Batalha contra a inflação não está ganha, diz presidente do BC

Por DOUGLAS GAVRAS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A inflação vem cedendo recentemente, mas grande parte dessa melhora decorreu de medidas do governo e a batalha ainda não está ganha, disse o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em um evento nesta segunda-feira (5).

"Tem uma outra melhora que vem acompanhada disso, mas a gente entende que ainda tem um elemento de preocupação grande e a mensagem é que precisamos combater esse processo. Muito provavelmente vamos passar por três meses de deflação, mas a batalha não está ganha."

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) teve deflação de 0,73% em agosto, graças ao impacto da redução das alíquotas de ICMS sobre os preços de combustíveis e energia. Alimentos e bebidas, por outro lado, continuaram em alta, com avanço de 1,12%.

Ao participar de uma sabatina organizada pelo jornal Valor Econômico, Campos Neto disse que, apesar da melhora no processo inflacionário, os preços de alimentos vieram acima do esperado, e repetiu que a autoridade monetária não pode "baixar a guarda".

"Há a percepção de que a inflação ainda tem características que inspiram cuidados, temos trabalhado para entender o que pode ser uma pressão nos salários do setor de serviços. Dada a melhoria do emprego nos últimos meses, acima do esperado, ainda é preciso entender o tipo de gargalo que pode ter com mão de obra, esse será um dos temas da nova reunião do Copom", disse.

O presidente do BC afirmou que a estimativa é de uma taxa de desemprego perto de 8,5% até o fim do ano, voltando para um período positivo no mercado de trabalho. "Ele começou com empregos de baixa qualidade, mas estamos vendo uma reação. Não só no Brasil, o que estamos vendo é uma mudança estrutural da mão de obra."

Campos Neto também se mostrou otimista com o PIB (Produto Interno Bruto) para este ano, após o país ter crescido 1,2% no segundo trimestre. Ele espera novas revisões positivas do PIB de 2022, com boas perspectivas para os resultados do terceiro e do quarto trimestres.

Os analistas econômicos elevaram ligeiramente suas projeções para o PIB neste ano e no próximo, de acordo com a primeira pesquisa Focus do Banco Central divulgada após números terem mostrado que a economia brasileira cresceu mais do que o esperado no segundo trimestre do ano.

A sondagem, feita pelo BC com cerca de cem instituições, também revelou um aumento da expectativa para o patamar da Selic no ano que vem, ao mesmo tempo que as estimativas para a inflação sofreram pequeno recuo.

Os analistas esperam que o PIB cresça 2,26% este ano e 0,47% em 2023, um aumento ante a mediana das projeções da semana anterior, de 2,10% e 0,37%, respectivamente.

Ele também disse que a revisão de crescimento do FMI (Fundo Monetário Internacional) aponta que quase todos os países estão com indicativo de piora -o Brasil seria um ponto fora da curva. A dúvida é se a desaceleração sincronizada no mundo pode ocorrer ao mesmo tempo de inflação persistente.

Campos Neto disse ainda que as mudanças de alinhamento geopolítico global, após a pandemia e o início da Guerra da Ucrânia, podem trazer oportunidades para o Brasil, com as Américas precisando de um lugar para a produção de bens, com mão de obra e capacidade para produzir energia em larga escala e renovável.

"O Brasil é o primeiro candidato e é importante termos uma estabilização política e institucional, para que os fluxos que queiram aproveitar esses fatores positivos que o país apresenta possam entrar aqui."