Dólar dispara 2,4% e vai a R$ 5,37 com temor de recessão global

Por CLAYTON CASTELANI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar disparou ante o real nesta segunda-feira (26) e chegou a romper a barreira dos R$ 5,40 na cotação máxima do dia.

O dólar comercial à vista fechou em alta de 2,43%, cotado a R$ 5,3760 na venda. Essa foi a maior elevação da moeda americana em dois meses. Na máxima desta sessão, subiu mais de 3%, aos R$ 5,4170.

Com isso, o real teve o pior desempenho entre as principais moedas globais.

A taxa de câmbio voltou a refletir o ambiente mundial desfavorável ao crescimento das empresas e, consequentemente, de maior risco de desvalorização para as ações negociadas nas Bolsas de Valores.

É um momento em que o mercado prefere tirar dólares de investimentos mais arriscados para buscar proteção nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos que, além de seguros, estão ainda mais atraentes diante da perspectiva de continuidade do aumento dos juros no país. O movimento torna a moeda americana mais escassa e cara em outras partes do mundo.

Esse contexto não é novo. Na semana passada, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) confirmou a terceira elevação seguida de 0,75 ponto percentual no custo do crédito, sem dar sinais de que a batalha contra a inflação está perto do fim.

Nesta segunda, investidores ficaram ainda mais pessimistas após o Reino Unido anunciar no final da semana passada um plano que pode acelerar ainda mais a inflação na região, ameaçando o esforço global para controlar a alta mundial de preços.

"Essa disparada do dólar no Brasil está majoritariamente ligada ao movimento no exterior", afirmou Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.

A moeda americana avançou globalmente. O índice que compara o dólar com uma cesta de moedas das principais economias renovou a sua pontuação máxima desde 2002.

Com peso menor na avaliação do mercado, a chegada da última semana da campanha eleitoral no Brasil antes do primeiro turno também pode ter ampliado a percepção de investidores sobre os riscos domésticos. "Talvez por isso o real tenha caído um pouco mais [do que outras moedas]", diz Quartaroli.

LIBRA CAI AO MENOR NÍVEL DA HISTÓRIA

Na madrugada desta segunda, a libra esterlina caiu ao menor nível da história frente ao dólar, em reação ao maior pacote de corte de impostos em 50 anos, anunciado pelo novo ministro das Finanças do Reino Unido, Kwasi Kwarteng. Ao final do dia, a divisa britânica fechou valendo US$ 1,0681, renovando o seu menor valor desde 1985.

Kwarteng está tomando emprestado bilhões de libras para financiar o plano, podendo aquecer a economia no momento em que o Banco da Inglaterra aumenta as taxas de juros para controlar a inflação.

É como se a política monetária do banco central e a política fiscal do governo estivessem caminhando em direções opostas, explica Antonio van Moorsel, sócio da Acqua Vero Investimentos.

"As medidas visam impulsionar o consumo e reduzir as chances de uma recessão britânica. Todavia, o pacote contrata mais pressão inflacionária à frente, o que eleva os riscos de um aperto monetário [alta de juros] ainda mais agressivo do Banco da Inglaterra", disse Moorsel.

"O governo da Inglaterra declarou que vai aumentar gastos e reduzir impostos, uma receita que já vimos muito em mercados emergentes e que não dá certo", comentou Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group. "O mercado claramente penalizou a moeda britânica por isso."

Trata-se de um momento especialmente ruim para anunciar um pacote de aumento de gastos, já que o mundo todo tenta contar o processo de inflação global.

Nesta segunda, o pacote de gastos do governo britânico foi criticado pela autoridade monetária americana. Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, disse que "a reação [do mercado] ao plano proposto [pelo Reino Unido] é uma preocupação real".

"A questão-chave será o que isso significa para a enfraquecida economia europeia, o que é uma consideração importante para o desempenho da economia dos EUA", comentou Bostic.

Susan Collins, a nova presidente do Fed de Boston, disse que está comprometida em reduzir a inflação para 2%, mesmo que isso signifique desacelerar a economia dos Estados Unidos.

BOLSA DO BRASIL AFUNDA 2,33%

Nos mercados de ações, o índice brasileiro Ibovespa caiu 2,33%, aos 109.114 pontos, e teve um dos piores desempenhos entre as principais Bolsas de Valores.

Ações de diversos segmentos caíram de forma acentuada, com destaque para 3R Petroleum, Petz e Magazine Luiza, que caíram 6,83%, 6,63% e 6,26%, os três piores desempenhos do mercado local nesta sessão.

Apesar disso, o Ibovespa acumula ganhos na casa dos 4% neste ano, enquanto a maior parte dos mercados cai em 2022.

Analistas atribuem a resistência do Ibovespa à percepção de investidores de que a política monetária brasileira está obtendo sucesso no controle da inflação.

Na semana passada, o Banco Central do Brasil confirmou o fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros, embora o país ainda esteja longe de atingir suas metas de inflação. O BC manteve o patamar de 13,75% ao ano para a Selic.

Nos Estados Unidos, o indicador parâmetro para a Bolsa de Nova York caiu 1,03%. Com o resultado desta sessão, o S&P 500 acumula queda de 23,31% neste ano.

Na Europa, enquanto os principais mercados também fecharam em baixa, a Bolsa de Londres ficou perto da estabilidade, com ligeira alta de 0,03%.