Bolsonaro reage a propostas de Ciro e Lula e lança programa para endividados
BRASÍLIA, DF - SÃO PAULO, SÃO PAULO (FOLHAPRESS) - Após sua campanha dizer no primeiro turno que não haveria propostas para perdoar dívidas das famílias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou nesta quinta-feira (6) um programa para perdoar dívidas das famílias.
Embora esteja sendo apresentado como um "lançamento" pela Caixa Econômica Federal, o programa Você no Azul da Caixa não é uma novidade (foi lançado em 2019). A proposta é renegociar débitos que pessoas e empresas tenham com a instituição financeira.
Segundo o candidato à reeleição, o programa poderá indultar até 90% das dívidas. O anúncio ocorre após seu principal concorrente à Presidência, o candidato, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já tinha um plano para endividados, aceitar considerar também a proposta de Ciro Gomes (PDT), cuja campanha tinha como carro-chefe a negociação de dívidas.
Bolsonaro fez o anúncio em reunião com deputados eleitos e em atividade da base aliada no Palácio da Alvorada. O presidente disse que o programa será apresentado oficialmente pela presidente da Caixa, Daniella Marques, na tarde desta quinta.
"Ela vai anunciar programa 'vá para o azul' [o nome correto é Você no Azul], programa que vai mexer com a vida de 4 milhões de pessoas que têm dívida na Caixa Econômica e 400 mil empresas também. Quem tem dívida vai para negociação, pode ser negociado em até 90%, além do programa para mulheres empreendedoras".
Conforme reportagem da Folha mostrou, Bolsonaro não tinha apresentado propostas para enfrentar o problema. No programa de governo protocolado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o candidato não menciona endividamento das famílias, inadimplência ou dívida dos lares.
NO PRIMEIRO TURNO, CAMPANHA DE BOLSONARO NÃO PROPUNHA AJUDAR ENDIVIDADOS
Bolsonaro não propunha um perdão, desconto ou refinanciamento de débitos contraídos. A aposta seria numa espécie de "ciclo da prosperidade", que começa com o aumento do emprego, levando a um aquecimento do consumo e maior arrecadação de impostos. Dentro desse modelo, as pessoas passariam a ter mais condições de quitar suas dívidas e menos necessidade de contraí-las.
Dos concorrentes no primeiro turno, apenas Ciro Gomes (PDT) e Lula tinham propostas para renegociar dívidas. No caso do petista, o plano do governo dizia que a ideia era fazer isso por meio dos bancos públicos e de incentivos para que as instituições privadas ofereçam condições adequadas aos devedores.
Recentemente, Lula ainda acatou a proposta de Ciro que prevê zerar dívidas do SPC. A incorporação do tema foi colocada como uma das condições para que o PDT apoiasse o candidato no segundo turno.
O "SPCiro", como ficou conhecido nas eleições de 2018, consiste num refinanciamento governamental dos débitos com taxas de juros menores e prazos mais longos de pagamento.
Embora a campanha Você no Azul da Caixa não seja uma novidade, o anúncio de uma nova rodada do programa por Bolsonaro a 24 dias do segundo turno sugere uma mudança de rota do candidato e uma busca por protagonismo a respeito de um tema central no atual cenário econômico marcado por juros altos e inflação.
Levantamento recente da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostra que as famílias brasileiras nunca estiveram tão endividadas quanto agora. O nível bateu recorde em agosto, atingindo 79% dos lares do país ?o maior patamar desde o início da pesquisa, em 2010.
AUXÍLIO BRASIL
Bolsonaro também considera o Auxílio Brasil uma política para amenizar o endividamento, tendo em vista que o pagamento não é cortado caso o beneficiário encontre um emprego formal ?que passaria a ter uma "renda extra".
No encontro desta quinta, o presidente disse ter conversado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e ficou acertado que haverá uma proposta legislativa para prever a taxação de lucros e dividendos para quem ganha mais de 400 mil reais como forma de manter o Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023.
O incremento do valor do programa, aprovado pelo Congresso na chamada PEC dos Benefícios, está previsto para vigorar até o final do ano e, se não houver uma mudança, voltaria a ser de R$ 400 em 2023.
Candidato à reeleição, que está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno do pleito, voltou a dizer que, apesar de críticas que chegou a receber e pressão por mudanças, ter mantido o ministro da Economia, Paulo Guedes, deu certo e destacou o que avalia como uma melhora no cenário econômico do país.
O presidente afirmou que o seu ministério vai continuar, se reeleito, mas talvez criará mais uma ou duas novas pastas.