Bolsas aprofundam perdas com retomada do temor de recessão

Por CLAYTON CASTELANI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mercados de ações ao redor do mundo caíram acentuadamente nesta quinta-feira (29) conforme investidores reduziam expectativas de que a intervenção do Banco da Inglaterra no mercado de títulos poderia ter um efeito duradouro na crise que há uma semana balança as finanças globais, já bastante abaladas neste ano por temores de que elevações de juros para frear a inflação provocarão uma recessão global.

No Brasil, além da pressão negativa do exterior, a proximidade do primeiro turno das eleições acrescentou preocupações e contribuiu com a alta do dólar frente ao real. Apesar disso, o mercado acionário doméstico terminou o dia perdendo menos do que o exterior.

O indicador parâmetro da Bolsa de Valores brasileira caiu 0,73%, aos 107.664 pontos. É a primeira vez que o Ibovespa fecha abaixo dos 108 mil pontos desde o início de agosto.

O dólar comercial subiu 0,80%, cotado a R$ 5,3930. Entre as principais moedas, o real ficou entre as poucas que recuaram contra o dólar nesta quinta.

Contratos de juros domésticos ficaram perto da estabilidade nesta quinta e, segundo analistas, isso sinaliza a boa recepção de investidores a declarações desta quarta-feira do presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. Ele falou sobre a expectativa de redução da taxa de juros do país a partir de junho de 2023, alinhado às projeções do mercado.

"Com o exterior pouco favorável, o Brasil mostra-se como excelente opção para o capital de risco na medida em que apresenta sinais de melhora da atividade econômica e arrefecimento da inflação", comentou Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora. "De qualquer maneira, os investidores devem seguir cautelosos com a aproximação da eleição", disse.

Nos Estados Unidos, o indicador Dow Jones caiu 1,54%. Esse índice acompanha as ações de 30 das maiores empresas da Bolsa de Nova York e sua queda anual acumulada em quase 20% é um sintoma do temor de investidores de que a política monetária de juros altos do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) conduzirá o país e o mundo a uma forte desaceleração econômica.

Parâmetro da Bolsa nova-iorquina, o índice S&P 500 tombou 2,11% nesta sessão. A Nasdaq, que concentra ações de empresas de tecnologia com grande potencial de crescimento, afundou 2,84%.

Na Europa, as Bolsas de Londres e de Frankfurt caíram 1,77% e 1,71%, respectivamente.

Na véspera, as principais Bolsas do planeta subiram após o anúncio do banco central inglês comunicar que compraria títulos do governo britânico em qualquer quantidade necessária para frear uma venda de títulos da dívida do Reino Unido que derrubou o valor da libra esterlina frente ao dólar nos últimos dias.

A crise que o Banco da Inglaterra tenta aplacar foi desencadeada por um plano de corte de impostos anunciado pelo governo britânico, cujo efeito esperado é aquecer a economia. O problema é que esse tipo de estímulo vai na contramão da agressiva elevação de juros adotada pelo banco central britânico para frear a inflação.

O alívio nesta quarta, após o anúncio do banco central britânico, fez o dólar cair e valorizou a libra e euro, que acumulam fortes quedas neste ano.

A libra teve a primeira alta após nove quedas consecutivas. Ainda assim, a perda acumulada neste ano em relação ao dólar é de quase 20%.

Rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos com vencimento em dez anos, referência para o mercado global de juros, subiram ligeiramente, para perto dos 3,8%, após terem recuado na véspera.

Isso mostra que investidores continuam a buscar a proteção do investimento mais seguro do mundo, como especialistas costumam se referir aos títulos soberanos dos EUA.