terá a partir de então.
O filme é muito bonito. Fala sobre uma mulher farta. Farta de uma vida imposta, sem prazeres, somente de servidão a uma situação que provavelmente muitas das mulheres do mundo se identificarão. Eu, humildemente, me esforço para compreender que os homens, quando são como o marido de Lulu, o são porque foram criados assim, dentro dessa cultura, dentro desses parâmetros do que é ser um homem "macho" e, ao mesmo tempo, numa ideia que lhes foi passada sobre o que é ser um pai de família. Mas o filme é sobre as mulheres, não sobre os homens.
Após receber a ajuda de um estranho, Charles, Lulu conhece, naquela altura da vida, o amor. Pela primeira vez o amor. E, na iminência da vida antiga querendo puxá-la de volta, o que se dá na figura da irmã e da filha que vêm em seu encalço, ela foge novamente, para se encontrar de novo com outras pessoas, e que será um encontro com ela mesma. Ao conhecer Marthe, Lulu tem a oportunidade de observar o que seria sua vida sem o marido e os filhos, mas também sem o amor. E, no convívio com a garçonete Virginie, ela pode assistir "de fora" sua própria história, conseguindo fazer a moça refletir se aquela vida de maus tratos e imposições é o que ela quer. Lulu decide-se por ser Virginie e Marthe, com o melhor que cada uma representou para ela.
Com um final lindo, "Lulu, nua e crua" é uma excelente opção de filme. É um deleite, um enorme deleite. Quando a filha adolescente consegue compreender o que a mãe viveu e as decisões que tomou, ela se abre para aquela nova vida também, quando aceita a chegada de Charles. E eu, enquanto público, permiti "Lulu" ser assimilado em mim como um belo toque de saber viver o melhor das coisas, e me esmerar para tomar as melhores e mais verdadeiras decisões. Não é fácil escapar das imposições. Mas é possível.
Lindo!
- O som de "A música nunca parou"
- Sobre "Entre nós"
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Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.