Para Marcelo Yuka, educação é caminho para a acessibilidade

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Para Marcelo Yuka, educação é caminho para a acessibilidadeDe acordo com o músico, no Brasil, as cidades precisam rever as ações voltadas para os cadeirantes. Ele ficou paraplégico em uma tentativa de assalto

Jorge Júnior
Repórter
13/10/2011

"O erro é como as pessoas tratam os deficientes. A educação é o sangue desta mudança", afirma o ex-baterista da banda Rappa, Marcelo Yuka, referindo-se à questão da acessibilidade. Para Yuka, a questão da acessibilidade mexe com os valores do cidadão. "A constituição brasileira, em relação aos deficientes é muito bonita. Eu vejo um problema mais profundo", opina.

De acordo com o músico, no Brasil, as cidades precisam rever as ações voltadas para os cadeirantes. "A cidade é para toda a população, mas nós deficientes estamos vivendo para o município, devido à falta de estrutura." Yuka sofreu uma tentativa de assalto em 2000, quando levou nove tiros, sendo que um atingiu sua coluna vertebral e o deixou paraplégico.

Nesta linha de pensamento, o músico destaca que todas as pessoas têm que sem ser tratadas com o mesmo olhar, uma vez que os direitos são iguais, portanto, os cadeirantes têm os mesmos diretos das outras pessoas. "O benefício tem que ser para todos. Temos nossa luta. Essa luta é aprofundada, quando há um questionamento. Por que para nós deve ser diferente?".

Mesmo com a língua afiada e uma linha de pensamento traçada sobre as dificuldades do cotidiano, engana-se quem pensa que o músico não sofre dificuldades em seu dia a dia. "Quando chego a um lugar e o banheiro não é acessível, é uma situação constrangedora. Se o tamanho do banheiro não é adequado, os cadeirantes acabam tendo que fazer as necessidades fisiológicas em lugares inadequados", diz. Yuka sente que quem não produz não tem os mesmos direitos. "Enquanto você produz, você tem os direitos. As crianças e os idosos não produzem, então perdem os direitos."

Soltando a voz

As críticas sempre fizeram parte das músicas de Marcelo Yuka, desde quando integrava o Rappa, enfatizando sempre a preocupação com a injustiça social. Mas, de acordo com o músico, hoje ele segue outro pensamento. "Antes, usava a minha poesia para colocar os bichos para fora, mas, atualmente, estou interessado em sensibilizar. E existem outras ferramentas. Não estou só gritando. Estou mais responsável, depois da cadeira de rodas. Como existem pessoas que se emocionam com o que falo, tenho que me preocupar com a forma de comunicar. O meu caminho me mostra que tenho que ter responsabilidade."

Projetos sociais

Com 45 anos, Yuka soma 29 deles destinados a projetos sociais. "Aos 16 anos, o que me despertou foi a negritude. Comecei a estudar, montei um núcleo de cultura negra dentro da faculdade e fui para as comunidades." O ex-baterista afirma que, nessa trajetória, colheu bons resultados, com poucos esforços. "Veio mais da sensibilidade e da determinação. As coisas mais loucas que aconteceram, foram intuitivas."

Ainda segundo ele, tudo é realizado em torno do amor. "O amor é político. Amor resolve. Não é um amor racional. Eu levo minha carreira como esse peso, eu acredito no amor. O amor é revolucionário, a minha profissão é assim."

O músico tem participado ativamente de projetos sociais. Em parceria com o AfroReggae, atuou com a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional do Rio de Janeiro (FASE) e junto à comunidade do Morro Santa Marta. É também fundador da Frente Urbana de Trabalhos Organizados (F.U.R.T.O) e da Brigada Organizada de Cultura Ativista (B.O.C.A), que leva cultura e educação para entidades carcerárias.

Os textos são revisados por Thaísa Hosken