Na economia, Lula bate Bolsonaro, mas presidente estabilizou dívida pública

Por FERNANDO CANZIAN

FERNANDO CANZIAN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Comparação entre indicadores na economia nos governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) mostra que o petista se saiu melhor em praticamente todas as áreas.

A seu desfavor, Bolsonaro enfrentou a pandemia da Covid e a guerra na Ucrânia. Mas Lula atravessou, ao final de seu governo, em 2008-2010, a maior turbulência internacional desde a Grande Depressão (1929), quando se deu a crise norte-americana do subprime, ocasionando o colapso do crédito bancário e uma recessão global.

Muitos atribuem o bom desempenho do governo Lula a um superciclo de alta dos preços das commodities que o Brasil exporta, o que teria levado o país a receber mais dólares e ficar proporcionalmente mais rico. Mas Bolsonaro também atravessa um período de disparada dos preços internacionais de produtos básicos.

A diferença é que, desta vez, por questões relacionadas à desconfiança política e institucional gerada por Bolsonaro, o Brasil acabou não se beneficiando tanto dessa conjuntura.

Nos anos 2000 e até 2013, o Brasil também manteve as contas públicas ajustadas, com superávits primários anuais para pagar juros da dívida pública, o que reduziu o endividamento estatal.

Com menos risco de insolvência, o país atraiu bilhões de dólares em investimentos, pressionando para baixo a cotação da moeda americana.

Hoje, diante de riscos institucionais e fiscais, muitos exportadores têm evitado internalizar dólares que recebem nas vendas externas. Ao mantê-los fora do país, o preço da moeda norte-americana não cede tanto como ocorreu no governo Lula ?prejudicando inclusive o combate à inflação, pois muitos bens e serviços são dolarizados.

Indicadores como vendas no varejo, valorização da Bolsa, variação de dólar e juros, inflação, evolução da dívida pública e da desigualdade avançaram mais sob Lula do que com Bolsonaro.

Os dados são de fontes oficiais, como Ipeadata (do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vinculado ao Ministério da Economia), Banco Central, FMI e IBGE, entre outros, supervisionados por Marcos Hecksher, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE (Ence/IBGE).

Quando Lula assumiu, em 2003, o Brasil ocupava a 13ª posição entre as maiores economias do mundo, segundo ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI), que calcula o PIB dos países em dólares. Ao deixar a Presidência, no fim de 2010, o país havia subido à 7ª posição.

Com Bolsonaro, o Brasil saiu do 9º lugar, em 2018, para voltar ao 13º, em 2021. Com o crescimento projetado para este ano, estimado em 2,8% pelo FMI, é provável que o país encerre 2022 em posição mais favorável.

Para Hecksher, da Ence/IBGE, os dados mostram que parece infudado o temor de que a economia possa entrar em retrocesso em eventual vitória de Lula no domingo (30).

"Os dois presidentes enfrentaram crises importantes, que afetaram o Brasil e os demais países. Mas os resultados mostram que Lula se saiu melhor na condução da economia nesses períodos."

José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, diz que, se Lula não fez reformas estruturais importantes em seu governo (como a tributária e a administrativa), Bolsonaro também não.

"A reforma da Previdência aprovada no atual governo [em 2019] veio pronta da equipe de Michel Temer [2016-2018], assim como o encaminhamento para a aprovação do Novo Marco Legal do Saneamento [2020]", afirma.

Ao não conceder reajustes ao funcionalismo público em seu mandato, diminuindo a diferença salarial no setor público em relação ao privado (estimada em +67% pelo Banco Mundial), Bolsonaro reduziu a despesa nessa área ?a segunda maior do governo federal, atrás da Previdência.

"Mas o ideal teria sido aprovar uma reforma administrativa, para reorganizar remunerações e carreiras na administração pública. Não um congelamento linear, sem considerar áreas mais ou menos produtivas", diz Gonçalves.

Nas privatizações e concessões, Bolsonaro avançou, como na remodelagem de licitações que deram errado no governo Dilma (2011-2016). Também privatizou a BR Distribuidora, a Transportadora Associada de Gás e a refinaria Landulpho Alves, além de ter diluído o capital da Eletrobras.

No governo Lula, também houve avanços. Como nos leilões para construção das usinas de Santo Antônio e Jirau e as concessões das rodovias Régis Bittencourt e Fernão Dias, entre outras.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a grande questão, em caso de vitória de Lula, é se o ex-presidente fará um governo mais parecido com o de seu primeiro mandato ou com o segundo, quando começou a semear problemas que se agravariam no governo Dilma.

"Lula foi beneficiado, no início de seu governo [2003], por um ciclo de crescimento mundial sincronizado, que terminaria em 2008/2009, com a crise financeira global. Foi quando começou a relaxar na parte fiscal", diz Vale.

"Desta vez, caso eleito, assumirá com o mundo na direção oposta, com muitos países esfriando para combater a inflação, o que tornará sua vida mais difícil, especialmente na questão fiscal."

Lançado por Lula na quinta (27), a "Carta para o Brasil do Amanhã" promete responsabilidade fiscal, mas tem uma série de itens que remetem ao seu segundo mandato e à administração Dilma, como um papel mais ativo do BNDES.

Já no governo Bolsonaro, apesar de gastos públicos elevados na pandemia e, agora, no período eleitoral (furando inclusive o teto de gastos constitucional), há superávit fiscal de R$ 33,8 bilhões no acumulado até setembro de 2022 ?o maior para o período desde 2013, descontada a inflação.

O fato sinaliza estabilização da relação dívida/PIB, algo extremamente positivo e fundamental para a solvência do país, que havia deteriorado significativamente durante o governo Dilma.

Fora dos temas econômicos, Vale diz esperar que, em caso de vitória de Lula, haja reversão na questão da devastação do meio ambiente. Tema que, no futuro, pode prejudicar o brilhantismo do Brasil no agronegócio.

Na segurança, área de interesse de Bolsonaro, mas de responsabilidade dos estados, não houve melhora nos indicadores de assassinatos e mortes violentas por policiais a cada 100 mil habitantes no atual governo. Os dados mostram redução significativa antes, no governo Temer.