Cidadania: algumas questções a serem consideradas em ano eleitoral
Pílulas de Cidadania
Algumas questões a serem consideradas em ano eleitoral
Por que lembrar este fato agora? A resposta é muito simples. Mais do que nunca, o "gigante precisa estar bem acordado". Estamos em ano eleitoral, momento oportuno e legítimo para retomar as questões levantadas nas manifestações de 2013. Mas a conclamação popular será um pouco diferente. As multidões com cartazes, faixas e gritos ensaiados de protesto deverão fazer coro de forma individualizada, mas muito potente: mobilizar a consciência, sair de casa e ir para as urnas com a convicção de que a mudança começa na tecla confirma após alguns dígitos. Um ato – direito e dever - que concentra o poder de alterar a história de um país. Do nosso país. Para o bem ou para o mal. Essa é a questão.
Em ano eleitoral – e também de Copa do Mundo no Brasil -, é preciso ter atenção para não se distrair em amenidades. Refletir sobre a situação da saúde, da educação, do emprego e da habitação no país pode ser um primeiro passo em preparação ao tão esperado outubro de 2014 – que vem depois de junho e julho... Como pílulas de cidadania, listo alguns aspectos que não podem ser desprezados. Fatos já noticiados nas mídias, nos últimos meses, e que precisam ser relembrados. Pequenas doses para motivar a reflexão e nos orientar quando chegar o momento de ação.
Educação: 2014 começou com uma informação constrangedora para o Brasil (eu ao menos assim considero). O país figura na oitava posição em número de analfabetos adultos no mundo. O dado é de um relatório divulgado pela Unesco. O Brasil tem mais de 10 milhões de analfabetos, segundo o estudo que avaliou a educação em 150 nações. No ranking, estamos atrás da Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia e Egito. Ainda segundo o relatório, o Brasil cumpriu a meta de investir em educação 6% do PIB. Porém, nos países ricos, o investimento por aluno é três vezes maior. Nesse contexto, emerge, além da necessidade de aumentar os investimentos em educação e aplicar o dinheiro de maneira mais eficiente, a urgência em melhorar a qualidade do ensino. É sabido que apenas colocar mais crianças e adolescentes nas escolas não é garantia de aprendizado.
Emprego: o contexto da educação impactará diretamente na questão de emprego e renda. E neste panorama encontramos situações em certo ponto destoantes. Se, por um lado, segundo algumas pesquisas e pesquisadores, o Brasil vem melhorando o índice de pessoas empregadas, por outro, amarga grande apagão de mão de obra em algumas áreas técnicas e de base. Mas, estudiosos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também destacam um outro aspecto instigante: a ideia de que o país estaria em pleno emprego seria equivocada, porque apesar da taxa de desemprego estar atingindo os menores percentuais da história, a participação também estaria muito baixa. Haveria uma grande parcela de pessoas em idade ativa optando por não trabalhar, sobretudo mulheres e jovens. (Será?!)
Habitação: no fim de 2013, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou que o déficit habitacional no Brasil caiu, em termos absolutos, 6,2% entre 2007 e 2012. Segundo o estudo, o país registrava déficit de 5,59 milhões de habitações em 2007. O número correspondia a 10% do total de habitações no país, à época. Em 2012, o déficit total caiu para 5,24 milhões de habitações (8,53% do total). No entanto, no mesmo período, aumentou o índice que considera o peso que o pagamento de aluguel tem em relação à renda domiciliar. O estudo considera nesta situação domicílios cujo aluguel corresponde a, pelo menos, 30% da renda domiciliar. O número de domicílios cujo valor do aluguel se enquadrava nesta situação subiu de 1,75 milhão em 2007 para 2,29 milhões em 2012. Nesse quesito, a fatia da população mais afetada se enquadra na renda de até três salários mínimos.
Saúde: o IBGE divulgou um relatório em que avalia indicadores sociais brasileiros de 2013. No que diz respeito à saúde, o estudo aponta que são necessários esforços extras para "melhorar a qualidade dos serviços, tornar a saúde pública mais equânime, homogênea no território e capaz de enfrentar os crescentes desafios ligados à dinâmica demográfica". O relatório complementa: "A ampliação dos gastos públicos em saúde se mostra um elemento chave para o financiamento atual e futuro do sistema de saúde brasileiro". Bem, acredito que para muitos brasileiros, principalmente para aqueles que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), esta constatação não é de todo novidade. Mas, ao constar em um documento, não poderá ser alegada como desconhecida por nossos gestores...
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Aline Maia é jornalista e professora universitária. Doutoranda em Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem experiência em internet, rádio e TV. Interessa-se por pesquisas sobre mídia, juventude e cidadania. Atuante em movimentos populares e religiosos.