Festival é proibido proibir promove reflexções sobre a censura cultural

Por

É proibido proibir promove reflexão sobre censura cultural O evento, que ocorre entre os dias 15 e 18 de setembro,
marca os 45 anos do golpe militar 

Aline Furtado
Repórter
14/9/2009

Trazer à tona lembranças de uma época marcada pela repressão e promover debates a respeito do que este período trouxe para a cultura. Este é o objetivo do festival É proibido proibir, promovido pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), que ocorre entre os dias 15 e 18 de setembro no Museu Ferroviário de Juiz de Fora, localizado na avenida Brasil 2001, Centro. O evento faz parte da 3ª Primavera dos Museus, desenvolvida pelo Ministério da Cultura.

O festival, que tem entrada franca, contará com mesas redondas que abordarão temas como música, cinema, teatro e jornalismo, além da apresentação do Coral da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), exposições e exibição de documentários e longas que retratam o período. Uma das exposições vai exibir documentos de censura, que indicavam o que deveria ser retirado de filmes, por exemplo.

De acordo com a coordenadora do festival, Lívia Maia, entre os objetivos do evento está a possibilidade de proporcionar o contato de adolescentes e jovens com a realidade daquele momento. "Foi um período de grande importância para a formação da identidade brasileira. Pretendemos, então, fazer uma análise dos ecos daquela época nas dias atuais, ou seja, quais são as heranças deixadas."

No período, marcado por repressão social, supressão de direitos constitucionais, censura e  perseguição política, havia um silêncio imposto às manifestações artísticas e à imprensa. A produção de jornais, letras de canções, peças de teatro e filmes era vigiada devido ao caráter informativo e de formação de opinião que lhes são conferidos. Diante desse quadro, artistas e profissionais da imprensa se expressavam de outras formas, a fim de driblar a repressão.

Para o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, a percepção que se tem refere-se ao caráter dramático proporcionado por um modelo de repressão. "Podemos mencionar como exemplo a censura à imprensa, que desvirtuou completamente a missão da mesma."

Censurados, vários artistas e representantes da imprensa abandonaram o Brasil, em busca de abrigo em outros países. Sobre isso, o cientista político destaca que foram evidentes os esforços de segmentos variados da sociedade da época com relação às formas de driblar a ditadura. "Muitas pessoas pagaram com a liberdade e até mesmo com a própria vida por mostrarem preocupação pública sobre questões de interesse público."

Segundo o professor e diretor do Centro de Estudos Teatrais Grupo Divulgação, José Luiz Ribeiro, a censura pode ser identificada em várias fases e de diferentes formas. Ela era exercida por delegados e policiais, em desvio de função, ou por uma escola de censores, composta por pessoas com formação superior. "Na época da censura sobre o texto, havia a chamada censura branca, que acontecia quando o texto era enviado aos censores, que não o devolviam, impedindo as apresentações". Segundo Ribeiro, a censura mais evidente em Juiz de Fora acontecia por meio de advertências feitas pelos censores.

Segundo o professor, apesar de se tratarem de anos dolorosos e de muita dificuldade, foi um período de criação de mecanismos para driblar a repressão. "Falávamos por meios que não eram necessariamente o texto. As palavras ganhavam sentido conforme a forma como eram encenadas. E o público entendia porque vivia aquela fase."

O golpe militar

No início dos anos 60, a agitação política era grande e havia uma forte ideia de promover a conscientização popular por meio da cultura. Foi neste período, mais precisamente na madrugada do dia 31 de março de 1964, que forças do Exército saíram de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro e atuaram na deposição do presidente João Goulart. Pressionado pelas tropas do exército e sem apoio, Jango renunciou ao cargo de presidente e exilou-se no Uruguai, seguindo depois para a Argentina.

O Golpe de 1964 submeteu o Brasil a uma ditadura militar alinhada politicamente com os interesses dos Estados Unidos, e durou até 1985, quando, indiretamente, foi eleito o primeiro presidente civil desde 1964, Tancredo Neves. Durante a ditadura, o Brasil teve como dirigentes: Ranieri Mazzilli, Humberto de Alencar Castello Branco, Arthur da Costa e Silva, Aurélio de Lira Tavares, Márcio de Sousa e Melo, Augusto Rademaker, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista de Oliveira Figueiredo.

Os textos são revisados por Madalena Fernandes