Compra do Twitter por Musk tem semana decisiva
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Nesta semana, a novela que envolve a compra do Twitter pelo bilionário Elon Musk, chefe-executivo da Tesla e da SpaceX, deve ter um momento decisivo. Musk tem até sexta (28) para concluir a compra e, se não o fizer, deve enfrentar julgamento em ação movida pela rede social, após a desistência do empresário na aquisição da rede.
O imbróglio entre Musk e o Twitter se arrasta há meses e envolve acusações mútuas de quebra do contrato de compra. No momento, porém, ao que tudo indica, Musk corre para tentar fechar a compra, que teria como possível consequência um grande número de demissões na empresa.
Agora, especula-se que até mesmo o governo dos Estados Unidos estaria interessado na dissolução do negócio, caso ele seja de fato concretizado, por acreditar que possa haver ameaça à segurança nacional. O bilionário e a rede social chegaram a um acordo de compra avaliado em US$ 44 bilhões (R$ 234 bilhões) em abril, mas Musk desistiu da aquisição pouco depois, dizendo que o Twitter não cumpriu o combinado ao não informar o número de bots (ou seja, perfis que não são operados por pessoas de verdade) ativos na plataforma.
A rede social, por sua vez, viu nisso uma desculpa do empresário para não cumprir o que havia sido acordado e o acionou na Justiça dos EUA.
FLERTE
Diferentemente de outros bilionários de renome, Elon Musk gosta bastante de manifestar suas opiniões em público, e seu uso do Twitter como simples frequentador tem sido constante nos últimos anos. Ele tem 109 milhões de seguidores na plataforma e, após anos de flerte com a possibilidade de comprar a rede social, ele finalmente resolveu se aproximar dela em abril deste ano.
No início daquele mês, comprou 9,2% das suas ações, tornando-se o maior investidor da rede. Após sofrer críticas do público sobre uma possível interferência na rede social, ele decidiu fazer a oferta de US$ 44 bilhões para fechar o capital da companhia e tornar-se seu único dono.
Numa entrevista, disse que sua meta era fazer da rede social "uma plataforma para a liberdade de expressão" no globo. Para isso, segundo ele, seria necessário remover todos os bots (robôs ou usuários com comportamento robotizado) e autenticar todos os frequentadores humanos da rede.
ROMPIMENTO
No início de maio, contudo, Musk voltou atrás e disse que o negócio estava "pausado" até que ele pudesse confirmar que menos de 5% dos frequentadores do Twitter eram bots, como a empresa alegava.
O bilionário disse que ia solicitar uma auditoria própria desses dados e, quando Parag Agrawal, atual chefe-executivo do Twitter, postou uma longa explicação na rede social sobre como auditorias externas eram "impraticáveis", Musk respondeu apenas com um emoji de cocô.
Enquanto o valor das ações do Twitter caía como consequência dessa situação, o empresário afirmou inclusive que a rede social deveria ser investigada pela SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA). O Twitter, por sua vez, disse que ia forçar Musk a cumprir o combinado, nem que para isso precisasse acionar a Justiça.
Foi o que ocorreu no início de julho, quando o bilionário anunciou que estava retirando a proposta da mesa.
A empresa então respondeu com uma ação no Estado americano de Delaware, buscando a conclusão do negócio. Até o emoji de cocô foi usado como prova contra Musk.
DELATOR
Enquanto as equipes legais de cada um dos lados montavam suas argumentações, a imprensa americana revelou em agosto uma série de acusações feitas a autoridades americanas por Peiter Zatko, ex-chefe de segurança do Twitter, contra a empresa. Zatko dizia que os principais executivos da companhia haviam mentido e passado informações incompletas aos órgãos reguladores dos EUA sobre questões de privacidade, segurança e moderação de conteúdo na rede.
Os advogados do bilionário usaram as acusações de Zatko como mais uma prova de que o Twitter não tinha real intenção de mostrar o número de bots na plataforma, o que seria uma quebra do acordo feito.
TENTATIVA DE REATAR
No início de outubro, com o julgamento cada vez mais próximo, começaram a surgir rumores de que Elon Musk achava que estava gastando muito dinheiro se defendendo e que preferia concluir de vez o negócio.
Para isso, o Twitter teria de renunciar à sua ação na Justiça.
Mas o Estado de Delaware afirmou que não havia sido informado em detalhes e dentro do prazo sobre esse acerto e, por isso, manteria o início do julgamento para a próxima sexta-feira. Dessa forma, restam poucos dias para uma resolução que ocorra fora da esfera judicial.
O QUE ESPERAR
Com um prazo cada vez mais apertado, surgiram novos relatos de como seria o Twitter sob o comando de Musk.
O jornal americano The Washington Post, por exemplo, afirmou que Musk cortará 75% do pessoal da empresa, fazendo com que sobrem apenas cerca de 2.000 funcionários na equipe. No entanto, de acordo com o jornal, já havia planos na própria empresa de reduzir o pessoal antes mesmo da compra.
Por isso, faria sentido que os executivos da rede social estejam ansiosos em vendê-la para Musk, já que a empresa estaria perdendo dinheiro com seu tamanho atual.
Segundo analistas ouvidos pelo Washington Post, o impacto das demissões, caso elas de fato ocorram, será sentido rapidamente pelos milhões de frequentadores do Twitter ao redor do planeta.
Entre os problemas que isso pode gerar, foram citados a instabilidade dos servidores da rede, a falta de segurança e a queda na moderação de conteúdo, levando os frequentadores a ficarem expostos a mensagens e imagens que são obviamente proibidas no Twitter atual, como pornografia infantil, por exemplo.
Outra novidade que pode estar por vir é o envolvimento do governo dos EUA no assunto, caso o negócio se concretize. Segundo a Bloomberg, a ajuda de investidores estrangeiros no financiamento da compra, como um príncipe saudita, um fundo de investimento do Catar e uma empresa fundada por um empresário chinês, tem preocupado o presidente Joe Biden.
As autoridades americanas estão estudando maneiras de revisar em detalhes o acordo, como, por exemplo, acionar o Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA. Por meio desse órgão, seria possível estudar a aquisição e ver se há riscos que possam ser considerados ameaças à segurança nacional do país. Em última instância, o comitê pode pedir ao presidente que anule a aquisição.