Marize Freesz

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"Tudo tem um outro lado" Marize Freesz escolheu encarar a doen?a sob um outro aspecto. Ao inv?s de ficar se lamentando, a farmac?utica resolveu ser feliz

Marinella Souza
*Colabora??o
20/02/2008

Portadora de esclerose m?ltipla h? quatro anos, Marize Freesz escolheu encarar a doen?a sob um outro aspecto. Ao inv?s de ficar se lamentando, a farmac?utica resolveu ser feliz.

Em 2004 ela come?ou a sentir dificuldade para enxergar e foi ao m?dico. A esclerose m?ltipla era quase uma certeza e a mo?a teve que ficar no hospital por sete reveladores dias.

Ela conta que, num primeiro momento, chorou muito quando soube da doen?a porque n?o sabia do que se tratava. Mas depois come?ou a rezar para parar de chorar e conseguir ligar para o marido e contar o diagn?stico.

Passado o choque inicial, a farmac?utica iniciou o tratamento. "Tive que fazer uma pun??o lombar que foi muito dif?cil para mim". Apesar da dificuldade, ela aproveitou o tempo em que esteve no hospital para fazer um retiro espiritual.

"Eu aproveitei o tempo livre para reavaliar a minha vida, ver o que estava certo e o que estava errado. Rezei muito nesse per?odo e recebi ora?es de pessoas de cren?as diversas da minha e isso foi muito bom. O que importa ? o sentimento sincero das pessoas, ? isso que leva a Deus".

Nesse per?odo, os funcion?rios do hospital conversavam com ela, davam-lhe depoimentos reais sobre os seus dramas di?rios. Aconselhando essas pessoas ela se deu conta de que, apesar de estar doente, estava melhor do que elas. "Eu podia fazer um tratamento adequado da minha doen?a, tinha minha fam?lia do meu lado, um trabalho de que gostava. N?o podia reclamar de nada", conta.

Trabalho volunt?rio

Tr?s anos antes de ter o primeiro surto, Marize decidiu que era hora de colocar em pr?tica um sonho antigo: fazer algum tipo de trabalho volunt?rio. Reuniu cerca de 12 amigos que tinham o mesmo desejo e, juntos, criaram o Grupo Arte.

Trata-se de um grupo que visita institui?es levando arte e doa?es. "Em primeiro lugar, visitamos a institui??o, perguntamos de que ela precisa e avaliamos a possibilidade de realizarmos um trabalho no local".

Tudo acertado, a trupe parte para o local levando lanche, mantimentos, rem?dios etc. No meio disso tudo, arte. Muita arte. S?o hist?rias, dobraduras em papel, m?sica e muitas outras formas de arte.

"Eu sempre fui envolvida com a quest?o da arte e queria passar isso para as pessoas de alguma forma. A arte ? uma liga??o com o divino e quando voc? termina ? uma produ??o sua. Isso ? muito bom para a auto-estima. Voc? se desliga da doen?a, melhora a coordena??o motora, n?o entra em depress?o", ensina.

Depois que a doen?a foi confirmada, ela continuou com o trabalho volunt?rio e admite que isso foi fundamental para o seu processo de aceita??o. "Visitando as institui?es eu pude entender a doen?a como uma miss?o. Todo o sofrimento que eu via nos lugares por onde passava, me fazia entender o quanto eu era privilegiada. Meu sofrimento era muito menor, meus surtos eram muito leves".

O outro lado da doen?a

Marize conta que depois de confirmado o diagn?stico ela conheceu um outro lado da vida, muito mais apraz?vel. "Meu marido se mostrou muito mais carinhoso comigo, minha fam?lia se revelou mais para mim".

Atrav?s da doen?a, ela conseguiu mudar seus h?bitos alimentares, coisa que queria h? tempos, mas sempre adiava. "Eu pesquisei para saber como evitar os surtos usando meios alternativos e descobri que uma alimenta??o saud?vel era importante. Hoje sinto meu corpo melhor do que antes", relata.

Al?m disso, come?ou a valorizar mais as coisas que ela gosta de fazer. "Eu n?o parei de trabalhar, mas s? fico l? meio expediente. Gosto de ser do lar, de cuidar da minha casa, do meu marido e da minha filha. Antes eu n?o tinha muito tempo para isso".

Segundo Marize, a doen?a lhe deu um equil?brio familiar muito grande. "Foi uma conquista. Consegui consertar muita coisa depois da doen?a: melhorei minha alimenta??o, que era um desejo antigo, meu equil?brio interno".

Outra grande conquista que a esclerose m?ltipla lhe proporcionou foi voltar a escrever. J? no hospital, a farmac?utica sentiu uma vontade incontrol?vel de escrever. "Eu escrevia nas entrelinhas de um jornal virado de cabe?a para baixo", relembra.

Ela escrevia sobre a sua pr?pria experi?ncia e, mais tarde, esses relatos iriam configurar a hist?ria de seu segundo livro."Quem me conhece sabe que ? a minha hist?ria, mas, no livro, eu me rebatizei. A protagonista chama-se Aur?lia", comenta.

"Portadores e cuidadores de doen?as cr?nicas t?m que ver o outro lado da doen?a. Sentir que a vida tem uma finalidade maior". Para Marize, estar em movimento ? fundamental para que o indiv?duo se sinta importante no mundo, sendo saud?vel ou n?o.

Como os dedos

Contadora de hist?rias, desenhista, cozinheira, escritora, farmac?utica, esposa e m?e. Entre tantas fun?es, Marize Freesz consegue se dividir de maneira equilibrada, atendendo bem a todos os setores de sua vida. "Eu procuro n?o me estressar muito porque o aspecto emocional ? muito importante para a minha doen?a. Tento me dividir entre meu marido, minha filha, meu trabalho, minha fam?lia mas antes de tudo tenho que estar bem comigo mesmo".

Ela acredita que devemos comparar nossa vida com os cinco dedos das m?os: eles t?m que ter mais ou menos o mesmo tamanho para que exer?am sua fun??o com excel?ncia. "Cada dedo representa um setor da vida: lazer, trabalho, fam?lia, cultura, religiosidade/espiritualidade e se um deles se sobressair muito em rela??o aos outros, algo est? errado".

Questionada sobre o que a esclerose m?ltipla lhe trouxe de ruim, a ecl?tica Marize encontrou dificuldades, precisou de alguns segundos at? buscar no fundo de sua mem?ria o lado negativo de uma doen?a t?o assustadora. "Acho que os sintomas s?o o pior da doen?a: a fadiga, a dificuldade visual e, sobretudo, a imprevisibilidade da doen?a. Eu n?o sei o que vai acontecer comigo. Posso perder os movimentos do corpo, ficar em uma cadeira de rodas... n?o saber ? o que mais d?i".

*Marinella Souza ? estudante de Comunica??o Social da UFJF



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