Guedes repete Bolsonaro e vê 'capeta' do outro lado
RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Elevando o tom de campanha eleitoral, o ministro da Economia, Paulo Guedes, associou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao "capeta", criticou "excessos" do Poder Judiciário, alfinetou o mercado financeiro e falou em manter o Auxílio Brasil em R$ 600 em um eventual segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Sem mencionar o nome do ex-presidente petista, à frente de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto, Guedes disse que o Brasil foi beneficiado no passado pelo cenário econômico internacional e que há pessoas sonhando com um "paraíso perdido".
"Liberais e conservadores estão juntos porque, do outro lado, está o capeta", afirmou Guedes em uma palestra a empresários na ACRJ (Associação Comercial do Rio de Janeiro), no centro da capital fluminense, na manhã desta quarta-feira (14).
Na terça (13), Bolsonaro já havia usado o termo "capeta" para se referir a Lula, em discurso em Sorocaba (SP). "O capeta pela frente, que quer impor o comunismo no nosso Brasil", atacou o presidente.
Guedes embarcou de vez na campanha de Bolsonaro nas últimas semanas. Às vésperas das eleições, tem ido a encontros com empresários para rebater críticas e defender políticas da sua gestão. Não foi diferente nesta quarta.
O ministro disse que, caso Bolsonaro seja reeleito, o governo vai continuar a privatizar, a abrir a economia e a reduzir despesas, enquanto, no caso de vitória "do outro lado", não se sabe o que será feito, e o país estará no caminho da miséria.
"Estamos deixando arrumadinho, mas dá para afundar bastante", afirmou Guedes.
"Enquanto a gente estiver no governo, eles [opositores] vão rolar o fim do mundo sempre para o ano que vem. Mas eles que vão levar para o fim do mundo [se ganharem]", completou.
Em um evento em São Paulo à noite, Guedes também falou do pleito eleitoral.
"Eu realmente acho que a reeleição bota um estresse muito grande nos políticos, uma pressão muito grande para tentar ser reeleito. Agora, eu digo sempre o seguinte: se tivesse tido um Lula, um Fernando Henrique e uma Dilma, um Bolsonaro dava. Com duas [gestões] Dilma, dois [governos] Fernando Henrique e dois Lula, precise talvez de dois Bolsonaro." Os presentes aplaudiram com entusiasmo.
Sem citar o nome do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), alvo recorrente de ataques de Bolsonaro, Guedes apontou "excessos" no Poder Judiciário.
"Tem ministro do Judiciário que também comete excessos, manda prender, investigar, censurar. Está descredenciando o Supremo", disse Guedes no evento na ACRJ.
Em outro momento do mesmo discurso, o responsável pela pasta da Economia afirmou que o país tem condições de manter o Auxílio Brasil em R$ 600 em 2023, em caso de um segundo mandato de Bolsonaro. O benefício subiu para esse valor às vésperas das eleições.
"Nós vamos manter os R$ 600, a renda básica, do trabalhador brasileiro?", perguntou Guedes para o público.
"O país tem capacidade. Nós temos ferramentas novas", respondeu o ministro, que defendeu em seguida a venda de ativos inutilizados para a criação de um fundo de recursos públicos.
Antes do envio da proposta de Orçamento de 2023, que colocou o governo na linha de tiro por cortes em programas sociais, Guedes adotava um discurso mais moderado em relação ao auxílio.
No Rio, o ministro alfinetou a Faria Lima, região de São Paulo conhecida por reunir empresas do mercado financeiro. Ele disse que, quando se fala na liberação de recursos para os "mais frágeis", a Faria Lima entra em "ebulição", temendo mais inflação.
Diante dos empresários fluminenses, o ministro também destacou que os economistas passaram a subir as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano. Guedes indicou que o crescimento da economia nacional pode chegar a 3% em 2022.
Nesse contexto, ele criticou previsões pessimistas para a atividade econômica. Porém, deixou de lado questões como o aumento da fome e a queda da renda do trabalho ao longo da pandemia.
Em mais de uma ocasião nesta quarta, Guedes recebeu aplausos da plateia na ACRJ, que não chegou a ocupar todas as cadeiras disponíveis para o evento.
FARMÁCIA POPULAR
No começo da tarde, em um segundo evento no Rio, Guedes recebeu um prêmio de personalidade do ano na área de comércio exterior. A homenagem partiu da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
O ministro repetiu no encontro trechos do discurso da manhã. Também aproveitou a oportunidade para dizer que o governo não vai cortar recursos do programa Farmácia Popular.
Uma eventual redução da verba para a iniciativa, a partir do Orçamento de 2023, gerou críticas a Bolsonaro nos últimos dias.
Guedes relatou ter recebido uma ligação do presidente sobre o assunto e prometeu encontrar recursos para o programa, que facilita o acesso a medicamentos para pessoas com renda mais baixa.
"Hoje mesmo estava uma confusão danada. Todo mundo falando: 'Vão cortar a Farmácia Popular'. Quem vai cortar? Não vão cortar", afirmou.
O ministro prometeu fazer um "encaixe" e encontrar verba para a iniciativa "dentro da responsabilidade fiscal".
"Vamos ter de encaixar isso, ou cortar outro programa, ou eles usarem RP9", disse Guedes em entrevista a jornalistas após o prêmio. RP9 é o termo usado para definir o repasse de verbas pelas emendas de relator.
PRIVATIZAÇÕES E TETO DE GASTOS
Na entrevista, Guedes adotou um discurso favorável às privatizações. As empresas públicas que poderiam ser vendidas em um segundo governo Bolsonaro dependeriam da decisão do presidente, disse o ministro.
"O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] tem ações de várias empresas, privadas e públicas. Se quiser vender essas empresas, pegar os recursos e distribuir uma parte para a população, um fundo de erradicação da pobreza, furo o teto. Não faz o menor sentido. O teto é para não deixar o estado crescer", disse.
O responsável pela área econômica ainda avaliou que essa medida de contenção de gastos precisa passar por "ajuste". Para Guedes, o teto foi "mal desenhado". "Esqueceram de fazer as paredes, que são as reformas. Esqueceram de quebrar o piso, que sobe."
Em linha com manifestações recentes de Bolsonaro, o ministro declarou que a América Latina "está desmanchando". A fala veio em referência à ascensão de governos ligados à esquerda.
"É muito difícil alguém fazer melhor do que estamos fazendo", disse.