Minorias existenciais
Minorias existenciais
"Eu mudo, ao trocar com o outro, sem me perder nem me distorcer"
Édouard Glissant, filósofo.
O sonho de escrever vem desde a infância. Cresci em uma cidade pequena, com aproximadamente sete mil habitantes e vim para Juiz de Fora com o intuito de estudar. Confesso que, de início, tive certa dificuldade de desconstruir crenças que me impediam enxergar, sentir e vivenciar situações com “todo tipo de gente”.
Durante os últimos dez anos, pude conviver com camadas sociais, feita por gente humilde com histórias comoventes, daquelas que nos fazem questionar a própria existência, com temáticas do cotidiano que evocam sentimentos de indignação, empatia e despertam interesse pelo diferente.
Esta jornada revela, por exemplo, a visão de mundo dos catadores de material reciclados, permeando as escadas e obstáculos para cadeirantes. Dialoga com as travestis estigmatizadas, constrói diálogos importantes com o axé e ancestralidade das religiões de matriz africana e, por que não, apontar novas possibilidades e grupos sem rótulos?
Todas as personagens, materializadas ao longo desse espaço, conduzem uma jornada única, dentro desse espaço que acolham suas ideias e respeitem suas identidades culturais (religiosas, musicais, artísticas, etc.).
Viver entre as minorias existenciais é respirar o mesmo ar daqueles que se sentem sufocados pela família; pertencer às diversas tribos urbanas multicores sem juízo de valor; vivenciar as dificuldades da pessoa com deficiência transmutando entre as mentes mais complexas da esquizofrenia ao autismo.
Este é um bilhete com viagem só de ida, indo na contramão de muitos desfechos inacabados. Não existe uma verdade absoluta, pois o intuito é tecer uma colcha de retalhos alinhavada por protagonistas anônimos que são multiplicadores do saber.
Graças ao espaço concedido gentilmente pela Acessa.com, celebro com você, leitor, uma conquista pessoal e faço um convite a todos aqueles que se identificarem com as minorias: façam valer seus direitos! Envie um trecho de sua vida para que eu vá até você e narre a sua verdade.
Existem muitas vozes coabitando aqui, no subconsciente. Decidi coexistir com todas elas, incluindo-as por entre os holofotes da grande maioria, fluir por entre diferentes becos, bares, calçadas e encontrar cada pedacinho de mim quando esbarrar no pedacinho do outro até que essas vozes possam ressoar num só coro.