Veteranos da 2? GM relembram histérias 68 anos depois
Em JF, veteranos da Segunda Guerra Mundial relembram histórias 68 anos depois do fim do conflito
Neste quarta, 8 de maio, comemora-se o Dia da Vitória. Integrantes das forças aliadas, brasileiros lutaram na Itália, onde têm mais reconhecimento que no próprio país
Repórter
7/5/2013
Quase sete décadas depois, a memória segue praticamente intacta para o grupo de veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutaram na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial. Hoje, há 28 pracinhas vivos na cidade de Juiz de Fora. Três deles conversaram com a ACESSA.com, na sede Associação dos Veteranos, relembrando, não só os feitos do Exército brasileiro, mas também casos dramáticos e curiosos, já que neste 8 de maio, o chamado Dia da Vitória, completam-se 68 anos do fim da guerra e da rendição incondicional dos alemães. Mas, se a memória dos ex-combatentes anda em dia, o mesmo não se aplica à população em geral: a reverência aos heróis brasileiros segue muito aquém da praticada em outros países que fizeram parte da forças aliadas.
Na presidência da Associação Nacional de Veteranos da FEB da região de Juiz de Fora há 24 anos, Antônio de Pádua Inham, 87 anos, lamenta que, no país, os heróis de guerra não sejam reverenciados. Na Itália, para onde já teve a oportunidade de viajar, presenciou crianças cantando, em português, a Canção do Expedicionário. Uma homenagen àqueles que, até hoje, são vistos como libertadores. Cena impensável em boa parte do mundo, no Brasil, infelizmente, é possível presenciar adolescentes e jovens, sem conhecimento da importância histórica dos pracinhas, debochando em desfiles militares desses grisalhos senhores que, apesar dos passos lentos, os mantêm firmes, orgulhosos do papel que desempenharam.
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Dentro do Exército, pelo menos, os ex-combatentes têm sido bem recebidos. Tanto que, às 8h desta quarta-feira, todas as tropas da cidade estarão reunidas, no 10º Batalhão de Infantaria, no Bairro Fábrica, para homenagear os veteranos e celebrar o Dia da Vitória.
Dos mais de 25 mil brasileiros que embarcaram para a Europa, há apenas cerca de 500 vivos. Com eles, histórias de uma das páginas mais importantes do século XX vão se perdendo. Casos como o de José Lopes de Oliveira, soldado da FEB responsável por preparar refeições na retaguarda, que até hoje ouve piadas sobre a história do açúcar no feijão. Em 1943, com 25 anos, resolveu alistar-se como voluntário. Ele passou por treinamento em Juiz de Fora e São João Del Rei, antes de seguir para o Rio de Janeiro, de onde rumaram à Itália. Boa parte do suporte às tropas brasileiras era feito pelo exército dos Estados Unidos. O ex-combatente conta que foi dos americanos a ideia de fazer com que cada companhia tivesse uma cozinha, o que aumentou a demanda por cozinheiros. Com ele, havia mais dois cozinheiros, três auxiliares, um cabo e um sargento. No fogão à gasolina, a refeição dos soldados da linha de frente era preparada, com direito a iguarias tipicamente brasileiras, como feijão e arroz. Por questões nutricionais que até hoje o grupo desconhece, o pessoal da cozinha foi orientado a preparar o feijão com açúcar no lugar do sal. A ideia foi dos americanos, mas até hoje o ex-soldado ouve dos companheiros reclamações sobre o feijão doce.
Antônio de Pádua Inham teve o batismo de fogo na principal batalha com participação brasileira da guerra, a tomada de Monte Castelo. Ele conta que o soldado brasileiro foi muito bem preparado fisicamente à Itália, e pôde enfrentar os inimigos alemães, empurrando-os para o interior da Europa. Mas a mesma memória que lembra casos divertidos, trás à tona episódios marcantes. "Participar de uma guerra é algo que eu não quero para ninguém. É a coisa mais triste que há. Destrói famílias, você perde seus amigos... Eu tive a oportunidade de presenciar companheiros feridos, morrendo. É um momento muito triste da vida da gente. Você fica dentro de uma trincheira, passa sob chuva, neve, com o inimigo lançando bombas", conta.
Com 90 anos de idade, José Maria da Silva Nicodemus esteve na Itália como cabo e presenciou a rendição de 15 mil alemães para o Exército brasileiro. A participação na Segunda Guerra Mundial, ao longo dos anos, o levou a uma teoria interessante, baseada na ideia da máxima futebolística "pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube". Para ele, as guerras deveriam ser travadas pelos líderes do país. "Você coloca os dois presidentes armados em um campo e os coloca para lutar. Isso evitaria uma infinidade de jovens e inocentes mortos", afirma.
A sede da associação, fundada em 1947, fica na rua Howian, 40, no Centro, e conta com um museu, aberto ao público entre 14h e 17h. Lá, o visitante encontra fotos, mapas, condecorações, homenagens e várias relíquias, como um capacete nazista original.