Bolsa cai e dólar sobe após novo recorde de inflação nos EUA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um novo susto com a escalada da inflação nos Estados Unidos piorava os principais indicadores do mercado financeiro do Brasil nesta quinta-feira (13).
Por volta das 11h20, o Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, tombava 1,42%, aos 113.188 pontos. O índice doméstico acompanhava a queda de 1,48% do S&P 500, indicador parâmetro para a Bolsa de Nova York.
No mercado de câmbio doméstico, o dólar comercial à vista subia 0,64%, cotado a R$ 5,3050. No exterior, a moeda americana permanecia estável em relação às principais divisas estrangeiras.
A inflação nos Estados Unidos subiu acima do esperado e dados detalhados do relatório do índice revelaram que a alta de preços está resistindo à política de elevação de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). Isso pode significar crédito caro por mais tempo e prejuízo prolongado ao crescimento da economia mundial.
O índice de preços ao consumidor americano subiu 0,4% no mês passado depois de avanço de 0,1% em agosto, disse o governo dos EUA nesta quinta. O mercado esperava uma alta de 0,2%.
Nos 12 meses até setembro, o índice teve alta de 8,2%, depois de ter subido 8,3% em agosto. Na base anual, o índice atingiu um pico de 9,1% em junho, que foi o maior avanço desde novembro de 1981.
O dado mais preocupante, porém, é o chamado núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis, como energia e alimentos.
Esse indicador ganhou 6,6% em setembro, em relação ao ano anterior, acelerando de 6,3% em agosto e marcando o maior aumento desde agosto de 1982, destacou a manchete do site do The Wall Street Journal .
Na comparação com o mês anterior, o núcleo do índice subiu 0,6% em setembro, o mesmo que em agosto.
"O aspecto chave do comunicado de hoje é o aumento contínuo do núcleo da inflação, que atingiu uma nova alta: continua sendo a parte pegajosa do índice e a principal dor de cabeça dos bancos centrais", disse Willem Sels, diretor global de investimentos privados do HSBC, em entrevista ao Financial Times.
Na véspera, o temor de um cenário de alta ainda mais agressiva dos juros já tinha levado os mercados de ações em Wall Street a fecharem em queda, enquanto o dólar teve ligeira valorização contra as principais moedas. Na Bolsa brasileira não houve negociações devido ao feriado do Dia da Padroeira.
Divulgada nesta quarta (12), a ata da última reunião do Fomc, o comitê de mercado aberto do Fed, já afirmava que autoridades responsáveis pela política de controle da inflação nos Estados Unidos consideram que é necessário continuar subindo juros para frear a escalada dos preços.
Na reunião do mês passado, o Fed elevou a taxa de juros em 0,75 ponto percentual pela terceira vez seguida, no esforço para reduzir a maior inflação dos últimos 40 anos.
Projeções do Fomc divulgadas com a ata mostram que a taxa básica de juros, atualmente na faixa de 3% a 3,25%, subirá para a faixa de 4,25% a 4,50% até o final deste ano.
"É um patamar muito elevado para uma economia do tamanho da americana", comentou Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos.
Lelis diz que indicadores da economia americana apontam que o Fed está apenas na metade do caminho do aperto das taxas de juros.
Ele explica que existem alguns dados que mostram o início dos efeitos de um ciclo de elevação dos juros, entre os quais está a desaceleração da atividade industrial, que já teve início e denota que o aperto monetário está começando a esfriar a economia.
Mas ainda não há efeito nos indicadores que mostram a situação de meio de ciclo da política de alta dos juros, como é o caso da criação de vagas de trabalho.
Um dos problemas da economia americana é a forte geração de empregos, por mais contraditório que isso possa parecer.
Com uma oferta de quase duas vagas para cada pessoa à procura de trabalho, os salários melhoram e colocam mais dinheiro em circulação na economia. Isso naturalmente estimula a elevação dos preços ao consumidor.
Na semana passada, o governo americano relatou sólido crescimento dos postos de trabalho em setembro, com a taxa de desemprego caindo a 3,5%, contra 3,7% em agosto.