Hotel Maksoud faz leilão de espelhos, camas e colchões

Por FERNANDA BRIGATTI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cadeiras, camas, computadores, espelhos, colchões e eletrodomésticos industriais, como seladoras, fornos, lavadoras, passadeiras elétricas e até itens diversos de academia que pertencem ao grupo Maksoud Plaza, dono do hotel de mesmo nome, começaram a ser leiloados. Para se ter uma ideia, há 796 espelhos, 700 camas e 565 colchões do hotel.

Ao todo, 182 lotes integram a relação de itens do leilão, que começou a receber lances no dia 15 de agosto, pela FCR Leilões. Segundo o edital, estão previstas duas rodadas, as chamadas praças, quando são verificados os lances e eventuais arremates.

A primeira praça será nesta segunda-feira (22). Os itens sem lances voltarão a ser ofertados e o leilão da segunda praça será no dia 31.

A venda por meio de leilão foi definida no processo de recuperação judicial iniciado em setembro de 2020. O hotel, considerado por anos um ícone da hotelaria em São Paulo, fechou as portas no dia 7 de dezembro de 2021, pegando de surpresa hóspedes, funcionários e herdeiros de Henry Maksoud, fundador do grupo.

O volume de produtos colocados no leilão corresponde ao tamanho do Maksoud Plaza, que tinha 22 andares, 372 quartos e 44 suítes principais. O hotel chegou a ter 350 funcionários.

A maioria dos lotes prevê a compra de mais de um item. Há pelo menos 11 lotes com 100 cadeiras em cada. Os frigobares, 127 no total, estão distribuídos em 14 lotes de quantidades variadas -alguns têm 50 unidades, outros têm cinco.

Segundo o edital, os interessados nos itens do leilão poderão agendar dia e horário de visitação para olhar pessoalmente os itens colocados para venda pública. Quem arrematar lote do Maksoud terá 24 horas para fazer o pagamento, e 48 horas para retirar o que comprou.

Quem fizer um lance e acabar desistindo da compra ficará sujeito à multa de 30% do valor da proposta.

O dinheiro arrecadado pelo leilão de mobiliário, descontados 5% que serão pagos ao leiloeiro, será usado para o fluxo de caixa do grupo, segundo definido no plano de reestruturação definido na recuperação judicial.

A recuperação judicial do Maksoud Plaza aprovou a realização de outros leilões, como o de apartamentos, terrenos e parte de edifícios comerciais que integravam o patrimônio o grupo. O prédio onde funcionava o hotel já havia sido arrematado em um leilão judicial decorrente da execução de uma ação trabalhista.

Um novo leilão ainda deverá ser marcado para a venda das obras de arte que decoravam o hotel.

Inaugurado em 1979, o Maksoud Plaza viveu seu auge nos anos 1980 e 1990, quando era lembrado por ser tanto um ponto de encontro de artistas e boêmios, quanto por ser um centro gastronômico e cultural relevante. Os bares e restaurantes 24 horas combinavam com o imaginário de uma cidade que não dormia.

O 150Night Club recebeu, além de Sinatra, lendas do jazz e do blues como Etta James, Alberta Hunter, Bobby Short e Buddy Guy. No Trianon Piano Bar, os Peixoto, irmãos de Cauby, embalavam noites com um repertório de jazz e bossa nova.

No começo dos anos 2000, o brilho começou a esvanecer. A crise econômica da virada da década e a expansão da concorrência fizeram o Maksoud Plaza iniciar um ciclo de profunda crise. Em 2003, quando o hotel completava 25 anos, Henry Maksoud, seu fundador, se ressentia das dificuldades. "A indústria hoteleira está destroçada", disse à Folha de S.Paulo, na época.

MOMENTOS DO MAKSOUD PLAZA 1979

Inauguração do hotel Maksoud Plaza

1981

Entre 13 e 16 de agosto, Frank Sinatra se hospeda no hotel e se apresenta no 150Night Club

1990

Ex-funcionário da Hidroservice entra com ação trabalhista para cobrar salário e reverter uma justa causa

1992

Em 9 de dezembro, o cantor Axl Rose, do Guns N'Roses, atirou do mezanino, na madrugada, uma cadeira em direção a repórteres que estavam no térreo

2008

Prédio do Maksoud Plaza vai a leilão pela primeira vez, mas fracassa

Compradores desistem depois que liminar suspendeu os efeitos do leilão

O lance mínimo era de R$ 47,5 milhões, na época, cerca de R$ 104,2 milhões hoje

2011

Em novo leilão, o prédio foi arrematado pelo lance mínimo de R$ 70 milhões, cerca de R$ 153,6 milhões hoje

2013

Henry Maksoud se afasta da gestão do hotel, passando o comando ao neto

2014

Em 18 de abril, morreu Henry Maksoud, vítima de parada cardíaca

Os filhos Claudio e Roberto contestam testamento e começam briga pelo espólio

2015

Buscando revitalizar-se, o hotel inaugurou o PanAm Club (em janeiro) e o Frank Bar (em abril)

2019

TST valida leilão do prédio do hotel

2020

Sob o impacto da pandemia, o grupo pede recuperação judicial no dia 21 de setembro

A relação de credores das empresas do grupo tem nove páginas

Apenas em dívidas trabalhistas são 359 pessoas para quem o grupo deve dinheiro

2021

Em 7 de dezembro, o hotel fecha as portas, pegando funcionários e hóspedes de surpresa