Robôs fazem o trabalho pesado em fábrica de motores para caminhões elétricos
TURIM, ITÁLIA - (FOLHAPRESS) - Antes das máquinas, o jardim. A visita à primeira fábrica italiana dedicada à produção de motores para veículos comerciais elétricos começa em um espaço anexo à linha de montagem, em que um pé de romã se destaca. Há banquetas feitas de pallets reciclados, arbustos e sombras, parece uma área de piquenique.
No galpão ao lado, braços robóticos erguem eixos e baterias que pesam centenas de quilos. Os operários que comandam as operações foram recrutados pela FPT Industrial ePowertrain em universidades e cursos técnicos e são mão de obra altamente especializada. A maioria dos 200 trabalhadores aparenta ter não mais que 30 anos de idade.
A relação entre jardim, juventude e maquinário é direta: a empresa, que faz parte do Iveco Group, quer se mostrar apta a uma nova era, em que tanto as fábricas como seus produtos são "carbono zero".
O discurso de promoção da qualidade de vida de funcionários e clientes torna-se mais importante quando o público-alvo tem CNPJ e se preocupa em reduzir suas emissões.
O resultado do trabalho aparece em componentes que farão parte de veículos comerciais leves e pesados de diferentes montadoras. Todos movidos a eletricidade.
São itens como o eixo incorporado ao motor elétrico do Nikola Tre Class 8, um dos primeiros componentes a sair da nova fábrica, localizada em Turim, na Itália. Parece algo simples quando comparado aos conjuntos tradicionais movidos a diesel, mas é um sinal dos tempos.
A potência pode ultrapassar os 1.000 cv, mas o veículo pesado que é produzido em Coolidge (Arizona, EUA) tem aproximadamente 650 cv. A depender do pacote de baterias utilizado, a autonomia pode passar de 500 quilômetros com uma carga.
Essas baterias também cruzam o oceano rumo aos Estados Unidos: parte da fábrica italiana se dedica à montagem e aos testes de acumuladores. Ao todo, são 15 mil m² divididos em duas linhas para produção de sistemas para comerciais leves, e mais a linha de componentes elétricos para os caminhões.
Há capacidade para produzir 20 mil eixos elétricos e igual número de pacotes de baterias por ano. A realidade virtual é combinada a vídeos com instruções de montagem dos componentes, redundância necessária para minimizar os riscos de erros e consequente retrabalho.
Uma das diferenças para as fábricas convencionais está na iluminação. As instalações aproveitam melhor a luz solar, além de usar LEDs para maior eficiência energética. É uma característica de plantas modernas, que contrastam com os galpões vetustos do século 20.
Carrinhos autônomos transportam peças e ferramentas pelos corredores, poupando esforços dos funcionários. Alguns braços robóticos são comandados por joysticks e se movem com delicadeza; peças que pesam mais de 100 quilos são acopladas a outras sem que o encaixe emita ruído.
O silêncio é mais uma característica da fábrica de Turim, tanto pela natureza do trabalho -não há as barulhentas alas com prensas de estamparia das fábricas de automóveis- como pela modernidade dos equipamentos.
Sylvain Blaise, presidente da unidade de negócios de powertrain do Iveco Group, acompanhou toda a visita. Pouco antes do tour pela linha de montagem, ele destacou a meta da empresa: neutralizar o carbono emitido nas operações até 2040, o que significa antecipar em dez anos a meta estipulada pelo Acordo de Paris.
Essa ambição é passada aos funcionários, muitos em seu primeiro emprego. Nota-se o engajamento desses trabalhadores, que passaram por treinamento não só para aprender a lidar com robôs, mas também para entender como funciona a agenda ESG nessa nova revolução industrial.
Após algumas horas na linha de produção de componentes para veículos elétricos, tem-se a impressão de estar diante do único caminho. Mas a própria FPT Industrial mostra que não é bem assim ao apresentar sua área de testes e desenvolvimento de motores a combustão.
O diesel segue presente e dominante, mas acompanhado de biometano e outras alternativas de menor impacto ambiental. Há produtos impressionantes, como o motor V8 de 20 litros que equipa máquinas agrícolas.
No momento, contudo, a preocupação não é apenas com emissões. "É um momento difícil, temos a Guerra da Ucrânia e a elevação dos custos dos componentes", disse Stefano Lo Russo, prefeito de Turim, durante o encontro que antecedeu a visita. "É um sinal de coragem investir dessa forma em um cenário que está mudando rapidamente."