'Não vemos nenhuma ruptura institucional acontecendo', diz Alfredo Setubal
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para o presidente da Itaúsa, Alfredo Setubal, as incertezas políticas por causa das eleições no país não geram grandes preocupações para a empresa, frente à perspectiva de longo prazo com a qual trabalha para os investimentos no portfólio.
"Não vemos nenhuma ruptura institucional acontecendo", afirmou Setubal nesta terça-feira (16), em conversa com jornalistas para comentar sobre os resultados da holding no segundo trimestre.
Com participações relevantes no Itaú, Alpargatas, Dexco (antiga Duratex) e CCR, entre outras, a Itaúsa reportou lucro líquido de R$ 3 bilhões de abril a junho, montante 5,5% superior na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
Setubal disse ainda que a empresa já está acostumada com momentos de volatilidade acentuada na política e na economia do país, mas que a visão para o desenvolvimento dos negócios em carteira é voltada para o longo prazo.
"Podem ter mudanças aqui e ali, menos concessões, mais governo, vai depender de quem ganhar a eleição, mas olhamos horizontes longos", afirmou o presidente da Itaúsa.
Questionado se considerou assinar os manifestos em defesa da democracia, ele preferiu não comentar. Presidente do conselho de administração do Itaú, Roberto Setubal foi um dos signatários do manifesto em defesa da democracia organizado pela Faculdade de Direito da USP e por entidades e representantes da sociedade civil.
Durante a conversa nesta terça, o presidente da Itaúsa afirmou também que chegou a considerar o investimento na Eletrobras, no âmbito do processo de privatização da elétrica, mas que optou por não seguir em frente devido ao endividamento que o negócio acarretaria para o balanço da holding.
Segundo Setubal, a Itaúsa teria de desembolsar cerca de R$ 5 bilhões para participar da oferta de ações da Eletrobras.
O executivo afirmou que a decisão de não investir na oferta de privatização não se deveu à qualidade da empresa. "Quem adquiriu as ações da Eletrobras vai ter um retorno muito positivo", disse.
Ele acrescentou, contudo, que, frente ao tamanho do aporte necessário, "por melhor que fosse a perspectiva de retorno, não seria adequado e prudente fazer o investimento".
Setubal vê desconto injustificado das ações da Itaúsa na Bolsa Em relação à retirada do investimento que a Itaúsa tem na XP, Setubal afirmou que a intenção é fazer as vendas no mesmo período em que houver amortizações das dívidas da Itaúsa, mas que não há um cronograma definido com data para as novas vendas de ações.
No mês de julho, foram alienadas sete milhões de ações da XP, pelo valor aproximado de R$ 665 milhões, reduzindo a participação da Itaúsa para 10,31% do capital total da XP. Com a transação, a Itaúsa prevê um impacto positivo nos resultados do terceiro trimestre de cerca de R$ 300 milhões.
Setubal afirmou que considera a XP uma empresa de boa qualidade, mas que não é um investimento estratégico para os planos da Itaúsa, e que o foco no setor financeiro ficará concentrado no Itaú.
Ele disse ainda que considera exagerado o nível de desconto com que as ações da Itaúsa são negociadas na Bolsa de Valores em comparação com as do Itaú, hoje em torno de 24%.
O executivo acredita que o desconto nessa magnitude se deve principalmente pela redução no pagamento de dividendos aos acionistas nos últimos anos ?no intervalo de 2020 até o primeiro semestre de 2022, a remuneração via distribuição de proventos aos acionistas foi de 25%, em relação ao lucro da Itaúsa no período, contra uma média de 83% entre 2017 e 2019.
A queda na distribuição de dividendos ocorre devido ao ao momento em que as empresas no portfólio da holding se encontram, com um volume maior de investimentos para fazer frente aos planos de expansão dos negócios, afirma. Ele estima que, em um horizonte de médio prazo, cerca de três anos, os pagamentos de dividendos devem retornar à média histórica distribuída pela Itaúsa aos seus acionistas, entre 40% e 50% do lucro.
"O desconto mais correto [em relação às ações do Itaú] seria algo em torno de 15%", afirmou. No acumulado de 2022, até 15 de agosto, as ações da Itaúsa subiram cerca de 5,8%, contra os ganhos de 27,8% dos papéis do Itaú. "O mercado não está valorizando nosso portfólio", disse o presidente da Itaúsa.