Filme apresenta o desconstrutivismo como forma de protesto
Filme apresenta o desconstrutivismo como forma de protesto O longa Viagem à Pasárgada, de Rogério de Deus, nasceu como uma inquietude cultural e acabou absorvendo o cenário político de 2008
Repórter
7/10/2010
Um filme que nasceu como forma de protesto voltado à política cultural de Juiz de Fora, mas incorporando o cenário político no qual se desenvolvia. Essa é uma das formas como pode ser definido Viagem à Pasárgada, um filme do artista plástico, Rogério de Deus, que tem uma hora e meia de duração.
A obra trabalha o desconstrutivismo como forma de protesto, já que a teoria mescla ideias anárquicas e revolucionárias, desconstruindo aquilo que foi organizado originalmente. "Não se trata de um filme exclusivamente voltado para o entretenimento. É uma contestação, que instiga o exercício de reflexão."
A produção utiliza o discurso experimental, de forma a mesclar realidade e sonho. Marcado pelo grafismo digital, o longa foi filmado no ano de 2008, quando Juiz de Fora passou por um momento político conturbado, devido aos escândalos envolvendo o então prefeito da cidade, Carlos Alberto Bejani.
"Mas a questão política só veio à tona devido aos cenários nos quais começamos a produzir. Na verdade, o pontapé inicial para o trabalho foi o fato de ter encontrado dificuldades para mostrar meu trabalho aqui na cidade, assim como acontece com outros artistas." Para ele, as dificuldades existem porque os mecanismos culturais são muito burocráticos.
Viagem à Pasárgada foi rodado em Juiz de Fora, Cataguases, Tabuleiro, Paraíba do Sul e São Paulo e, de acordo com o artista, o processo político pelo qual passavam essas cidades foi determinante para conduzir as filmagens. "Não trabalhamos em cima de um roteiro fechado. As performances e a arquitetura dos locais por onde passava somavam-se à paisagem política da época na região Sudeste como um todo." As filmagens ocorreram durante as apresentações do Projeto Voar, uma mostra itinerante realizada em comemoração ao centenário do 14 Bis.
O filme, o segundo no currículo do artista, traz três personagens interpretadas pelo próprio Rogério de Deus, além de contar com presenças de anônimos encontrados nas praças das cidades visitadas. "Busquei criar algo não só focado em um discurso pessoal. Ao contrário, Viagem à Pasárgada é uma alternativa para que o artista possa mostrar seu trabalho." Antes deste filme, ele havia produzido um curta de animação, filmado com a utilização de bonecos de massa.
Câmera na cabeça
Lembrando o cineasta brasileiro Glauber Rocha, conhecido pela frase "Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", o artista explica que, no seu caso, a ordem é inversa. "Trabalhamos com uma câmera na cabeça e uma ideia na mão", define, explicando que, durante as viagens, as imagens eram feitas com a câmera presa à cabeça de pessoas ou em postes.
Deus explica que os recursos empregados na produção foram mínimos, já que contou com a ajuda de desconhecidos pelos lugares por onde passou. "Empregamos muita criatividade e improviso, com aproveitamento de manifestações artísticas e folclóricas."
Importância histórica
Para Deus, o filme tem grande importância histórica para Juiz de Fora. "É o primeiro filme que retrata, de certo modo, o ano de 2008, incomum na história da cidade. Assim, é possível afirmar que Viagem à Pasárgada marca uma época única."
A partir de janeiro de 2011, Viagem à Pasárgada será exibido em vários municípios da Zona da Mata Mineira. "A expectativa é de que as pessoas fiquem surpresas e passem a refletir, estimuladas pelo longa."
Exibições
Viagem à Pasárgada será exibido em Juiz de Fora nos dias 9 e 10 de outubro, no Centro Cultural Pró-Música, às 18h e às 20h.
Os textos são revisados por Thaísa Hosken