Sem clich?. Joel Pizzini fala do seu caso de amor com o cinema arte

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Sem clich? Em sua visita a Juiz de Fora, o cineasta Joel Pizzini
fala do seu caso de amor com o cinema arte

Renata Cristina
Rep?rter
25/10/2006

Ele ? um artista, embora seja conhecido no circuito como cineasta. Dono de um esp?rito cr?tico inquieto e "arqueol?go de nossa hist?ria", como ele mesmo define, Joel Pizzini ? o que poder?amos chamar de "o poeta das telas". O diretor ? conhecido internacionalmente por seus filmes dotados de estrutura po?tica, aos moldes do cinema de M?rio Peixoto, seu inspirador no of?cio.

"N?o uso narrativas convencionais", salienta. Com esse artif?cio, Pizzini conquista p?blico e cr?tica, atrav?s de trabalhos originais, experimentando novas linguagens e formatos para o cinema. O resultado dessa explos?o criativa est? nos pr?mios conquistados ao longo dos 18 anos de carreira. J? no in?cio de sua trajet?ria, em 1988, com "Caramujo-Flor", o diretor levou trof?u no Festival de Huelva, na Espanha, al?m de exibir o curta na TV alem?. No Brasil, Pizzini foi agraciado em diversos festivais, al?m de levar o Pr?mio Internacional de Cinema da Bahia, por "Enigma de um Dia" (1996), e o Pr?mio de Melhor Filme do Festival de Cinema de Bras?lia, por "500 Almas" (2004).

Pela primeira vez, o cineasta esteve em Juiz de Fora para proferir um curso a estudantes do curso de cinema. O convite foi articulado pelo amigo Robson Rumin, de Uberl?ndia, colaborador da cole??o Glauber Rocha. "Estou contente com a visita e quero voltar", adianta-se.

Atualmente, o sul mato-grossense faz ensaios documentais para o Canal Brasil, entre eles, lan?ou recentemente "Helena Zero", hist?ria sobre a atriz Helena In?s. Al?m disso, atua na restaura??o do trabalho de Glauber Rocha, co-dirigindo os extras que acompanham os DVD?s.

Com voc?s, Joel Pizzini. Mas nada de c?mera, luz e a??o! Confira a entrevista concedida ao portal ACESSA.com.

- Como surgiu o seu interesse pelo cinema?
O interesse veio ainda no curso de jornalismo. Me envolvi no diret?rio acad?mico da Universidade Federal do Paran?, onde reunimos 12 cursos, simultaneamente. Ali, pude me envolver com o jornalismo cultural e projetos ligados ao cinema, como cine-clubes, mostras e festivais. Como vim de Dourados, no interior do Mato Grosso do Sul, a vida cultural de Curitiba me influenciou muito.

- Qual foi a sua primeira experi?ncia no ramo?
Foi no filme "A Guerra do Brasil", de Sylvio Back, que contava a hist?ria da guerra do Paraguai, trabalhando como assistente de dire??o. Este foi o meu primeiro contato com as filmagens e o processo de execu??o em si. Me envolvi tanto, foi uma dedica??o t?o radical, visceral, que a pr?pria equipe de produ??o me incentivou a sair do interior para buscar o eixo Rio - S?o Paulo.

- O fato de vivido a inf?ncia em Mato Grosso do Sul - fora do eixo Rio - S?o Paulo - trouxe maiores dificuldades no seu trabalho?
O cinema ? uma arte industrial e na ?poca eu tive que vir para o eixo. Tudo aconteceu quando assisti o filme de M?rio Peixoto, "O limite", um filme completamente po?tico. Soube que ele morava em Angra dos Reis (RJ) e resolvi conhec?-lo. Conjuguei a vontade de saber quem era o M?rio com a de fazer cinema. Da?, fui a Angra, conheci M?rio Peixoto e passei a freq?entar a casa dele. Nessa fase, me surgiu a id?ia do projeto para o filme "Limite", um document?rio sobre M?rio. Acabei n?o realizando o projeto, mas ele me deu os direitos para fazer a hist?ria. J? estou escrevendo e vai se chamar "Mundeu - A inven??o de Limite". Meu projeto de vida ? realizar esse filme.

- Como nasceu o premiado "Caramujo-Flor"?
Paralalemente a esse encontro com M?rio Peixoto, surgiu um concurso para a Embrafilmes, e fiz o projeto para "Caramujo-Flor", inspirado na obra de Manoel de Barros. Como vivi em Campo Grande, tomei contato com o seu trabalho, um poeta que nessa ?poca vivia em completo anonimato, apesar de ter uma trajet?ria liter?ria e convivido na d?cada de 40 com Drummond, Jo?o Cabral de Melo Neto, entre outros poetas. Aprovado pela Embrafilmes, o filme foi lan?ado em 89 e o impacto foi muito grande, fato que me assustou.

- Como foi fazer o filme "500 Almas" com os ?ndios Guat?s?
Desde a minha inf?ncia, em Dourados, j? ouvia falar da tribo que estava ressurgindo na regi?o. Nos anos 90, decidi visitar a ilha dos Guat?s, no Pantanal, e formular um projeto sobre a identidade daquela cultura. Na verdade, n?o queria fazer um document?rio convencional e levei cinco anos nesse trabalho.

- Recentemente o longa-metragem brasileiro "Cinema, aspirinas e urubus" foi indicado para concorrer a uma indica??o de melhor filme estrangeiro no Oscar. Voc? acredita que o Brasil tenha chances de ser premiado?
? uma coisa meio Copa do Mundo, mas particularmente acho uma indica??o importante n?o pelo Oscar, mas pelo filme. Considero "Cinema, aspirinas e urubus" como o "Vida Secas" da era digital. Temos uma mentalidade muito colonizada de pensar que todos os filmes devem ter altos or?amentos e este prova que isso n?o ? necess?rio. Ser? que Hollywood n?o espera do Brasil um filme com a nossa cara?

- Voc? ? conhecido pelo lado po?tico e sens?vel de seus filmes. Por que o cinema e n?o a literatura?
Eu sofro muito escrevendo. A c?mera ? uma caneta para mim. Fui escolhido pelo cinema e acredito na capacidade de comunica??o plena que ele proporciona. Todos os sentidos est?o ali, s? falta o cheiro, o perfume. Talvez a literatura seja uma arte que eu deva prestar mais aten??o.